CONDIÇÕES de PRÁTICAS
ARTÍSTICAS no BRASIL,
EXPRESSAS por
INTELECTUAIS NACIONAIS e ESTRANGEIROS.
“Canto o hino da pátria que permite ganhar o
pão para os meus filhos”.
José SIMON professor rural de
uma comunidade germânica ao longo do Estado Novo.
O pior erro que o
descendente alemão poderia cometer seria deixar de cultivar no Brasil a sua
identidade expressa nas suas técnicas, na sua cultura e na sua Arte. Sairiam
perdendo tanto o Brasil, como a germanidade e, em especial, o descendente. O Brasil
viria a ser subtraído de uma riqueza interna única e de uma diversidade que o
vincula ao cenário de uma civilização planetária.
n TUBINO 2007 p.063
Fig. 01 – Dr. João
Daniel HILLEBRAND - 1800-1880- Em
relação à arte por ele praticada, Arsène isabelle escreveu” Excelente desenhista, pintou uma
coleção de lepidópteros da colônia. Fiquei encantado com a exatidão do desenho
e as frescura do colorido desses lindos insetos”.
Um descendente da germanidade, desconectado da
sua origem, perde as conexões com as forças legítimas e ativas e recai no
estágio da Natureza. Quanto mais alta é esta sua origem, maior é sua queda. Mas
a queda não é o limite da catástrofe. O descendente da germanidade - de retorno
para a Natureza - é imantado pela entropia carente de sentido e de projeto.
Nesta esfera a incultura age solta. Na incultura o
descendente da germanidade gravita ao redor da barbárie e da marginalidade técnica, cultural
e estética.
Fig. 02 – Capa do livro do Arsàne Isabelle impresso na
Europa (Havre) em 1835 reportando a viagem deste francês pela região do Rio da
Prata – Uruguai e Jacui e Lagoa dos Patos e seu retorno a Montevidéu onde
ajudou a consolidar o Museu Natura do Uruguai
Evidente que esta
entropia é possível e é evidente no declínio das mais altas civilizações, pois
sempre são construções humanas mantidas vivas e atuantes enquanto duram os seus
projetos.
Esta entropia é bem visível na vida e na obra
de um médico austríaco que resolveu de forma avulsa migrar ao Brasil na mesma
época da formação a Colônia de São Leopoldo.
As condições pessoais
nas quais trabalhava este sábio, que optou pelo Brasil onde tentava cultivar a
ciência européia da época foram avaliadas e registradas pelo francês de
Hercules Florence (1804-1879), do
infortúnio na recepção de sua ciência em ITU no início da Independência
Brasileira
“Travei conhecimento com o Dr. Engler, austríaco, homem
todo voltado para a ciência. Sua biblioteca qualificada, e assinaladamente
alemã, acompanhava-se de um gabinete de Física e um laboratório, assim como de
instrumentos de astronomia. Todo esse aparelhamento lhe assegura a estima de
minguado número de pessoas; quanto à generalidade da população, em relação a
ele, prevalece a indiferença e, não raro, a censura. Assim se mede a
inteligência por estes lados. Mas não é a inteligência um dom da divindade? A
comprovar que o mérito e o talento frequentemente sofrem a ação do desdém, não
seria demais afirmar que um dos gêneros de bem estar preferido pelos homens se
traduz por excentricidade, práticas frívolas e, até, atos hostis.
Este texto registra o infortúnio na recepção de sua ciência em ITU
no início da Independência Brasileira. Certamente a recepção das atividades
artísticas e cientificas do Dr. Daniel Hilebrand não eram muito diferentes na
época da formação da Colônia de São Leopoldo
Fig. 03 – Rudolf Hermannn WENDROTH - rio dos Sinos
1852. Este soldado da Legião Alemã, a serviço na fronteira Sul do Império
Brasileiro, ultrapassou as meras normas militares no registro das imagens que
encontrava ao longo marchas e deslocamentos desta Legião. Deixou um precioso
acervo de imagens que continuam a tradição do registro do exótico para a
tradição européia. A sua obra precede um pouco a entrada da fotografia esta
região. Esta nova arte de registro visual fez também com que obra deste Brummer
fosse esquecida e que só veio a circular e ter observadores mais atentos, no
final do século XX.
Esta narrativa constitui
um precioso índice do grau do adiantamento pessoal, social e econômico estágio
cultural. Esta gratuidade significa, no sentido econômico, que esta sociedade
venceu a satisfação das necessidades básicas humanas e pode entregar se a algo
que a transcende. No aspecto social é um potencial ponto de socialização tanto
para cientistas como artistas com iguais e semelhantes gerando um pertencimento.
No plano pessoal, não é só índice de que a pessoa que pratica a Ciência e Arte
com esta gratuidade é alguém que pratica o direito e vontade de deliberar e
decidi no interior da maior autonomia de conhecimento empregando os mais
elevados meios para transcender-se e desafiar limites do tempo e do espaço.
Fig. 04 - Rudolf Hermann WENDROTH, - mapa do
Rio Grande do Sul, versão do ano de1856.
Registra o cenário das ações da Legião Alemã. Destaca o Rio dos Sinos e a
localização de São Leopoldo que na época estava completando 30 anos de existência.
Na somatória destes
índices é possível afirmar que este estágio corresponde um projeto pessoal e do
outro lado sustentar que este projeto pessoal se inscreve numa civilização que possui a sua entidade e que ela cultiva.
in TUBINO 2007 p.056a
Fig.
05 - Casa de Feitoria de São Leopoldo
antes de 1924. Esta casa era o que sobrara de um projeto lusitano de
cultivo de linho cânhamo que havia falido e se rendera à entropia natural. Na
época da grande imigração não passava de uma senzala que foi esvaziada para dar
lugar ao imigrante loiro. É o que
se depreende do decreto provincial de 31
de março de 1824 que ordenava que se “avaliasse e
remetesse para a Côrte os escravos da feitoria, á medida que os colonos
chegassem..”. Certamente serviu de
aviso silencioso das condições que o imigrante encontraria no local.
A entropia cultural está
à espreita em todos os recantos e momentos. É se quer ressaltar também nas
atividades intelectuais e científicas e artísticas. Esta entropia cultural e
expressa e pode ser percebida na frase “excentricidade,
práticas frívolas e, até, atos hostis”,do texto de Hercules Florence em relação ao medico de Itu. Esta
entropia cultural projeta-se no mundo empírico e faz descuidar também do
patrimônio material. A sociedade, sujeita à entropia cultural, é induzida a não
preservar de algo de físico e que avalia como associada e dava suporte físico
para algo “excêntrico, frívolo e,
até, atos hostis”. O máximo que preserva são alguns relatos dispersos
produzidos por outros e que servem para justificar os seus julgamentos e atos
de incúria e barbárie.
Contudo dez anos
após sua instalação oficial, a colônia de São Leopoldo dava sinais e
havia sementes em ações concretas da
possibilidade de reverter esta barbárie e incultura. Isto é possível conferir ao
ler o relato de Arsène Isabelle em relação à sua visita, realizada no outono de
1834.
Fig. 06 – A SALA
de AULA ALEMÃ foi a base institucional para promover a continuidade de uma tradição intelectual, além
da social, comercial, artesanal e agrícola alemã. Esta sala foi uma das primeiras
preocupações do imigrante alemão no Brasil. Por meio dela promovia a formação intelectual das novas gerações,
tornando-as competentes para entender e
capazes de transferir para o mundo mental o sentido do patrimônio material e
simbólico da imigração alemã que estudava, registrava e socializava tendo em
vista e futuras gerações. A função destas salas não era contar e
celebrar os heróis ou feitos dos seus ex-alunos, mas a formação de cidadãos
competentes para dar suporte ao PODER ORIGINÀRIO que esta escolhinha reunia na
sua raiz. A maioria delas foi eliminada
desta função primordial quando a administração publica começou a administrá-las
por cima e por fora do PODER da qual se ORGINAVAM.A maioria delas foi fechada
sumariamente como anti-funcionais na
visão deste poder exterior e superior..
Arsène ISABELLE. (1807-1888)
visitou São Leopoldo no outono de 1834. Este
viajante francês registra em letra de forma o projeto da imigração alemã
massiva e que transformou os arredores da antiga senzala lusitana. O seu texto
torna explícito o sucesso deste projeto. Ele transformou em imagens visuais aquilo
que ele captou nas páginas do seu texto. Vale a pena ler as páginas 250 até 254, da
edição de 2010 do Senado Brasileiro:
“Para
ir à colônia alemã, subi o rio dos Sinos, rio de quarta ordem, bastante
profundo, mas de tal modo sinuoso que a distância de Porto Alegre a São
Leopoldo, de apenas sete léguas por terra, torna-se de quase vinte léguas por
água. Assim como o Jacui e todos os do rio Grande, o rio dos sinos corre sobre
um leito de areia e de terra limosa. As margens são tão pouco elevadas que
parecem submersas. Entretanto são habitadas e cultivadas, mas a gente teve o
cuidado de construir as casas sobre estacas, u sobre uma armação de madeira, de
cinco a seis metros de altura. O teto dessas habitações, construído em
saliências, lhe dá a aparência de pavilhões chineses.
Depois
de remar toda a noite, o barco alemão no
qual havíamos viajado parou num lugar chamado Três Portos. São simplesmente
três clareiras no meio do mato, na margem esquerda, mais elevada, ali, do que
nas outras partes. Já nos encontramos na colônia alemã. Desse lugar a São
Leopoldo são apenas duas horas a pé, ao passo que seguindo o rio, para chegar
ao verdadeiro porto, é preciso remar o dia inteiro. Preferimos ir a pé,
caçando, a respirar por mais tempo as exalações fétidas de um barco coberto,
provocadas por uma meia-dúzia de criadas e não sei quantas crianças, que comiam
laranjas, bananas e outras coisas gostosas, de que a gente se satura
rapidamente.
in TUBINO 2007 p.096
Fig. 07– O barão Karl Von KOZERITZ
(1830-1890) integrou a companhia militar alemã que veio ao sul do Brasil na
metade do século XIX. Dominou logo o idioma local. Com este instrumento
cultural passou a agir por meio da
imprensa para manter bem elevado e a nível internacional a mentalidade e o
pensamento dos seus patrícios aos quais infundia esta necessidade do domínio do
idioma local. Dos seus patrícios ele exigia o domínio da língua culta germânica ao mesmo
tampo aquela da nova pátria. O seu projeto era a perfeita integração cultural e
que ele havia escolhido. Ele desapareceu
na época da passagem do regime imperial brasileiro para o republicano.
Percorremos
uma região encantadora, montanhosa, coberta de matos, de praias, de granjas
alemãs, de campos cultivados e banhados por uma infinidade de regatos. Subimos
colinas elevadas, cobertas de espessas florestas através das quais foram
abertas estrada que se cruzam em todos
os sentidos, abrindo comunicações para todos os pontos da colônia.
Depois
de termos subido e descido várias vezes, avistamos, enfim, na volta de um
caminho coberto, a vila de São Leopoldo, situada no meio de uma planície baixa,
que pode ter duas léguas de circunferência. Pensamos estar na Alemanha. Não
pude deixar de experimentar, à vista dessa povoação européia, um sentimento de
admiração, pois fui imediatamente surpreendido pelo contraste que me ofereciam
esses lugares cultivados com cuidado, esse caminhos abertos penosamente através
da colinas, dos montes e das florestas, essas pequenas propriedades cercadas de
fosso profundos ou sebes vivas, essa atividade dos agricultores e operários,
rivalizando, de modo invejável, pelo prosperidade de comum, com o abandono
absoluto no qual os brasileiros deixam suas terras, o mau estado de seus
caminhos, suas choupanas em ruínas, enfim, essa falta de indústria, esse
espírito perdulário e destruidor que os caracteriza, assim como os argentinos.
Minha
admiração não foi menor ao ver, quase sob o trópico, uma nação das regiões
polares conservando hábitos, seus costumes, sua vida ativa, e dando origem a
uma geração que deve um dia mudar a face do país.
Fig. 08 – A litografia da oficina mantida por Ignácio (1845-1908) e por Miguel
WEINGÄRTNER(1869-1928) mostra a Porto Alegre do século XIX e os cursos da água
que levavam para a colônia de São Leopoldo e a a rede das demais cidades dos
imigrantes germânicos que se foram estabelecendo as margens do afluentes do
Guaíba. O intenso comércio que se estabeleceu nesta rota fluvial manteve e
intensificou as conexões entre estas sucessivas urbanizações e os consumidores
da capital da província. Com a monetarização deste comércio foi possível o
surgimento doa artesanato sustentável e depois das primeiras oficinas
industriais como era a gráfica dos
WEINGÄRTNER. Nesta família o mais conhecido é pintor Pedro ( 1853-1929)
que manteve profunda vinculação com a sua origem cultural e ao mesmo tempo uma
profunda vinculação com os centros culturais brasileiros e europeus.
A
vila de São Leopoldo, chamada também de Feitoria, está situada, como
acabo de dizer, em uma planície baixa, à margem esquerda do Rio dos Sinos, a
sete léguas ao norte de Porto Alegre. De todos os lados, ao sul, a leste e a
oeste, a planície é dominada pelas colinas cobertas de florestas. A oito ou dez
léguas para o norte passa grande cadeia de montanhas, a serra do mar, eu se
dirige para o oeste, e através da qual os alemães abriram estradas admiráveis,
vencendo extraordinárias dificuldades. Independentemente da cadeia principal,
existem ainda alguns montes isolados no sul e no centro da própria colônia.
Não
se teve muito em vista a higiene pública, ao fundar a vila num lugar muito
pantanoso, que, com as menores chuvas, se inunda e torna as ruas
intransitáveis. Só se pensou, sem dúvida, na vantagem do comércio e na grande
comodidade que oferece a vizinhanças da água. Isto prova que os alemães não recuam
de nenhum obstáculo e a que palavra impossível já não tem equivalente em sua língua como não tem na
nossa. Tratavam, aliás, diariamente, de elevar o terreno, secar os pântanos e
desviara as águas pelas quais estes são alimentados.
Havia,
então, em São Leopoldo, cerca de cento e cinquenta casas de madeira e tijolo,
onde vivia uma população de uns mil habitantes, a qual deve aumentar
progressivamente, uma vez que a vila não contava mais que cinco anos de
fundação. É habitada, principalmente, por artífices alemães, tais como
marceneiros, ferreiros, carpinteiros, cordoeiros, alfaiates, seleiros,
latoeiros, etc.; e por proprietários de botequins, armazéns e lojas, tanto
alemães como estrangeiros. Havia muitos franceses, que faziam excelentes
negócios.
in TUBINO 2007 p.133b
Fig. 09 – Com
seus clubes, centros educacionais e religiosos, aliados ao comércio e a
indústria emergente alimentados pela circulação de bens e serviços, São
Leopoldo comemorou um século da chegada e estadia e o progresso da imigração germânica
massiva ao Brasil. A foto ilustra a inauguração do monumento à Imigração em 1924
A
colônia alemã, da qual essa vila já é mercado principal, não ocupa atualmente
mais do que um território de quinze léguas quadradas, mas pode estender-se
muito, para o norte, além da serra, porque não tem desse lado outros limites
senão os de própria província.
A
maior parte dos colonos alemães são agricultores. É distribuída entre eles uma
porção mais ou menos considerável de terreno, com a obrigação de sua parte de
baterem os matos e de cultivarem o lugar que ocupavam. Se há pastagens em torno
de suas propriedades, reservam parte para a criação de vacas e a fabricação de
manteiga e queijo, que vendem facilmente em Porto Alegre.
Outros
alemães que possuem algum capital, formaram estabelecimentos mais ou menos
importantes, como curtumes, destilarias, serrarias, olarias e outras
fabricações tais como a de farinha de mandioca e de açúcar, que já produzem um
bom rendimento para a colônia, sem falar nos benefícios das relações comerciais
que a sua atividade mantém com Porto Alegre. A terça-feira de cada semana é o
dia marcado para levara à capital os comestíveis e os produtos da indústria
dessa pequena república.
Fig. 10 – - Casa
Feitoria Velha restaurada durante a administração do Cel. Theodomiro Porto
de Fonseca que assumiu como Intendente São Leopoldo em 1928, seguiu como
Prefeito em 1930, 1934,1938 e 1942. Teve apoio do incipiente Serviço do
Patrimônio Histórico Artístico Nacional (SPHAN) criado em 1937
Muitos
brasileiros, consultando mais seu interesse privado do que a sua inclinação
naturalmente invejosa da propriedade dos estrangeiros, começaram a
estabelecer-se na colônia, comprando muito caro os terrenos concedidos aos
alemães, que este lhes cediam de boa vontade na esperança de formar em outro
lugar maiores estabelecimentos. O sentimento de emulação acabará nascendo entre os brasileiros, à
vista de tantas dificuldades vencidas por homens industriosos, ou, ao mesmo, o
orgulho nacional se sentirá interessado no progresso da colônia, o que deve
trazer excelentes resultados à região. Já se formou uma sociedade de acionistas
para a construção de uma ponte sobre o rio dos Sinos e já se fala em levantar
edifícios públicos, abrir novas estradas, construir um barco a vapor,
empreender, enfim, trabalhos capazes de fomentar a indústria e favorecer o
comércio, verdadeiras fontes da riqueza e da civilização dos povos.
Há,
na vila, uma capela mantida por um padre católico e, a uma meia légua sudeste,
em uma aldeia chamada Feitoria (porque era, outrora, um mercado de negros), uma
outra capela, mantida por um ministro da religião protestante.
As
autoridades são brasileiras, um juiz de paz, que dá audiência uma vez por
semana, e um comandante militar.
Fomos
recebidos pelo doutor João Daniel Hillebrand, jovem muito instruído, que reúne
à sua grande modéstia, excelentes maneiras e muita amabilidade. Hamburguês de
nascimento, dominando os idiomas francês e português e exercendo, há muitos
anos, com sucessos, a medicina e a cirurgia, o doutor Hillebrand conquistou a
confiança dos habitantes da colônia, que têm por ele a maior consideração. É
ele bem a merece certamente, pelos seus conhecimentos e por seus sentimentos
tão humanos. O doutor Hillebrand, também, se ocupa muito da história natural,
principalmente de ornitologia e entomologia. Adquiriu este gosto quase
apaixonado quando acompanhou, durante muito tempo, o doutor Sellow (ou Selo).
Mostrou-nos suas coleções, já numerosas, de pássaros, insetos e madeiras úteis,
e também muitos objetos curiosos, tais como
armas de bugres, vasos, etc... Excelente desenhista, pintou uma coleção
de lepidópteros da colônia. Fiquei encantado com a exatidão do desenho e as
frescura do colorido desses lindos insetos.
Fig. 11 – Carlos Henrique HUNSCHE 1913 -1986
realizou um dos trabalhos mais notáveis para trazer para as letras do seu tempo
e para o presente a cultura germânica da época da grande imigração. As suas
obras “Biênio 1824/25
da Imigração e Colonização Alemã no RS” e “O Ano 1826 da
Imigração e Colonização Alemã no RS” e
o inicio a série de livros com "O Quadriênio 1827-1830 da imigração e
colonização alemã no Rio Grande do Sul" tornaram-se
referências obrigatórias para entender o contexto no qual seria possível
qualquer produção artística nas origens da imigração germânica para o Rio
Grande do Sul.
A
colônia alemã deve ser visitada pelos naturalistas e pelos amantes da bela
natureza. Encontram-se, ali, todos os produtos da Província, no reino orgânico:
belos pássaros, insetos raros, mamíferos estranhos, plantas preciosas, tudo se
reúne nessa localidade para excitar a admiração dos curiosos. Numerosos
caminhos, abertos no meio das florestas, permitem ao caçador percorrer os
arredores de São Leopoldo sem ser incomodado pelo calor, mas gozando, ao
contrário, a fresca sombra das inúmeras árvores copadas das mais variadas
espécies.
Quase
todas as árvores dessas florestas, ainda pouco conhecidas dos botânicos, tem
propriedades particular. São mesmo raríssimas as inúteis.
O
terreno da colônia, entrecortado de altas colinas de morros escarpados, de
planícies pantanosas, é argiloso nas alturas e arenosa na baixas. As pedreiras
em exploração só fornecem, por enquanto, grés brandos que se empregam na
construção das casas. Parece existir calcário em algumas florestas, mas ainda
não foi possível descobrir-se uma pedreira suscetível de exploração”.
.
Mais adiante, nas páginas 261 e 262, Isabelle registra que:
“Em
1834, calculava-se a população total de província em 160.000 habitantes, sendo
que os alemães representavam um décimo desse total. Só na nova colônia de São
Leopoldo contava oito mil. É verdade que se compreendiam sob a designação de
alemães emigrados de todas as nações,
mas, por mais fraca que seja a população alemã em relação ao número de
brasileiros, ela tem, entretanto, uma grande importância moral pois seu exemplo
não pode deixar de estimular, mais cedo ou mais tarde, o caráter apático dos
brasileiros. Até agora, ela tem feito tudo o que dela se podia esperar, e já
são tantos os melhoramentos introduzidos nas artes e na cultura, que o aspecto
da província se transformou, a ponto de torná-la irreconhecível aos olhos
daqueles que a tinham percorrido antes da guerra do Brasil com a
república Argentina. É agora província indispensável ao Brasil, pois é a única
que pode fornecer carne, sebo, couros,
cavalos, mulas, milho e até trigo, ao passo que poderia, se houvesses
necessidade, prescindir-se das outras, pois as culturas de mandioca, algodão,
arroz, açúcar, etc. Produzem o suficiente ao seu consumo.
Fig. 12
– O trabalho institucional de TELMO
LAURO MÜLLER - 1926-2012 fornece as bases para a continuidade de uma tradição
intelectual e capaz de transferir para o mundo mental o sentido do patrimônio
material e simbólico da imigração alemã a ser estudado, registrado para as
novas e futuras gerações e socializado pela via institucional.
Poucas
regiões no mundo são banhadas e vivificadas com mais profusão do que a
província de São Pedro. Só na Banda Oriental pode ser comparada com ela. O
clima é saudável, temperado e nenhum outro lugar é mais adequado às
colonizações européias. Os frutos das regiões equatoriais crescem ali,
juntamente com as da zona temperada; Colhem-se na colônia alemã os frutos do
coqueiro e da bananeira, marmelos, maçãs, pêras, laranjas e os suculentos
pêssegos do Velho Continente. As plantações de uvas têm tido o mais feliz
resultado na colônia alemã não duvido
que um dia essa feliz província exportar excelente vinho para outros portos do
Brasil. Admiro-me até que ainda não se tenha tirado proveito das colinas de
Porto Alegre para a cultura da vinha
O francês havia levado
quase dois meses para acompanhar a marcha das carretas de São Borja até Rio
Pardo. Tinha visitado as ruínas Missões Jesuíticas e sabia do risco próximo e
iminente do retrocesso para a Natureza por mais elevado tenha sido o projeto
inicial. Isabelle propunha ( 2010, p.273)a nova geração a tarefa
“A nova geração, que
pretende a honra de figurar em letras brilhantes no livro dos imortais, deve
ela mesma talhar a pena que registrará seus títulos à admiração das raças
futuras”
Certamente esta
recomendação de Isabelle nunca foi esquecida pelo descendente alemã. Este
descendente talhou, ele mesmo, a pena e cultivou no Brasil a sua identidade. Os
jornais, os almanaques, os livros escolares e obras que contam o quotidiano e o
extraordinário deste imigrante foram publicados e circularam. Certamente não
circularam na intensidade e na continuidade desejável. Nele ele expressa a sua cultura as suas
técnicas industriais, as suas habilidades agrícolas e sua Arte. Se este legado
material e imaterial sofreu perseguições, contornos e pouca atenção para, adquiriu
tanto mais autonomia, força imanente e sentido intrínseco ao longo destas
adversidades e desatenção. Com esta autonomia, força imanente e sentido que o
Brasil adquiriu ele preservou uma riqueza interna única e de uma diversidade
que o vincula ao cenário de uma civilização planetária. O reconhecimento da contribuição
singular da germanidade é uma das chaves para outras conquista
planetárias. Adquirido este
conhecimento, a cultura brasileira pode incorporar outras culturas e etnias voltar
e receber delas outros tantos e diferentes reforços.
No entanto estes
diferentes esforços, em diversos rumos e níveis culturais e estéticos, ainda carecem
de um projeto que lhes forneça organicidade, competência e continuidade ao
longo do tempo. Não faltam exemplos de rupturas, descontinuidades, da ação silenciosa
e vigorosa da entropia, que age numa cultura desconectada da sua origem.
Principalmente quando esta fonte original possui agora outros projetos e segue
para rumos distintos daqueles para os quais foi a origem, há dois séculos
passados.
Na próxima postagem
iremos verificar o que aconteceu com as artes visuais numa cultura da qual a
germanidade no Brasil está apartada há quase 200 anos.
ALGUMAS FONTES do TEXTO e IMAGENS
ISABELLE.
Arsène (1807-1888)[2],
- Viagem
ao Rio da Prata e ao Rio Grande do Sul tradução e nota sobre o autor
Teodomiro Tostes; Introdução de Augusto Meyer [2ª reimpressão] Brasília :
Senado Federal 2010 , XXXI p. + 314 p.( Ed. Senado Federal v.61)
ARSÈNE VISITA à BUENOS AIRES
TUBINO, Nina A
germanidade no Brasil Porto
Alegre: Sociedade Germânia, 2007, 208, il
RUDOLPH
HERMAN WENDOTH e BRUMMERS
ARTISTAS
FRANCESES na ARGENTINA ao longo do século XIX
VIAJANTES do século XIX e PORTO ALEGRE
Real Feitoria do Linho Cânhamo
Correio do Povo ANO 117 Nº
183 - PORTO ALEGRE, SÁBADO, 31 DE MARÇO DE 2012 Há um século
O médico Carlos
Engler nasceu em Viena d'Áustria em 1800 e faleceu em Itu, em 1855. Veio
para o Brasil em 1821 e estabeleceu-se em Itu, São Paulo, onde clinicou e
viveu. Casou-se nessa cidade com uma senhora brasileira, da qual teve vários
filhos, dentre os quais um que se formou em medicina e residiu em Campinas, SP.
Chamava-se igualmente, Carlos Engler.
MUSEU da ESCOLA ALEMÃ
Claude Levi Strauss
GERÔNIMO WANDERLEY MACHADO – CRIANÇAS – IDENTIDADE- INTELIGÊNCIA GRIS
MICHAEL
TRIEGELL
ACADEAMIA
de ARTES VISUAIS de LEIPZIG
WERNER
TÜBKE
Gostei demais, Caro Prof. e amigo Cirio Simon.
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