quarta-feira, 5 de outubro de 2011

ISTO é ARTE - 010

FÁCIL é ser BOM

O DIFICIL é SER JUSTO.

“O que não pode ser dito, deve ser calado

Wittgenstein - Aforismo 7 Tractatus Logico-Philosophicus.


http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=1514&cd_item=2&cd_idioma=28555

Fig. 01 – DÉCIO VILLARES (1851-1931) e CARLOS MAXIMILIANO FAYET (1930-2007) Monumento a JÚLIO de CASTILHO (detalhe) e JUSTIÇA parede Sul do Palácio da Justiça – Praça da Matriz Porto Alegre -RS

A Arte busca a bondade e a excelência por sua própria natureza e é a sua razão de ser. Contudo estas duas qualidades não lhe bastam por si mesmas. Uma civilização dificilmente dará guarida e legitimidade à Arte sem que ela conheça e reconheça os seus próprios limites no campo da moral e os ponha em ação na produção de suas obras.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Municipal_de_Caxias_do_Sul

Fig. 02 – PIETÁ do acervo do Museu Municipal de Caxias do Sul – RS.

As obras de Arte atingem o potencial do nível crítico e um sentido pleno quando conjugam coerentemente a Bondade e a Excelência com a Verdade e a Justiça. A Arte para manter-se coerente com a Vida, com a Verdade e com a Justiça, por tempo integral, necessita de redobrada atenção, de esforço e de energia. Coerência com a Vida, com a Verdade e com a Justiça tanto de quem a produz Arte como de quem a recebe. Nestas condições pode candidatar-se para receber guarida e legitimidade de alguma civilização.


http://www.nytimes.com/slideshow/2011/09/29/arts/design/20110930-LOUVRE-11.html

Fig. 03 – THÉODORE GÉRICAULT (1791-1824) desenho da mão esquerda do próprio artista realizado no leito de morte. A Arte não conhece fim de semana, férias ou aposentadoria. Ela acompanha o artista enquanto estiver vivo. Aristóteles afirma que “toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”. .

Para atingir o sentido pleno do potencial crítico o criador da obra de Arte redobra a atenção no seu caminho até o seu observador e este no seu retorno ao artista. A atenção é necessária, pois o campo da moral pode ser corrompido, mesmo aparentando normalidade, excelência e bondade. A corrupção dos limites da moral espreita tanto a excelência do conhecimento da inteligência e das deliberações dos sentidos humanos. A vontade confunde-se nas suas anuências e nas suas decisões devido às informações equivocadas dos sentidos e da inteligência. As desculpas de plantão, fixas e únicas brotam do simples comportamento visível e do moralismo formal. As desculpas denunciam a corrupção e ferem um principio essencial em ARTE na qual jamais é possível um pedido de perdão. Estas desculpas não são possíveis devido à autonomia do artista, além de conduzirem ao terreno estéril e deserto. O produtor e o seu observador nada possuem em comum entre a Vida, Verdade e a Arte no caminho estéril deste deserto desolador. Nestas circunstâncias, as conexões entre a Vida, a Verdade e a Arte passam a corromper-se na forma de meras ficções discursivas e retóricas. Estas desconexões são cada vez mais frequentes, rápidas e irreversíveis no âmbito do mundo numérico digital. Para criar estas ficções discursivas e retóricas basta gerar programas aleatórios e genéricos. Elas possuem a sua existência fantasmagórica enquanto não são DELETADAS por um simples clicar numa tecla. A sua Verdade, a Justiça e a Bondade da Arte seguem cada vez mais no caminho da afirmação de Aristóteles (1973: 243 114a 10) que toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”. Para realizar esta distinção continuada impõe-se a importância de submeter-se voluntariamente à uma formação sólida. Importância desta formação tanto para quem produz como para aquele que intermédia e observa a Arte. Importância que cresce, se avoluma e se expande nas circunstâncias da Arte avançando e se consolidando no espaço material numérico digital.


http://sdrc.lib.uiowa.edu/dada/Negerplastik/pages/077.htm

Fig. 04 – ARTE AFRICANA banco de chefe tribal

A Razão não abrange toda a Justiça e a coerência da Arte com a Vida no seu feixe orientada de luz. O feixe da luz focada pela Razão instrumental, ilumina, abrange, compreende e expressa diminutas parcelas da Verdade. Ele ilumina em focos limitados e em cores variáveis por interesses transitórios. Este feixe focaliza muito acima ou muito abaixo, muito aquém ou além da Vida, da abrangência da Verdade e da orientação da Arte.


Fig. 05 – Pablo PICASSO (1881-1973) escultura e pintura..

Não há patrulhamento estético ou ideológico que a salvem uma obra, que se pretende de Arte, que se desconecta da Justiça e da Verdade. Nestas condições constitui apenas mais um trabalho. Condenado à obsolescência imediata este trabalho apenas ocupa espaço na ordem das coisas, desperdiça tempo e atenção na mente do seu observador e do seu produtor. A Justiça, a Arte e a Verdade são infinitas. Elas resplandecem para além do seu tempo e espaço empírico. Enquanto isto, o Trabalho e os seus produtos, sempre são limitados e sujeitos à obsolescência imediata e se confundem com a Natureza na qual acontecem e com a qual entram na mesma entropia implacável.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Maximiliano_Fayet

Fig. 06 – Carlos Maximiliano FAYET (1930-2007) estudo do rosto da escultura d colocada na parede Sul do Palácio da Justiça da Praça da Matriz de Porto Alegre - RS. A JUSTIÇA REPRESENTADA com OLHOS ABERTOS.

O mundo moral - como o físico - busca a coerência com as suas energias. O magnetismo no mundo físico não produz ruídos e nem age com estardalhaço. O mesmo acontece com o mundo das forças morais e intelectuais e estéticas. A Arte, conectada com a Verdade e a Justiça, age como Nietzsche a descreveu (2000, p.134) .. a Arte não pode ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre-passe a humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido mais temerário. As disfunções destas energias e o seu mau uso produzem ruídos, quebras e catástrofes.

A Arte realiza escolhas rigorosas para manter a sua coerência na sua colocação no mundo físico. Escolhas que tomam em conta os sentidos humanos que a produz e a percebe. Assim ela ganha um corpo físico e se dirige aos olhos, aos ouvidos, ao tato, ao olfato, ao gosto ou percepção cinética do gesto desdobrado no tempo e no espaço.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Maximiliano_Fayet

Fig. 07 – Carlos Maximiliano FAYET (1930-2007) estudo do olho do rosto da escultura d colocada na parede Sul do Palácio da Justiça da Praça da Matriz de Porto Alegre RS – A JUSTIÇA REPRESENTADA com OLHOS ABERTOS.

Esta riqueza de ofertas, e esta amplidão dos meios sensoriais, possuem o seu risco, seu preço e o seu limite. A Arte contorna de um modo ciumento qualquer reforço ou concorrência de algo que não é da sua própria natureza. A ao contrário da comunicação, a Arte evita qualquer redundância ou reforço daquilo que não é de sua estrita competência.


http://www.poesiaconcreta.com/texto.php

Fig. 08 – HAROLDO de CAMPOS poesia concreta

A Arte, colocada no mundo no mundo físico dos sentidos humanos, impõe a coerência entre o pensamento e as formas físicas que ela escolhe para expressar este pensamento. A genialidade daqueles artistas - que estão na origem das revoluções estéticas - seguiram rigorosamente esta ascese estética. Assim John Cage expressou o seu pensamento com a Música. Não se trata apenas do silêncio e nem minimalismo formal e discursivo. Cage consegue colocar o Tempo e, na passagem deste Tempo na sua obra, aguçando ao máximo, o ouvido humano dispondo-o perceber todo e qualquer evento sonoro, mesmo que não aconteça absolutamente nada. Assim Giotto retorna às tintas e aos pinceis valendo-se dos mesmos meios sensoriais dos pintores das cavernas. Na esteira de Giotto os mestres Leonardo da Vinci, do Impressionismo ou dos pintores não figurativos conduzem os olhos dos seus observadores para os eventos pictóricos.


Fig. 09 – As PINTURAS de LASCAUX conseguiram preservar no mínimo das suas formas o complexo mundo mental de criatura humanas vivendo e pensando a sua caça e abstraindo deste seu repertório todos o demais eventos e circunstâncias da cena

As formas tridimensionais dos artistas africanos arrancam as formas das suas esculturas a quem continuam a dar vida em formas despojadas dos arquétipos que deram corpo às obras da Pré-História. Estes eventos plásticos conferiram sentido à escultura de Picasso, de Brancusi e de uma legião minimalista que conseguiram resumir nas suas formas todas as vibrações no mínimo da forma plástica tridimensional. Neste espaço vale também o que Wittgenstein pondera no seu Aforismo 7O que não pode ser dito deve ser calado” e esta arte necessita calar o que não é da sua natureza.


Fig. 10 – A CABANA PRIMITIVA no meio da floresta tropical

(documentário da BBC - Londres)

O corpo, o gesto e a voz nas Artes Cênicas e a “cabana primitiva” na Arquitetura são meios para conferir corpo sensorial ao pensamento. O mesmo pode ser dito, e entendido pó meio das “24 imagens por segundo” do Cinema ou a Poesia no manejo da carga semântica da palavra e verbo na sua solidão de um discurso linear e unívoco. Ou como escreveu Aristóteles: “o poeta exprime essas maneiras diversas por meio da elocução, que comporta a glosa, a metáfora e muitas outras modificações dos termos, como as admitimos nos poetas”. O corpo mínino sensorial da Arte torna o pensamento contemporâneo a todas as gerações humanas.


Fig. 11 – FRANCISCO JOSE de GOYA y LUCIENTES (1746-1828) “Asta su Abuelo”- Este artista viveu a crise da Razão e do Iluminismo que chegou à Espanha com os exércitos franceses da Napoleão Bonaparte. A sua série de gravuras desnudam a falácia da Razão especialmente quando ela se entrega ao sono.e onipotência.

Pode-se concluir que a Arte autêntica busca a Bondade e a Excelência por sua própria natureza. Além disto, a Arte é a base sensorial de uma civilização, na medida em que conhece e reconhece os seus próprios limites no campo da moral. É a Arte que recebe a incumbência, e a missão, de projetar no tempo o que de melhor esta civilização viveu, sentiu e amou, prolongando-a e a universalizando.


http://www.poesiaconcreta.com/texto.php

Fig. 12 – HAROLDO de CAMPOS poesia concreta

FONTES

ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.

----------------ARTE POÉTICA CAPÍTULO XXVI Algumas respostas às críticas feitas à poesia

http://www.pacc.ufrj.br/arquivospdf/poeticaaristoteles.pdf

file:///C|/site/livros_gratis/arte_poetica.htm (41 of 53) [3/9/2001 15:05:20]

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CAGE, John,(1912-1992)

http://vimeo.com/14252504

CARL EINSTEIN (1888-1940)– ARTE NEGRA obra é clássica.

EINSTEIN, Carl – NEGERPLATIK – München : Kurt Wolff Verlag 1920 108 p com 116 il

toda disponível no original em

http://sdrc.lib.uiowa.edu/dada/Negerplastik/pages/000xiii.htm

http://en.wikipedia.org/wiki/Carl_Einstein

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KANDINSKY Wassily (1866-1944) - Ponto e a Linha diante do Plano

http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/_uploads/documentos-pessoais/documento-pessoal_314.pdf

MUSEU MUNICIPAL de CAXIAS do SUL

http://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Municipal_de_Caxias_do_Sul

NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900) Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179.

WITTGENSTEIN, Ludwig. (1889-1951)Tractatus Logico-Philosophicus. Trad. Luiz Henrique Lopes dos Santos. São Paulo: EDUSP, 1994

“7 What we cannot speak about we must pass over in silence”.

Satz 7 Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen

http://www.masonic-library.org/Texte/WovonManNichtsprechenkann.pdf

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=36545


http://www.nytimes.com/slideshow/2011/09/29/arts/design/20110930-LOUVRE-11.html

Fig. 13 – JACQUES LOUIS DAVID e(1748-1825) esboço do quadro SABINAS (1799)

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