segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O QUE é ARTE - 002

O MUSEU de ARTE MODESTA.

O tropeço verbal de uma criança causou perturbação e um estranhamento do repertório adulto e erudito, e foi um evento que forneceu o exame do que pode se considerar como ARTE.


Fig. 01 –Malvina - ELI HEIL – 1929 - explora nas suas obras o impacto direto da cores da tintas industriais

http://www.eliheil.org.br/ + http://artetecta.blogspot.com/2010/04/o-fantastico-mundo-ovo-de-eli-heil.html

O equivoco de uma criança - de denominar, o “MUSEU de ARTE MODERNA”, como de “MUSEU de ARTE MODESTA” - serviu de pretexto para Hervé Di Rosa, que ouviu esta confusão, pensar no sentido que poderia conferir a este equivoco e transformá-lo em trocadilho ao gosto francês. Assim passou a institucionalizar um museu. Ao lado de Bernard Belluc, um “colecionador artista” ele criou o MUSEU INTERNACIONAL da ARTE MODESTA (MIAM). que abriu em no ano de 2.000.


Fig. 02 – Prateleiras do MUSEU INTERNACIONAL de ARTE MODESTA [MIAM] de Paris

O acervo do MIAM incluiu toda ARTE que não fosse acompanhada pela avaliação pelo critério da FAMA da obra, acompanhada pela narrativa ERUDITA e que é EXCLUÍDA normalmente em outros MUSEUS.

A instituição museológica cumpre, de fato, o papel da mediação da obra de arte. Nesta mediação ela busca prolongar e socializar os momentos da vivência direta da experiência estética. Por isto, quanto mais frágeis estes instantes da criação artística, mais necessitam de tempo e de redobrada atenção. Em especial se o corpo da obra de arte não atinge formas muito elaboradas e já aceitas por uma determinada cultura.


http://canais.sol.pt/blogs/jaguar/archive/2007/09/16/Henri-Rousseau.aspx

Fig. 03 – As obras de HENRI ROUSSEAU 1844-1910 exploram as imagens e narrativas fabulosas e recorrentes de sua época, combinando e subvertendo sentido e lógica.

Para esta atenção percorre-se conceitualmente alguns destes campos da criação sem lhes cobrar formas clássicas e universalmente aceitas. É possível evitar “espetar o alfinete pré-classificatório nas costas” dos autores e das obras de arte, como se realiza nas imagens desta postagem. Basta mostrar e descrever, deixando ao observador o prazer de buscar mais dados por meio das fontes na medida do seu interesse e repertório.


http://capaodoleaohistoriaecultura.blogspot.com/2009_04_03_archive.html

Fig. 04 – A ARTE INDIGENA BRASILEIRA apresenta buscas formais características de todas as culturas humanas quando atingem o neolítico - pedra polida. Os arquétipos comandam a construção formal destas obras. Acervo do Museu de Capão do Leão - RS

A ARTE constitui-se num “ente primitivo” , dos muitos daqueles que se admitem sem possuirmos um sentido ou uma definição unívoca e linear deles. No máximo podemos distinguir e dizer “ISTO é ARTE” ou “ISTO não é ARTE”. De resto avança-se neste campo sem conhecer as suas competências e fronteiras fixas. Na exploração da ARTE concebe-se Arte bruta como aquela do impulso humano primordial de lidar com os meios tradicionais da arte sem prender-se a convenções.


http://en.wikipedia.org/wiki/Adolf_W%C3%B6lfli

Fig. 05 – A ARTE de Adolf WOLFLI 1864-1930) estimulou a Jean Philippe Arthur Dubuffet (1901-1985) a pesquisar a ARTE BRUT A e a criar, em 1848, o respectivo museu A

http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_bruta + http://pt.wikipedia.org/wiki/Dubuffet

Neste aspecto temos a arte ínsita na qual o seu praticante busca revelar-se e expressar o impulso universal na espécie humana. Esta revelação surge no meio de violentas alterações de sanidade mental e compulsões psicológicas sobre os quais este praticante busca sobrepor a sua obra. A simples erupção deste potencial humano universal, em formas de arte, sem se inscreverem nem continuarem esta série, denomina-se de arte ínsita. É o caso dos doentes mentais que lidam com suas compulsões por meio de formas de arte. A arte ínsita não se desenvolve por outros interesses externos ao fenômeno do campo da ARTE consagrado por uma tradição ou estabelecida por meio de cânones estéticos. O seu início e final estão restritos aos seus praticantes.


Fig. 06 – A ARTE do paciente Arthur Bispo do Rosário permite estudos, sistematizações no caminho do grupo de pesquisa da Drª Nise da Silveira e o seu Museu do Inconsciente

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bispo_do_Ros%C3%A1rio

Uma nova série nasce, muitas vezes, se desenvolve e produz obras, numa tradição religiosa, dando origem à arte sacra.

Quando esta apropriação traz uma alta de carga de subversão dos meios e das mensagens estamos diante da arte naif. Os tropeços conceituais certamente são muito mais hilariantes e/ou graves do que os tropeços verbais de uma criança. Afinal o pintor naif, Henry Rousseau, considerava-se, a si mesmo, como o “maior pintor egípcio”. Esta ingenuidade desvela todo o potencial criativo que é universal e imemorial na espécie humana e busca formas de expressão na maioria das civilizações. O caudal das artes herdades de tradições culturais e afazeres do quotidiano, desembocam na arte popular com rígidos padrões inquestionados pelo se praticante. Se esta apropriação procede de culturas mais elaboradas temos o kitsch cujas obras já nascem consumidas.


http://paintbrushers.blogspot.com/2009/03/semana-de-arte-modesta-releitura-de.html

Fig. 07 – A TARSILA do AMARAL na condição de artista erudita realizou freqüentes incursões entre ex-votos e pinturas sem maiores pretensões do que expressar sentimentos sem maiores pretensões estéticas do que o puro prazer de expressão dos seus autores situado no poder originário da nação e da cultura brasileira.

Esta manifestação não é possível confundir com a arte primitiva, pois esta além do impulso, da apropriação e da subversão contém o germe de uma nova tradição que o tempo começa a revelar no olhar retrospectivo. Ela constitui a origem de uma série nova que num determinado tempo, lugar e indivíduo singular, começa a tomar forma. Os artistas, que são pioneiros e instauram uma tradição, são considerados como os artistas primitivos desta tradição ou da série estética que eles inauguraram. Quando o pintor florentino Giotto retomou a tinta e o pincel em vez da filigrana em vez dos metais das e pedras preciosas, dos estereotipados ícones bizantinos, foi considerado um dos primitivos da grande expansão da pintura do Renascimento.


http://www.heitordosprazeres.com.br/hp/biopai.htm

Fig. 08 – Oba do artista visual e sambista HEITOR dos PRAZERES (1898- 1966)

Apesar da dificuldade para atingir a coerência das crianças e dos primitivos, proíbe-se que elas façam ARTES. Para o adulto existe o desafio de manter e depois adquirir uma segunda natureza. Todos nascemos com a carga genética de milhões anos de evolução. Contudo a cultura é um fato externo e necessário de adquirir e depois tornar coerente com o nosso tempo, circunstâncias mutantes em cada indivíduo e lugar.


Fig. 09 – Carlos Alberto de OLIVEIRA ( CARLÃO) desenho com esferográfica para a sua exposição na FEEVALE – Novo Hamburgo entre os dias 17 de junho a 08 de julho de 2004

Artistas trazem-nos preciosos depoimentos de mergulhos pessoais profundos que fizeram no fenômeno estrito da ARTE ao aplicarem nela a sua atenção e o seu tempo integral. Assim a escultora Leda Flores elaborou o lado intimista da ARTE e escreveu que

“Na minha opinião, o verdadeiro artista, aquele que é sincero e profundo, deixa transparecer, em sua obra, toda a sua experiência de vida; através de sua sensibilidade, filtra-se o que captou de seu mundo exterior, e dentro de uma técnica apurada, encontra a verdadeira finalidade de expressar-se em arte”.


Fig. 10 – Obra de LEDA FLORES de uma série de Xerox e de interferências.

Na medida em que há necessidade de expandir este espaço individual para o espaço publico e universal, impõe-se prestar também atenção aos interesses externos da prática artística e formar juízos de valor ao seu lado épico. Entre estes interesses externos e sociais inerentes à ARTE, Leon Battista ALBERTI insistia que a FAMA é a RECOMPENSA do ARTISTA. Ciente que este era apenas o lado externo da ARTE, este autor condenava toda a busca imoderada por esta mesma FAMA. Assim Alberti no seu tratado DA PINTURA, na parte 29, registrava:

“Esta arte confere prazer, honras, riquezas e fama perpétua para aqueles que são os seus mestres. Sendo, como dizemos, a Pintura é um excelente e antiqüíssimo ornamento das coisas, digna de homens livres, grata aos doutos e aos não-doutos. As obras da Pintura conferem muito confortos lícitos aos jovens. Aconselho, pois, que estudam a Pintura para que as suas obras sejam dignas.

Aqueles que buscam a sua maior glória na Pintura, tenham o maior cuidado para não comprarem nome glória. Vejam como os antigos já insistiam em que a ganância é inimiga da virtude. Os que quiserem comprar inspiração e criatividade raramente atingem frutos pela ganância. Eu vi muitos florirem na primeira aprendizagem, caírem na busca do lucro. Não atingiram nem a riqueza nem a fama, ainda que o pudessem atingir se tivessem usado o seu engenho no estudo”.


http://cabenevidespaixao.wordpress.com/2010/11/13/1082/

Fig. 11 – Cartaz de evento da SEMANA de ARTE MODESTA de 16 a 19 de novembro de 2010 -A Na PUC - SP

Na mesma linha a pintora Leda Flores percebeu e registrou esta possível corrupção e a mesma busca imoderada de fama da parte de que pratica a ARTE

- “Existem os que usam a arte, tão somente como meio de suprir suas necessidades econômicas; os que a usam como política de comunicação à massa. E os cômicos, intelectualóides, os que fazem questão de projetar-se no mundo dos louvores, assim saciando a sua vaidade; para isso devem estar na ordem do dia, seguindo o último figurino de Paris, e alegam aos brados: o figurino está superado: só o abstracionismo é valido, ligeiro... já foi superado, entrou agora, a inovação concretista, e mais ismos, ismos, ismos... – opa, que é isto? Voltou a moda o figurativo, claro com alguns detalhes diferentes, que lhe dão “charme”.


Fig. 12 – A ARTE de MALVINA - ELI HEIL – 1929 - possui fundação e acervo permanente em Santa Catarina. Caixa de meias – tampa e fundo píntados com tinta industrial em 1989 – Obra confiada ao autor pela artista Crhistina Balbão

http://www.eliheil.org.br/

http://artetecta.blogspot.com/2010/04/o-fantastico-mundo-ovo-de-eli-heil.html


Por todas esta razões faz sentido um “MUSEU de ARTE MODESTA” . As manifestações de arte menos pretensiosas de busca de fama e de riqueza, não correm este perigo. Na busca da ARTE MODESTA conhecem os limites ou eles mesmos as traçam como uma espécie de contrato social. Não é por acaso que o mergulho de Pablo Picasso na Arte primitiva africana, no Museu de Arte Antropológico de Paris, fosse tão fecundo para toda a arte do século XX.


Fig. 13 – A ARTE INDÍGENA BRASILEIRA nas suas buscas formais características de todas culturas humanas quando atingem na era da pedra polida. Os arquétipos comandam a construção formal destas obras no objeto lítico zoomorfo para esmagar e moer – Canela- RS – Coleção particular da Família Boera.

O tropeço verbal da criança não é arte. Estas manifestações, contempladas em, si mesmas, remetem perigosamente a ARTE para próxima da Natureza, do acaso, dos mecanismos de fuga e da alienação. As artes ditas bruta, ínsita, popular, naif, religiosa, primitiva e tantas outras denominações, possuem o grande mérito de perturbar as rígidas concepções e causar estranhamento do repertório adulto e erudito da ARTE. No entanto escancaram estas imensas portas e janelas para outros universos ainda inexplorados. De posse destas concepções, e de tantos outros mais, o autêntico artista pode ultrapassar estas fronteiras, e de outras tantas mais. O impulso, do tropeço, levam o artista para a ruptura epistêmica Ruptura através da qual ele pode divisar o interior deste campo e recomeçar a sua obra pela raiz nova e autêntica. Campo no qual pode explorar o rico potencial e manter o continuum da sua criação diária de uma obra coerente consigo mesmo, com o seu tempo e o seu lugar.

FONTES deste TEXTO

ALBERTI, Leon Battista (1404-1472) , De Pictura - versão vulgar (1435) latina (1436) : a cura di Cecil Grayson TRATTO DA: De Pictura , Laterza 1980, 1a EDIZIONE ELETTRONICA DEL: 7 giugno 1998

http://www.liberliber.it/biblioteca/licenze/ + http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/lb000014.pdf

LEDA FLORES – “CONVERSA DE CERAMISTAS PARA UM GRAVADOR INDISCRETO” papeis inéditos da artista. Texto integral aos cuidados do Arquiteto Luiz Carlos Flores – Porto Alegre - RS

MUSEU de ARTE MODESTA LEMONDE| 30.07.11 | 15h14Culture

http://www.lemonde.fr/culture/article/2011/07/30/l-art-modeste-un-territoire-inattendu-a-arpenter-a-sete_1554461_3246.html

FONTES das IMAGENS e BIOGRAFIAS.

ARQUEOLOGIA do RIO GRANDE do SUL

http://www.anchietano.unisinos.br/publicacoes/documentos/documentos05.pdf

ARQUEOLOGIA no URUGUAY

http://arindabo.blogspot.com/2010/12/10-de-diciembre-de-1917-nace-eladio.html

FIGARI

http://arindabo.blogspot.com/2011_06_01_archive.html

ARQUEOLOGIA e CAPÂO do LEÃO

http://capaodoleaohistoriaecultura.blogspot.com/2009_04_03_archive.html

ARTE BRUTA

http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_bruta

e Adolf WOLFLI 1864-1930)

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ARTE MODESTA – PUC-SP - 2009

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http://paintbrushers.blogspot.com/2009/03/semana-de-arte-modesta-releitura-de_9699.html

http://desassossegopuc.wordpress.com/tag/semana-de-arte-modesta/

http://paintbrushers.blogspot.com/2009/03/semana-de-arte-modesta-releitura-de.html

ARHUR BISPO do ROSÁRIO c.1910-1989

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HENRI ROUSSEAU 1844-1910

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JORGE CARDOSO BRANCO

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e MIGUEL BAKUN 1909-1963)

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MESTRE VITALINO (1909-1963)

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Musée Intenational de Art Modeste (MIAM) – Paris - site

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MOSTRA de ARTE MODESTA

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NAIF e/ou PRIMITIVA

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NISE da SILVEIRA ( 1905-1999)

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MUSEU de INCONSCIENTE

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ARTE X NÃO-ARTE

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VÍDEO – MIAM e obras de Bernard Belluc

http://www.youtube.com/watch?v=qk15AT-0sTk

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Fondé en 2000 par un artiste de renommée internationale, Hervé di Rosa, et un collectionneur fou, Bernard Belluc, le MIAM, (Musée International des Arts Modestes) expose les babioles de tous les jours, boules de neige, jouets en plastique, bonshommes de la Guerre des Etoiles, tortues ninjas, kinder surprises, soldats de plomb, goldoraks, peluches, gadgets spirituels, gourdes de vierge en plastique, cartes à jouer et autres curiosités trouvées dans l'abîme du quotidien et de la société de consommation. Le MIAM préserve et conserve toute la poésie de la culture populaire. L'Art modeste se situe à la frontière de l'Art Brut, de l'Art Naïf, de la collectionnite, de l'Art Forain et de celui des peintres du Dimanche.


http://www.miam.org
FESTIVAL INVISIBLE - Centre d'Art Passerelle - Brest - du 20 au 31 Mars (14h/18h30 - 3 euros)

http://terribabuleska.free.fr/index.php?2007/03/p2

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