QUANDO os CRIADORES de ARTE e de CULTURA
marcham solidários, interativos e civilizados para a
SUA AUTONOMIA
“Nesta nossa terra [Itália] até os que não estimam muito a pintura a pagam muito melhor que em Espanha e Portugal os que muito a festejam, por onde vos aconselho, como a filho, que não vos devíeis partir dela, por que hei medo que, não o fazendo, vos arrependereis” Miguel Ângelo a Francisco de Holanda, 1955, p. 66.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_de_Ara%C3%BAjo_Porto-Alegre
Fig. 01 - Manuel Araujo PORTO-ALEGRE (1806-1879) Figuras Alegóricas 1851 – 265 mm X 235mm – Acervo MARGS
Uma das formas de perceber a força e a criatividade de um artista é quando ele é competente para impor a sua liderança e a coerência da criação de sua obra aos seus observadores, patrocinadores, mediadores ou curadores. Ou quando ele é competente para criar e fazer aceitar a sua obra sem depender, e/ou estar acima e além das mediações externas.
http://professorbrilhante.blogspot.com/2010/05/dados-sobre-o-professor-brilhante-no.html
Fig. 02 - FRANCISCO BRILHANTE (1806-1879) foi ao povo em PORTO-ALEGRE e o elegeu como testemunho e observador da construção da sua obra.
Esta foi a luta eterna de todos aqueles que tiveram a fortuna e o êxito de instaurar outra sensibilidade, mudar um modo de pensar e de interagir numa civilização.
Foto Círio SIMON
Fig. 03 - CARLOS FAJARDO Parque MARINHA do BRASIL PORTO-ALEGRE 1997
Ver: ALVES 2004 - p.193
Caso contrário o pretendente a artista passa a ser um coadjuvante dócil de líderes políticos, de curadores de mentalidade duvidosa e de mediadores oportunistas. Políticos, curadores, críticos e mediadores que, aproveitam a ocasião, em especial do artista falecido e no domínio público, para construir e propalar o seu próprio recado distinto e incoerente com aquele do Mundo do artista que usam para os seus próprios interesses. Repetem a patética situação do “prêmio em cima de..” descrita por Thomas Bernhard no seu clássico capítulo do livro “Sobrinho de Wittgenstein”.
Foto Círio SIMON
Fig. 04 - TED CARRASCO Parque Marinha do Brasil PORTO-ALEGRE (1997) –
Ver: ALVES, 2004, p.192.
Quando ARTE é confundida com MARKETING e PROPAGANDA, esta heteronomia ganha mais força - e torna-se avassaladora para um publico desavisado e ansioso por “novidades do último grito”. Políticos, curadores, críticos, mercadores e mediadores ao infundiram certo “misterinho”. pseudo “ironia” disfarçada e um “faz de conta que..” como sendo ARTE, apresentam de fato ações ou objetos e peças de MARKETING e de PROPAGANDA. Confundem inclusive o artista ingênuo que acredita ser um gênio, quando não consegue explicitar as competências e os limites do seu próprio projeto. O objetivo final desta confusão, e mistificação, é driblar a fronteira entre estas competências e infundir pseudo sabor de verdade. Não se condena este trabalho. Mas é necessário dizer, deixar claro e admitir, que ele pertence ao círculo de giz do MARKETING e da PROPAGANDA.
Foto Círio SIMON
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Parque_Marinha_do_Brasil_26.JPG
Fig. 05 – Parque Marinha do Brasil Índice do Fórum Social Mundial em PORTO-ALEGRE –RS
Contudo, como todo trabalho, este esforço e gastos de toda ordem, é retido na rede ou filtro da obsolescência, que o prende nas suas malhas e o faz retornar ao mundo da Natureza da qual ele é proveniente e expressão plena. A entropia é algo natural, para estes pseudo criadores e que absorvem toda a lógica de sua existência, razão pela qual não se condena este trabalho. Se este ações e obras de MARKETING e de PROPAGANDA - não atingem o sucessos, esperado pelos líderes políticos, pelos curadores e pelos mediadores oportunistas, sempre é possível culpar o artista. Este pode ser facilmente descartado, em favor de um outro candidato. Este descarte é inferno que um pseudo artista merece.
Fig. 06 – EDGAR KOETZ 1913-1969 – xilogravura
Este caminho não é o projeto de um autêntico artista que age coerente com as circunstâncias de sua civilização. A obra de arte é a expressão maior, superior e que permanece, pois no mínimo de sua forma física e sensorial, cativa o máximo de uma civilização, a universaliza, para as demais civilizações e não faz mal a ninguém.
Foto Círio SIMON
Fig. 07 - CARLOS FAJARDO Parque MARINHA do BRASIL PORTO-ALEGRE 1997
Ver: ALVES, 2004 - p.193
Uma dócil aceitação de uma conveniente e acomodada heteronomia, significa a MORTE da ARTE. Morte decretada e consumada na medida em que um projeto não mais pertence ao artista criador. Artista criador que deseja ser competente para criar e fazer aceitar a sua obra, mas cujo projeto pertence, de fato e de direito, ao político, ao crítico, ao mediador ou ao curador. Os instrumentos de mediações externas, realizadas sem exame e contrato conduzem o artista a uma conveniente, dócil e acomodada aceitação da heteronomia e dali para a entropia do que restava da autonomia do artista.
Foto Círio SIMON
Fig. 08 - FERNANDO LIMBERGER Parque MARINHA do BRASIL PORTO-ALEGRE 1992 -
Ver: ALVES, 2004, p.186
A pseudo obra resultante desta heteronomia não passa, na realidade, de um trabalho devido à dissolução de sua autonomia. Um trabalho desta natureza perde-se pelos descaminhos de um meio cultural turvo, maculado pelas forças e por interesses que lhe são alheios e, no final, mortais. A sustentação continuada da autonomia da vontade sempre foi a condição da sanção moral dos atos de qualquer ser humano.
Foto Círio SIMON
Fig. 09 - JÚLIO PÉREZ SANZ Parque MARINHA do BRASIL PORTO-ALEGRE 1997
Ver: ALVES, 2004, p.192
Desde as culturas dos faraós, até os tiranos mais contemporâneos, cada época criou mecanismo para manter o artista criador na heteronomia e explorar o máximo do seu poder simbólico. A época pós- moderna, no seu afã de explorar o máximo do poder simbólico, desenvolvido pelo artista, não é diferente. Esta circunstância torna-se ainda mais aguda e evidente numa época em que a informação, a construção de MARKETING, de PROPAGANDA e o gerenciamento dos meios tecnológicos impõem-se como soberanos e determinantes de todo processo de busca de sua própria segurança e reprodução continuada. Na segurança que buscam, descartam qualquer ameaça de uma nova e estranha sensibilidade do “seu” próprio mundo.
Foto Círio SIMON
Fig. 10 - JAÍLTON MOREIRA Parque MARINHA do BRASIL PORTO-ALEGRE 1992 –
Ver: ALVES, 2004, p.185
Os soberanos deste processo, buscam a segurança de sua reprodução continuada e combatem vigorosamente como heresia de seus próprios fundamentos. Heresia que poderia abalar e decretar a sua ruína total, qual torre de babel. Evidente tudo o que é selecionado para construir esta Babel pós-moderna é examinado e admitido sob o rigor da segurança de sua reprodução própria. Assim não é possível alguma mudança a partir do interior desta torre, comandada por um pensamento único e fixo pelos clones das sensibilidades, vontades e conhecimento uniforme e linear.
Foto Círio SIMON
Fig. 11 - FRANCINE SECRETAN – detalhe - Parque MARINHA do BRASIL PORTO-ALEGRE 1997 - Ver: ALVES 2004, p.193
Para enfrentar esta avalanche de poder fixo e unívoco, o artista autêntico pode reivindicar a sua autonomia na medida em conhece e administra as suas competências específicas e reconhece os seus limites. Para fundamentar esta autonomia não faltam, ao artista, exemplos evidenciados por intensas e palpitantes narrativas históricas. Desde as interações e complementaridades de um poder político e simbólico que deram testemunhos respectivamente Péricles e um Fídias. Está ai Templo do Parthenon como índice desta interação. Obra, na qual, ambos conheciam e administravam as suas competências específicas e reconhecendo os seus limites. Ou então as iradas e fulminantes relações entre um furibundo Miguel Ângelo com um papa da estirpe guerreira dos Médici avassaladores.
http://obelogue.blogspot.com/2011/08/ars-longa-vita-brevis-hipocrates-retomo.html
Fig. 12 - MIGUEL ANGELO (1475-1564) Capela Sistina VATICANO - Juízo Final (1537-1541) detalhe após restauro
http://hipersessao.blogspot.com/2010/11/ibere-camargo.html
Fig. 13 - IBERÊ CAMARGO 1914-1994 PORTO-ALEGRE
A vida e a obra de Iberê Camargo apontam esta mesma autonomia criativa para administrar as suas competências específicas de artista na cultura superior de Brasil e do Rio Grande do Sul.
O que é grave - e da ordem inclusive moral - é o desprestigio e a desclassificação que o termo ARTE sofre, ao ser mistifica como MARKETING e por PROPAGANDA por obra de políticos, curadores, críticos e mediadores. Como afirma o adágio popular de que “a mentira possui pernas curtas”, e é fácil achar um culpado de plantão. Evidente sempre alguém deverá ser responsabilizado por este desfavor à civilização. Assim políticos, curadores, críticos e mediadores atribuem ao artista este desinteresse e desprestigio generalizado da ARTE.
No entanto o artista autêntico, consciente de suas competências e limites, não é o culpado de vez desse embuste. As biografias e as imagens das obras dos artistas, aqui publicadas, desmentem isto em alto grau. Constituem índices e testemunho de que suas obras vivem acima de qualquer MARKETING ou PROPAGANDA. O que se lamenta, é que políticos, curadores, críticos, marchands e mediadores não tenham o mesmo empenho e continuidade que os artistas tiveram. Empenho e coragem em constituir a sua biografia contra tudo e todos. Empenho em vencer as dificuldades contínuas de uma cultura que sempre foi e continua sendo entrópica em qualquer época e lugar.
FONTES
ALVES, José Francisco. A Escultura pública de Porto Alegre – história, contexto e significado Porto Alegre : Artifolio, 2004, 264 p. ilust.
http://arquivopoa.blogspot.com/2010/03/dica-escultura-publica-de-porto-alegre.html
http://www.public.art.br/wordpress/wp-content/uploads/Experiencias_ARTEPUBLICA_download.pdf
BERNHARD, Thomas – O Sobrinho de Wittgenstein – Tradução de José A. Palma Caetano . Rio de Janeiro : Assírio&Alvin, 2.000 - ISBN: 972-37-0603-2
HOLANDA, Francisco de (1517-1584) Diálogos de Roma: da pintura antiga. Prefácio de Manuel Mendes. Lisboa : Livraria Sá da Costa, 1955, 158 p.
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