domingo, 5 de fevereiro de 2012

ISTO é ARTE - 020


O ESTADO e o SIGNIFICADO de um  
PROJETO
CIVILIZATÓRIO COMPENSADOR. 


Fig. 01 – O Fórum Social Mundial em Porto Alegre busca  o projeto de um outro “MUNDO POSSÍVEL” e alternativo daquele apresentado e defendido, na mesma época do ano, numa cidade da Suíça. Este FORUM SOCIAL busca ver e evitar qualquer patrulhamento estético, ideológico e até financeiro externo.  Coerente com a posição ele esta longe das grandes utopias, dos discursos e hegemônicos e do “alfinete nas costas” do classificador do ser humano.O campo artístico que o acompanha o máximo perceptível são tendências que embasam os projetos do artista e que assim torna-se também histórico. O criador de arte, após a conquista da sua autonomia externa, volta-se agora para a autonomia do seu próprio campo de ação. Ele  busca a produção de obras sem abdicar do seu pertencimento a este mundo social e cultural, sem ostentar onipotência, onisciência e de eternidade.

A criação e a manutenção do Estado sempre dependeram de concepções, de projetos e de práticas humanas motivadas por interesses específicos. O Estado é estritamente humano. É humano apesar de as concepções da origem de seu poder invoquem a origem divina.  É humano nas diversas práticas de seu poder deduzidas, sustentadas e reproduzidas na busca da sua legitimidade.
Neste blog não se participa da tendência de perceber esta criação como natural, única e imutável. No lado oposto busca-se escapar de qualquer alinhamento de um nacionalismo determinante, único e absoluto.

Fig. 02 – Após a Revolução de 1789 é recorrente a representação do poder da  França  por uma frágil figura feminina, sustentada por um densa base popular. Esta imagem reaparece especialmente nos momentos de perigo, como neste cartaz motivador, divulgado em 1917, no auge da Primeira Guerra Mundial. Tenta conferir corpo visual  a esta concepção da origem, da circulação e da reprodução deste poder humano num momento perturbador quando milhões de patriotas davam a sua vida, nos campos de batalha, na defesa da base deste poder.  
 O ESTADO, na sua concepção corrente, é relativamente recente.  A apropriação, o desenvolvimento e a reprodução do conceito fundador do Estado desenvolveram-se nas circunstâncias da era industrial. Deve-se aos preceitos iluministas a fundamentação e a forma da passagem destes conceitos da era agrícola para a prática corrente determinado pelas circunstâncias que lhe sucederam imediatamente. Deve-se aos preceitos iluministas a divisão do PODER do ESTADO nas três esferas do Legislativo, Executivo e o Judiciário. O Estado uno, com três poderes autônomos e complementares, possibilitou a constituição de processos impessoais e a sua implementação, sua manutenção e a sua reprodução que se julgava por tempo indeterminado. Com o período pós-industrial estes conceitos e práticas entraram novamente em crise e busca novas concepções e práticas coerentes com as novas circunstâncias.

Fig. 03 – O  cidadão e a criatura humana são o cerne e teleologia imanente do Estado na concepção iluminista. Esta criatura humana constitui contratualmente o Estado ao qual delega as suas forças e as suas possibilidades do exercício de sua vingança pessoal. Esta delegação contratual constitui uma força única, para a utilidade pública e da quais todos fazem parte. O Estado torna-se aversivo e um grande Leviatã visto deste ângulo. Neste ponto entra a implementação prática do projeto civilizatório compensador. A Arte é a substância deste projeto compensador de sua violência. Este projeto compensa a aversão, o medo e o terror.

O preço a pagar pela criação, a manutenção e a reprodução deste Leviatã, sem alma e sentimentos, gerou os mais diversos contratos entre o cidadão avulso e pessoal e esta criação coletiva e impessoal. Não é possível o funcionamento deste Estado pelo puro terror e sem contratos com quem o sustenta. No pólo oposto, a destruição do Estado remete ao puro caos social e ao reino do mais astuto e do mais forte. 

Fig. 04 – Esta imagem e Aldo Locatelli (1915-1962), no Palácio Piratini representa a motivação para  uma série de contratos coletivos.  O artista cria uma imagem da complementaridade entre a Tradição Rural do Rio Grande do Sul e  a Modernidade da Era Industrial.   O artista destaca, em plena sede do Poder Estadual, a complementaridade entre o estancieiro e o operário urbano, como a origem histórica deste Estado e colocado face às novas circunstâncias vigentes quando este quadro foi pintado ao meio do século XX.
Diante deste puro caos social e o reino do mais astuto e forte, o cidadão avulso renuncia à pratica individual da violência e contrata com Estado este exercício da vingança individual. Evidente trata-se de um contrato com um Estado pós-iluminista.

 Fig. 05 –  Imannuel KANT 1724-1804 foi o  homem da passagem entre a cultura da transcendência divina do poder característica do  “Ancien-Regime”  e os efeitos e forças aglutinadas ao redor da Razão e projetadas pela Revolução Francesa entre outras. As suas diversas CRÌTICAS À RAZÃO limparam a área filosófica de projeções metafísicas incoerentes com a liberdade e a autonomia da vontade, de sentimentos e de ações. As suas concepções evidenciaram os pólos das  competências da plena liberdade humana e o pólo dos limites das responsabilidades civis e civilizatórias. 

 Este contrato, levado ao pé da letra, confere ao ente estatal o papel do Leviatã aterrador. O conjunto do exercício prático deste terror, causa amedrontamento e o exercício desta delegação legítima do Estado por levar o seu governo a transformar o aparelho estatal em exercício continuados de forças aversivas. No limite, ao próprio Estado do Terror.
Os confrontos e as lutas pelo poder estão configurados e tendem a crescer até níveis intoleráveis quando o Estado insiste e investe apenas no projeto orientado pela Ciência e pela Tecnologia. O mais forte, ágil e competente, nesta Tecnologia e Ciência, jogará para a a sua heteronomia  o lado mais fraco, lerdo e menos aparelhado . Este estado de heteronomia constitui a raiz de conflitos, que em 2012, estão em pleno curso no âmbito virtual como da internet e nas comunicações globais. Eles tendem a se tornar abertos e explosivos na forma de guerras declaradas e implacáveis de extermínio cultural e físico.
Para não atingir este ponto insuportável, há necessidade que este Estado receba e adote um sistema de projetos e ações civilizatórias compensadores desta violência potencial e incontrolável.

Fig. 06 – O jovem  Faraó Tutankamon  exibe o  flagelo e o cajado como os signos do seu duplo poder
Os Faraós egípcios, com o seu cajado e açoite conduziram o seu Estado através das mais difíceis condições. Cajado para apontar o rumo para a humanidade escapar da barbárie. O açoite para espantar os chacais sempre prontos para o exercício e práticas do poder do dente-pelo-dente no âmbito das puras leis darwinianas das espécies primitivas.

Fig. 07 – O domínio da razão na construção das bases teóricas práticas do  Estado contemporâneo incipiente tiveram contribuições importantes mesmo da parte daqueles nascidos educados e mantidos por regimes que acreditavam na sua origem e suporte divino. Apesar de usar a forma humana da ironia, da paródia e mesmo do cinismo praticaram ao extremo o hábito da integridade intelectual com é o caso do filósofo Voltaire (François Marie Aruet (1694-1778) que jogou com a sua  imagem e a sua  confortável base social, econômica e política da burguesia de sua época e instrumentalizou para dar forma humana a um outro poder do Estado Francês da época. Integridade intelectual exercida na medida em que ele sabia que as suas idéias trariam poucos resultados práticos para o estamento dominante e que perderia o influência na nova base do Estado que estava prevendo e defendendo.

Os projetos e ações civilizatórias compensadores da violência podem ter uma dupla leitura. Numa o Estado incentiva o indivíduo a canalizar as suas forças negativas em direção da sublimação. Mas no outro extremo o próprio Estado sublima a si mesmo, educa-se e da um exemplo prático de que é possível transformar a contradição do exercício eficiente, rápido e justo da violência e torná-la complementar com uma civilização. Este exemplo possui um preço e que os grandes estadistas sempre entenderam e aplicaram na prática da administração dos bens públicos e devolvendo-os a todos indistintamente e que continuam gerara, não só a admiração pública e universal. Numa época de capitalismo rendem divisas das quais os atuais herdeiros ainda vivem.

Fig. 08 – A complementaridade entre Péricles agente do  Estado de Atenas e Fídias o criador do Parthenon e da estátua da deusa  Atenas Partenos  sempre foi visto com um momento privilegiado da Arte, da Cultura e da Civilização Ocidental. O político capaz de conduzir uma democracia, submetendo-se às suas leis e ao mesmo tempo é capaz de perceber as energias do campo das artes. Fídias foi competente para compreender este momento e aproveitar as energias políticas dos seus concidadãos para plasmar arquitetura e escultura na qual todos se sentissem contemplados, estimulados

 Porém nenhum Estado e os seus dirigentes são obrigados a este projeto civilizatório compensador. Contudo um projeto civilizatório compensador revela a natureza, a permanência e a reprodução através do seu projeto que o tornam histórico como um ENTE que se revela no seu SER. Os Estados que souberam colocar no centro de seu projeto também um projeto civilizatório compensador tornaram-se históricos. Que o digam os projetos e a realização das pirâmides, do Parthenon em Atenas, a Catedral de São Pedro ou os palácios do Versalhes ou São Petersburgo custaram esforços e concentrações de pessoas, materiais e fortunas. Estes projetos não só educaram o povo na época de sua criação.  Eles atraem, até o presente, multidões para os sítios onde estão estas obras. Multidões que deixam fortunas que pagam, mesmo monetariamente,  todos os investimentos, trabalhos e conservação realizados nestes projetos civilizatórios compensadores.
Nesta concepção educa-se o Estado e de forma particular os seus agentes. Péricles e Fídias trabalhando sob os olhares da deusa da Sabedoria. Sabedoria que evita projetos civilizatórios compensadores corrompidos pela mera estetização e a falta absoluta de coerência entre a vida e a arte. Certamente a corrupção do ótimo, é péssima. Assim Estados totalitários produziram horrores monumentais quando apostaram apenas na estetização formal e externa e a usaram como propaganda do seu regime discricionário e oco. 

CATTELAN Maurizio  -Rotunda GUGGENHEIM  NYT 08.11.2011
Fig. 08 –  Nesta imagem de obra da arte   de CATELAN existe coerência no contraste entre a  Mandala e o Caos. O círculo vazio e impessoal pode ilustrar como do Estado ordenar o espaço para abrigar, contrastar e complementar formas e energias do caos que não seria percebidas assim,  sem a construção lógica humana do círculo vazio e impessoal.

Nestes regimes discricionários e ocos quando alguém toma o poder o seu trabalho consiste em afastar, desqualificar e eliminar quem se aproxime deste poder que julga seu e do grupo humano que legitima. O seu fazer passa ser porta-voz e interprete único em nome desta facção social. Neste momento a Arte tomba na pior servidão. Mesmo que ela receba todas as condições e meios para trabalhar ela apenas dará corpo às deliberações e decisões discricionárias e ocas.
A ação do artista autônomo consiste preliminarmente perceber a criação do Estado como algo natural, mutável e de múltiplas faces e paradigmas. No lado oposto este artista busca escapar de qualquer alinhamento de um nacionalismo que se julga necessário, determinante único e absoluto na História humana.
O artista não pode embarcar em meias verdades. Por maior que seja a sua sensibilidade, sua vontade e o seu direito, ele não soluciona a contradição que não é da sua competência e nem  atinge a sua complementaridade, nestas meias verdades. A posse e a prática continuada de um projeto, coerente com a sua origem humana, é da competência do Estado na medida em que o seu poder originário o constitui e contrata para esta função. No âmbito deste projeto demonstra e age. De um lado ele não abdica da segurança para todos. Na complementação ele não tolhe a liberdade da criação. Ao contrário, o Estado provê condições apropriadas para o florescimento e a reprodução de um projeto civilizatório compensador da violência. Violência que este Estado exerce apenas na medida do contrato lhe delega, recebe e acolhe em nome daqueles que constituem o seu poder originário.
Ninguém deve esperar resultados imediatos e fulminantes, especialmente no Brasil. O longo período da cultura colonial, a escravidão cultivada e o legalismo, por cima e por fora, necessitam serem vencidos e no seu lugar brotar saudável a liberdade, a vontade e o direito de celebrar contratos coerentes com a cidadania.
                          FONTES
ESPINOZA, Benedictus.Tratado político. São Paulo: Abril Cultural (Os pensadores),        1983

MARQUES dos SANTOS, Afonso Carlos «A Academia Imperial de Belas Artes e o projeto   Civilizatório do Império»  in  180 anos de Escola de Belas Artes.
Anais do Seminário EBA 180. Rio de Janeiro : UFRJ, 1997, pp. 127/146.


A presente postagem possui objetivos puramente didáticos
mail 
1º  blog :
2º  blog
3º  blog  
Site 
Vídeo:

Nenhum comentário:

Postar um comentário