VASCO PRADO e a sua
CIRCUNSTÂNCIA.
“Eu sou
eu e minha circunstância, se eu não salvo a ela, não salvo a mim"
José
Ortega y Gasset
A obra de Vasco Prado é
competente para circular e ser recebida em qualquer centro civilizado. Esta
obra salva as circunstâncias da sua origem pois ela fala por si mesma e não
necessita tradução, mediador ou explicação para uma cultura elevada
Fig.
01 – A obra de VASCO PRADO colocada
no espaço público de CARAZINHO Constitui um dos múltiplos arquétipos tridimensionais competentes para carregar -
no seu mínimo da forma - o máximo das
circunstâncias nas quais o seu autor viveu. O seu abandono
é um dos índices da cultura sul-rio-grandense intelectualmente incipiente, estreita, fechada sobre si mesma e mergulhada
na proximidade avassaladora da Natureza.
.
Toda criança, com um mínimo de
sensibilidade e de interesse, põe-se a modelar e rabiscar ao modo deste
universo estético de VASCO PRADO. Evidente este ser jovem está muito distante
de compreender o esforço empreendido por este escultor e desenhista adulto para
simplificar esta ação. Ação pela qual
retorna conscientemente ao universo estético no qual todos sentem-se a vontade e recompensados.
Fig. 02 – O pensamento de VASCO PRADO - aliado ao seu
cálculo, sua mão, lápis e papel - se conjuga para criar projetos e contratos
que se materializaram em pesadas e onerosas obras escultóricas tridimensionais. O artista não possui o direito de pedir
desculpas por um erro ou malogro neste
processo. Supõe-se que ele realiza este processo em plena autonomia de sua
vontade e total liberdade para que sua obra
receba sua assinatura pessoal.
Vasco Prado foi o escultor que simplificou conscientemente a forma até
atingir o esplendor dos arquétipos plásticos universais da humanidade.
Desenhista competente para reduzir a linha ao traço primordial de quem se
apropriar das superfícies e nela marca a essência da sua vontade, inteligência
e sensibilidade.
Porém este não é o caso da cultura sul-rio-grandense como um todo.
Esta cultura ainda é intelectualmente incipiente, estreita e fechada sobre si mesma.
Circunstâncias que impedem desenvolver
um projeto, um projeto consensual ou um pacto coletivo legível internamente e
externamente. A cultura sul-rio-grandense, mergulhada nesta estreiteza e na proximidade
da Natureza, é vitima constante da primeira ideologia que se fixa com verdade
absoluta, eterna e sem contraditório possível.
Fig. 03 – Toda obra que ser de arte - como a de VASCO PRADO - pertence ao mundo da
expressão. Na sua transposição do mundo da comunicação e múltipla leitura, no
mínimo, é necessário conjugar três eixos vetoriais. Necessita de uma leitura no TEMPO no
qual possui um começo, meio e fim. Supõe um OBSERVADOR que flutua ao longo da linha de tempo.
Materializa-se num LUGAR físico do qual recebe e se apropria do repertório,
assimila, transforma e devolve materialmente para os sentidos humanos.
[Clique
sobre o gráfico para poder ler]
Esta obra concebida apenas na ATUALIZAÇÕES de sua INTELIGÊNCIA tomba na
primeira mudança do vento da moda. Assim não é capaz de exibir sinais evidentes
da CONTRAPARTIDA da LIBERDADE de PESQUISA ESTÉTICA, INTELECTUAL e POLÍTICA. A heteronímia
- da INTELIGÊNCIA da VONTADE e da SENSIBILIDADE- lhe parece natural e preço da ORDEM da paz do
cemitério e do PROGRESSO unívoco e
linear.
Na obra das criações singulares,
como as de VASCO PRADO, impõe-se
a busca índices seguros de uma PESQUISA
ESTÉTICA autêntica e nas circunstâncias da liberdade e autonomia de sua
vontade. Índices seguros da PESQUISA ESTÉTICA na obra de Vasco Prado estão nas
circunstâncias nas quais esta se plasmou, ganhou forma, lhe conferem um sentido
que ultrapassa o TEMPO, o LUGAR e a SOCIEDADE de sua origem. Não é possível
negar que os seus contemporâneos de VASCO PRADO sempre souberam estimar este
projeto de autonomia e liberdade expressa na obra. Assim não teve sombra de contraditório e nem
provocou intrigas gratuitas e descabidas.
Pode-se argumentar que esta falta de intriga, de um contraditório
vociferante e de escândalos gratuitos foi arduamente administrado por este
escultor que só falava quando questionado, diante de questões bem objetivas e
atinentes ao se projeto. Aprendera com Aristóteles “Não se deve argumentar com
todo mundo, nem praticar argumentação com o homem da rua, pois há gente com
quem toda discussão tem por força que degenerar” Aristóteles –Tópicos – [Penúltimo aforismo][1]. Que Sigmund Freud resumiu “O homem é dono do que cala, o escravo, do
que fala”[2]
Certamente, apesar de todo a sua força e coerência, esta obra já está no passado junto ao seu autor.
Permaneceu o seu pensamento materializado no traço, nos seus arquétipos
tridimensionais competentes para carregar - no seu mínimo da forma - o máximo das circunstâncias nas quais o seu
autor viveu.
Circunstâncias determinantes da cultura e da arte sul-rio-grandense.
Aqui inicia o problema. Problema para a sua circulação e recepção em outras
culturas além das fronteiras do Rio Grande do Sul. Nenhuma andorinha faz o verão
e nenhum artista é uma cultura autônoma, livre e desprendido das suas
circunstâncias.
[1] - Aristóteles http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2300
Fig. 04 – A obra monumental de VASCO PRADO pontilha e
dialoga com o espaço publico de várias
partes do estado do Rio Grande do Sul . A
sua obra - dedicada à parede sul do PALÁCIO FARROUPILHA da capital - ganha
esplendor e forma plena no solstício de verão de cada ano.
Invertendo esta relação, nenhum crítico, memorialista ou comunicador
se interessa por um arista ou obra se ela não é coerente com as circunstâncias
de sua origem.
Não cabe a Vasco Prado, aos seus prosélitos ou seus defensores “EXPORTAR”
esta obra para outras culturas e civilizações. Não existe “EXPORTAÇÃO” justa e
coerente quando esta operação está carente sem as circunstâncias de liberdade e de autonomia do sistema
no qual este artista viveu e se expressou. Só a pessoa LIVRE e na AUTONOMIA
pode celebrar contratos dignos deste nome. Carentes, desta LIBERDADE e
AUTONOMIA, estamos a mercê da escravidão, da pilhagem e do colonialismo.
Fig. 05 – Ruben BERTA (1907-1966)[1]
recebeu uma digna homenagem de VASCO
PRADO que plasmou neste busto a
fisionomia deste poderoso capitão da VARIG, logo após o desaparecimento e colocada no espaço publico frente as
oficinas desta empresa na capital do estado
. Empresa, dirigente e arista
coerentes com a ERA INDUSTRIAL cuja entropia e obsolescência programada
preservam apenas o pensamento que orientou os seus projetos.
Nenhum cidadão, artista ou
político possui direito de cultivar a liberdade na heteronomia colonial e
servil. Este sistema colonial aniquila e descarta, do seu ambiente, toda e qualquer estética própria ou ideologia
digna deste nome. Uma cultura, uma nação um estado - submetidos ao regime
dependência - aniquila a vontade, a
inteligência e a sensibilidade do seu cidadão. Não basta que estes cidadãos
sejam criativos, inteligentes e ativos. O sistema no qual pensam, agem e sentem
necessita ser verdadeiro, justo e belo
Fig. 06– Figuras centrais do relevo negativo que VASCO PRADO
imprimiu no concreto do mural do VIADUTO LOURERO da SILVA[1]
de Porto Alegre. Nesta obra publica o autor resume a gramatica icônica. O homem, a mulher e a criança num
cenário plano no qual se movem alguns cavaleiros, no meio de uma vegetação mínima,
as ondas nas quais o veleiro ruma ao
perfil da cidade comandado pelo decantado
“por do sol” sobre o Guaíba .
Necessita-se admitir que a obra de VASCO PRADO PERTENÇA ao passado.
Porém no edifício da civilização do Rio Grande do Sul esta obra e pensamento
são sólidas pedras de fundamento e que ninguém contesta. Trata-se de conferir
um projeto civilizatório, digno e coerente a este prédio artificial. Sabe-se
que a entropia, o caos e decadência são inerentes a todas as construções
humanas. Não é diferente para a civilização do Rio Grande do Sul.
[1] Ver mural completo do Viaduto LOUREIRO da SILVA em http://mubevirtual.com.br/pt_br?Dados&area=ver&id=497
Fig. 07 – O
desenho do casal para relevo negativo que
VASCO PRADO do mural do VIADUTO LOURERO da SILVA de Porto Alegre. O tema do homem, da mulher e da criança é
central no repertório visual deste escultor sul-rio-grandense.
Porém a obra de arte se distingue nisto. Esta obra de arte é
competente para continuar o seu trânsito pelo mundo simbólico
em outras culturas e civilizações transportando - como um documento - um fractal da origem de sua cultura. Razão do
seu prestígio, de seu valor e motivo de sua preservação do TEMPO.
Foto: ZERO
HORA- Porto Alegre
Fig. 08 – A obra e o pensamento de VASCO PRADO encontrou nos seus discípulos e
jovens prosélitos a vitalidade para se projetar para além do seu TEMPO, LUGAR e
SOCIEDADE . Reprodução do pensamento
e do projeto do mestre presente e ativa em associações, iniciativas e obras como aqueles corporificados na AEERGS[1]
Em conclusão e necessário admitir que a obra de Vasco Prado é um signo
potencial de um projeto sul-rio-grandense de elevado sentido unificador e
universalização de um projeto regional. No contraditório é importante
perguntar-se se ¿este projeto não é personalista, extemporâneo desta cultura, do seu
poder originário e do seu tempo?.
O que se evidencia que - grande parte deste projeto regional
sul-rio-grandense - está a mercê da ATUALIZAÇÕES de sua INTELIGÊNCIA e na sua
heteronímia. Na dúvida se continua a buscar
evidenciar sinais da CONTRAPARTIDA da PESQUISA ESTÁTICA, INTELECTUAL e POLÍTICA. PESQUISA que lhe conferem
índices evidentes de LIBERDADE estética e de
AUTONOMIA da vontade.
ALGUMAS FONTES BIBLIOGRÁFICAS para ampliar a pesquisa relativas a
VASCO PRADO
ALVES de Almeida,
José Francisco (1964). A Escultura
pública de Porto Alegre – História, contexto e significado – Porto Alegre:
Artfólio, 2004 246 p. ( pp.. 37,. 173.
175. 177, 178 e 239)
AMARAL, Paulo. Vasco Prado: a escultura em traço. Porto Alegre: EST edições,
2015 108 p. ISBN 978-85-68569-10-8
AQUINO, Alfredo.-
Acrólito: um segredo do escultor in PRESTES, Cézar Vasco Prado:
escultor- Porto Alegre: Cézar
Prestes Produtor Cultural, 2001,
pp.58-60 il + CD
ARAUJO, Virgínia Gil Monumentos públicos: a escultura de
Vasco Prado e Carlos Tenius. Rio Grande do Sul / anos 70 – Porto Alegre:
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Dissertação de
Mestrado 1995, 276 fl il
BORNHEIM, Gerd A.(1929-2002)- Vasco Prado: a escultura e suas medias in PRESTES, Cézar Vasco Prado: escultor- Porto
Alegre: Cézar Prestes Produtor Cultural, 2001,
pp.17- 27 il + CD
CARVALHO, Ana Maria Albani de Forma e matéria In Vasco
Prado. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura 1 Cadernos Ponto&
Vírgula vol. 07 994, pp.28-36 il.
CUNHA, Eduardo Figueiredo Vieira da. VASCO
PRADO: um foco de luz in Voto, politica e negócio; Porto Alegre Vol. 10, nº 110 abr. 2014 pp.72-73 il.
DUPRAT, Andreia Carolina Duarte – Revista Horizonte (1949-1956) imagem, imprensa e questões
políticas. Orientação de Paula Ramos. Porto Alegre IA-UFRGS 2013 243 p.
Galeria São Paulo VASCO PRADO São Paulo:
Galeria São Paulo vol. 04, nº 18 -
fev.mar 1990. Pp. 56-62 il.
GONÇALVES Flávio A disciplina do deslocamento in
Projeto Percurso do Artista 2010: Nico Rocha/ catálogo da exposição organizada
pelo Departamento de Difusão Cultural da UFRGS: artista Luiz Antônio Carvalho
da Rocha. Porto Alegre: UFRGS 2011, pp.15-43 ir
IOCHPE, Evelyn Berg. Vasco Prado 70 anos. Porto Alegre:
50 anos MARGS 1954-2004 -Selecta do Museu organizada por Cida GOLIN e Francisco MARSHALL - 2005 -3 v.
(188 p.P
KERN, Maria Lúcia Bastos A utopia e o ofício da gravura
In Vasco Prado. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura 1 Cadernos
Ponto& Vírgula vol. 07 994, pp.57-64
il.
MOTTER, Talitha Bueno Gravura,
figuração política: a obra de Carlos Scliar junto ao Clube de Gravura de Porto
Alegre. Orientação Blanca Knaack. Porto Alegre ; IA-UFRGS 2013, 236 p. il
MUSEU de ARTE do RIO GRANDE do Sul (MARGS) Vasco
Prado. Porto Alegre: MARGS – Companhia Iochpe Participações, 1984 84 p.
il
PRESTES, Cézar Vasco
Prado: escultor- Porto Alegre:
Cézar Prestes Produtor Cultural, 2001, 141 p. il + CD
Projeto Percurso do Artista 2010: Nico
Rocha/ catálogo da exposição organizada pelo Departamento de Difusão Cultural
da UFRGS: artista Luiz Antônio Carvalho da Rocha. Porto Alegre: UFRGS 2011, 188
p. il. color
MASINA, Lea Sílvia dos Santos - A geração de 30 no Rio Grande do Sul: literatura e artes plásticas:
Vasco Prado por ele mesmo- Porto Alegre: UFRGS 2.000 - 281 p. ISBN 8570255721
MUSEU de ARTE do RIO GRANDE do Sul (MARGS) Vasco
Prado: exposição Espaço Cultural
dos Correios – RJ 14.10-15.11. 1998 MARGS 24.11-20.12.1998. Porto Alegre:
MARGS –1998 29 p. il
RAMOS, Paula- O
domínio do desenho, in Cézar Vasco Prado: escultor- Porto Alegre: Cézar Prestes Produtor
Cultural, 2001, pp.96- 100 il + CD
ROCHA Nico Sobre processo e pensamento in
Projeto Percurso do Artista 2010: Nico Rocha/ catálogo da exposição organizada
pelo Departamento de Difusão Cultural da UFRGS: artista Luiz Antônio Carvalho
da Rocha. Porto Alegre: UFRGS 2011, pp.45-83 ir
SECRETARIA MUNICIPAL de CULTURA – VASCO
PRADO - Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura - Cadernos
Ponto& Vírgula vol. 07 1994, 102 p
il.
ZIELINSKY, Mônica – As trajetórias de Vasco Prado In
Vasco Prado. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura Cadernos Ponto&
Vírgula vol. 07 1994, pp.65-77 il.
FONTES
NUMÉRICAS DIGITAIS
Aristóteles Tópicos: tratado de Retórica
CARAZINHO:
VASCO PRADO e o ESPAÇO do BOMBEADOR
ESCULTORES do RIO GRANDE do SUL SABEM FAZER a SUA HORA
Eu sou
eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim.”―José Ortega y Gasset
Frases - http://kdfrases.com
FRANCISCO de HOLANDA e MIGUEL ÂNGELO
Mural do Viaduto LOUREIRO da SILVA
RUBEN
BERTA
Sigmund
FREUD e o sentido da fala
VASCO PRADO
-1914-1998
Este material possui uso
restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou
de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários
Este material é editado e
divulgado em língua nacional brasileira e respeita a formação histórica deste
idioma.
ASSISTÊNCIA
TÉCNICA e DIGITAL de CÍRIO JOSÉ SIMON
Referências
para Círio SIMON
E-MAIL
SITE desde
2008
FACE- BOOK
BLOG de ARTE
BLOG de
FAMÌLIA
BLOG CORREIO BRAZILENSE 1808-1822
BLOG PODER
ORIGINÁRIO 01
BLOG PODER
ORIGINÁRIO 02 ARQUIVO
VÌDEO
Nenhum comentário:
Postar um comentário