sábado, 11 de junho de 2011

ISTO não é ARTE - 11

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

FILOSOFIA não é ARTE.

Os erros e as ignorâncias, é certo que são muito mais que as ciências, porque para saber e acertar não há mais que um caminho, e para errar infinitos”.

Antônio Vieira http://pt.scribd.com/doc/30471839/O-Erro-na-Literatura-Lapsos-e-Enganos

A busca de autonomia foi, e continua sendo, para o campo das forças da Arte, muito trabalhosa e problemática, porém primordial. Potentados apropriaram-se da criação, do trabalho do artista e do seu próprio nome submetendo-o à heteronomia física e legal. O artista atravessou e venceu, na aparência, a heteronomia física e legal da escravidão, da servidão e do mundo proletário. O artista encontra-se ainda tateando para vencer a heteronomia que o domina no espaço simbólico. Falta ainda sair da heteronomia do espaço simbólico dos campos da Filosofia, da Metafísica e da Teologia, entre muitos outros.


Fig 01 – ESCRIBA SENTADO – obra egípcia.

Não se trata, aqui, da busca da soberania da Arte. Escreve-se em relação á autonomia da Arte com as suas respectivas competências inerentes aos seus limites. Nesta busca da sua autonomia a Arte não possui nenhum projeto de onisciência, onipotência ou de eternidade.

Acredita-se que todos irão ganhar com o correto entendimento das competências da Arte e no traçado dos respectivos limites. Lucros que os campos lindeiros civilizados das forças da Arte conhecem, respeitam e usam, há muito tempo, com profundo proveito recíproco. Contudo a barbárie rebrota em todos os recantos e nos momentos mais inesperados Esta barbárie coloca a perder tudo aquilo que Arte conquistou com tanto trabalho e inteligência.


Fig 02 – ALEXANDRE MAGNO e DIÓGENES. A legenda conta e figura ilustra o filósofo que estava tomando sol quando o jovem Alexandre se aproximou, o encobriu pela sua sobra e proprôs ao Diógenes levá-lo para a sua corte: O filósofo foi categórico com o potentado:

-Senhor. ! Não me tires o que não me podes dar.

O trabalho inicia pela distinção e pela afirmação das competências físicas, legais e simbólicas da Arte face ao universo empírico e conceitual. Sem esquecer que se renova a heteronomia econômica, política e social e se sofistica na medida em que a cultura avança para o território simbólico, acumulando desafios para o artista.

Torna-se mais evidente a heteronomia física num acúmulo crescente e brutal na medida em que o artista busca as competências da sua autonomia, no âmbito da sua afirmação política. Nesta esfera política, o mais forte impõe um darwinismo, primitivo e selvagem, que nada possui em comum com a mensagem civilizatória da Arte e da Cultura. Esta dominação política reforça-se e se expressa materialmente por meio da hegemonia econômica.


Fig 03 – JÓVEM ROMANA MEDITANDO e ESCREVENDO

Na antiguidade clássica grega, o filósofo Platão já registrava o que já lhe era suficientemente claro em vista da busca da afirmação e da autonomia legal do artista:

veríamos desaparecer completamente todas as artes, sem esperança alguma de retorno, sufocada por esta lei que proíbe toda pesquisa. E a vida que já é bastante penosa, tornar-se-ia então totalmente insuportável . (Diálogos, 1991, p.417)

Contudo Platão não apresentava, para o artista, nenhuma solução criativa deste problema. Em outros termos podia-se entender neste registro “deixem o problema da lei para mim que estou propondo uma tirania iluminada”.

Na busca e na afirmação da autonomia estética faz com que o artista descobrisse que a heteronomia simbólica é projeção e prolongamento da heteronomia física. As forças econômicas, políticas e legais se dissimulam. Estas forças possuem os meios e os recursos para inflar o Ego (Fama) do artista, seduzindo-o e desafiando-o na busca de um tipo de BELEZA efêmera e pré-estabelecida pelas mesmas forças econômicas, políticas e legais. Com este recurso, impõe ao artista uma heterônoma simbólica subliminar e irresistível. Ocupando a mente, a vontade e os direitos do artista criador com esta falsa BELEZA, o poder legal, política e econômica oculta e dissimula as Verdades que lhes são inconvenientes ou controversas. Assim, a Arte é condenada a ser escrava, de uma pseudo BELEZA, que se limita aos singelos juízos do “gostar ou não gostar”. Esta dissimulação, por meio da estetização vulgar, apolítica e efêmera da BELEZA, não passa da soma de uma escravidão física e também simbólica.


Fig 04 – Jean Antoine HOUDON (1741-1828) – “François Marie Arouet - VOLTAIRE” (1694-1778) foi uma das expressões maiores do Iluminismo. Este amplo movimento teve ente seus representante Denis DIDEROT (1713-1784) que foi um doa mentores da Enciclopédia francesa . Nesta obra a Arte substituiu a Teologia e abriu e socializou com vinculações diretas com a era industrial.

Arte, no entanto, reivindica o direito a expressar, não só a Verdade que lhe inerente, mas a VERDADE em todas as dimensões. Isto implica também na busca da JUSTIÇA, que inicia com a reparação de erros do passado. Este direito, de expressar a sua Verdade, progride em direção de sua correta colocação no espaço simbólico da VERDADE e da JUSTIÇA que se complementam pelo DIREITO de a ARTE ter voz e vez.

A Arte, para ter este direito ingressa, também no deliberar e decidir no campo contratual onde ela necessita exercitar profundas e autênticas interações sociais, políticas e econômicas com o seu tempo. Interações que implicam, na capacidade da Arte, em negociar todos os lucros e as perdas físicas e simbólicas antes, durante e após as suas ações, e decorrentes de qualquer escolha no espaço mental e físico da civilização onde a Arte pretende ter voz e vez.

Uma civilização, como atual, é rica e oferece variadas interações, conexões vivas e fecundas para a reprodução da Arte. Arte que possui o mesmo direito de outras disciplinas de buscar apoio simultâneo no mundo empírico e no teórico. A Arte amplia as suas interações e conexões vivas e fecundas, para a sua reprodução, na medida em que ela se exercita dialeticamente na busca de suportes sensoriais e mentais. Assim também o poder da Arte flui nos dois sentidos.


Fig 05 - Immanuel KANT (1724-1804) o filósofo que não escreveu diretamente sobre Arte. Contudo, abriu um imenso arcabouço conceitual do qual a Arte continua a valer-se. De forma particular o conceito de autonomia permitiu conectar Razão, Arte e Moral.

A civilização contemporânea oferece, na sua diversificação crescente, uma grande variedade de interações e conexões e institucionais. A Arte havia criado instituições específicas e separadas para ela, desde o Renascimento Italiano. No entanto as Academias e os Conservatórios geraram uma “autonomia de favela” onde a Arte acabava falando sozinha. Falava consigo mesma e com os seus pares convertidos e convencidos das suas próprias verdades que estes pares convertidos e convencidos julgavam soberanas, conhecidas e aceitas por todos. No entanto este quadro provocou, de fato, e de direito, uma endogenia onde a palavra “interação” é tabu. Esta endogenia admite, no máximo as palavras “cooperação”e “participação” estritamente naquilo que ela julga a “sua” verdade Esta endogenia relegou a ARTE ao FAZER pelo FAZER. Devido a este reducionismo, da Arte, encastelada na sua “autonomia de favela”, é competente para poucos e limitados treinos dialéticos. Competência exercida nas raras superações de contradições e agravado pela falta de vigilância na renovação dos seus suportes conceituais da sua reprodução. Este quadro entrópico, do campo das Artes, foi percebido como um território apetitoso para as áreas lindeiras. As áreas lindeiras, como a Estética, a Filosofia, a Sociologia, a Semiótica, ocupavam-se do suportes conceituas e já haviam resolvido as questões de sua identidade e das suas práticas. Reforçados por este identidade e autonomia, a Estética, a Filosofia, a Sociologia, a Semiótica ocuparam estes campos específicos e no interior destas instituições “favelizadas pela pseudo autonomia que a Arte julgava possuir e ter direito.


Fig 06 – Georg Wilhel Friederich HEGEL (1770-1831) após Alexander Gottlieb BAUMGARTEN (1714-1762) retomou o tema da Estética na Filosofia. Trabalhando com a Dialética apontou competências especificas e fecundas da Arte face ao campo da Metafísica

Os filósofos, que trabalhavam com a Ética, perceberam este desequilíbrio. No início do século XIX Hegel registrou:

Há dois métodos distintos e opostos para seguir na indagação sobre Arte. Um é empírico e histórico: tenta obter do estudo das obras primas das Artes as regras críticas e os princípios artísticos. O outro é racional e a priori: eleva-se imediatamente ao ideal e deduz dele as leis gerais. Aristóteles e Platão representam ambos os métodos. O primeiro conduz a uma teoria estreita, incapaz de compreender a Arte na plenitude. O segundo isolando-se nas alturas da metafísica, não sabe descer de lá para se aplicar as artes particulares e apreciar suas obras. O verdadeiro método consiste na reunião destes procedimentos, na sua conciliação e emprego simultâneo. Ao conhecimento positivo das obras de Arte, devem unir-se a reflexão filosófica e a capacidade de compreender suas características e leis imutáveis”.Hegel, 1946, p.33

Este mestre da Dialética colocava o problema. No entanto ele também tinha plena consciência de quem deveria realizar as escolhas determinantes era o Artista. Escolhas que ele deveria exercer até para que tivesse a sanção moral e ética da sua autonomia. Era o ensinamento de Immanuel Kant nas suas diversas obras que tenha o foco na “RAZÃO”.

A Arte, como ação humana, leva ao terreno da ética, pois Kant vinculou a vontade da ação humana com a moralidade e a autonomia, ao afirmar na Crítica da Razão Prática (Livro I, teorema IV), que “a vontade possui moralidade no limite da sua autonomia , o que faz com que a ação do artista busque a ampliação permanente do limite da sua autonomia. Jacques Maritain associou a Ética com a Arte, afirmando (1961: 53) “a virtude da arte não tolera que a obra sofra uma intromissão estranha nas leis próprias da construção, nem que seja regulada de perto por uma outra coisa, a não ser a própria virtude da arte. Essa moralidade pode ser de quem produz (agente) e de quem recebe (público) a ação da arte.


Fig 07 – François-Auguste René RODIN (1840-1917), O Pensador (1888-1903). O vigor e a força mental decorrem de um corpo vigoroso e sadio. Assim o filósofo Platão, o homem “dos ombros largos” foi campeão das Olimpíadas concretizou o lema “mente sadia num corpo sadio”.

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Certamente o artista poderia realizar estas escolhas no âmbito do seu próprio campo. Contudo, a Arte fortalecida e consciente dos seus problemas face à civilização contemporânea, tinha o recurso de correr o risco de se expor e ser testada pela Universidade contemporânea. Nesta Universidade, ela poderia quebrar a sua “autonomia de favela”, além de recuperar o nome das ARTES que a Universidade Medieval havia remetido para outros campos, como a Medicina, Leis, Astronomia e Matemática. No âmbito institucional da universidade, posterior à Revolução Francesa, a Arte poderia constituir um campo de forças próprias e exercitadas na interação com os campos lindeiros. Abria-se a perspectiva da circulação do seu poder, simbólico e físico, para realizar a sua desejada capacidade de negociar os lucros e as perdas com campos de forças institucionalizadas há muito tempo. Evidente que este campo da Universidade implicaria em escolhas no espaço mental e físico da civilização onde ela pretende ter voz e vez. O preço da sua institucionalização universitária não era só uma qualificação momentânea, mas o “cultivo continuado e atualizado do hábito da integridade intelectual” na concepção de Max Weber. O artista Marcel Duchamp percebeu esta competência do Artista que ele poderia fazer circular na Instituição universitário hodierna

O artista é hoje em dia um estranho reservatório de valores para-espirituais em oposição absoluta com o FUNCIONALISMO diário, pelo qual a Ciência recebe uma admiração cega. Digo cego, porque não creio mais na importância suprema destas soluções científicas que não atingem mais os problemas pessoais do ser humano”. Duchamp, 1991. p. 237

As sequências de séries de escolhas, continuadas e atualizadas, do hábito da integridade intelectual, culminam na coerência de organização da criatividade, tanto do pensamento como do corpo.


Fig 08 – HEIDEGGER Martin (1889-1976) soube correr riscos entre concepções e ideologia antagônicas e excludentes. Como o desafio o “ENTE no SER” retomou na Arte o princípio do espanto grego. A sua discípula Hannah Arendt (1906-1975) desenvolveu este tema em diversas direções com destaque para o papel da OBRA de ARTE. .

O Verbo ilumina as escolhas das sequencias destes caminhos coerentes. A palavra constitui o seu próprio campo da Poesia e da Literatura. Mas o Verbo também exerce o papel de orientador para todos os sentidos humanos. A Poética motiva e indica os caminhos da Arte contemporânea. Não é só o Verbo, ou a Palavra, que orienta o olhar. A Palavra chama a atenção para o silêncio da Música, para o Espaço vazio conquistado pela Escultura e pela Arquitetura e as relações entre o Tempo e o Movimento de diversas expressões artísticas. Numa palavra a Arte nos propõe e expressa a sua mensagem como um bloco múltiplo e intenso para todos os sentidos humanos. Cabe à Palavra a linearizar esta mensagem, buscando torná-la unívoca e fazê-la compreendida no universo da Comunicação humana.

A Palavra e o Verbo são os territórios da Filosofia, da Estética e da Crítica de Arte. Contudo a Filosofia, na medida em que convive e penetra no campo das forças da Arte, necessita dar-se conta que ela é mediadora e torna-se uma ferramenta e instrumental. Ferramenta e instrumental valiosos, contudo, neste momento, não é só Retórica. A Obra de Arte é primordial neste campo de mediação. Esta Obra de Arte impõe e necessita da atenção, de respeito e de coerência máxima da Filosofia, da Estética e da Crítica de Arte na Comunicação que se fizer em relação a esta Obra.

O presente texto não se destina aos filósofos qualificados, mas a pessoas com dificuldades de lidar, conceitual e fisicamente, com o poder simbólico e empírico da Arte. Os filósofos sempre “foram amigos do saber”, até pela etimologia que distingue o seu campo. Como tais eles perceberam e sabem que a Obra física de Arte é primordial e que nada existe na inteligência que não tenha passado pelos sentidos humanos.

Nas distinções, aqui apontadas, pode-se constatar que a FILOSOFIA e a ARTE possuem competências, limites e caminhos próprios e distintos entre si. Assim, a confusão e a sobreposição dos limites das suas respectivas forças simbólicas e físicas, seria um demérito para ambas.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS CITADAS.

HEGEL Jorge Guilherme Frederico (1770-1831). De lo Bello y sus formas (Estética) Inroducción - II – Método a seguir en la indagación filosófica de lo bello y dela Arte – Buenos Aires : Espasa Calpe Argentina (Coleção AustraL – Volume extra) 1946, p. 33

KANT, Emmanuel (1742-1804). Crítica da razão prática. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. 255p

MARITAIN, Jacques(1882-1973). La responsabilité de l’artiste. Paris : Arthème Fayard, 1961. 121p.

PLATÃO ( 427-347) DIÁLOGOS – (5ª ed.) São Paulo : Nova Cultural, 1991 – (Os pensadores)

http://pt.scribd.com/doc/12868010/Colecao-Os-Pensadores-Platao

SANOULLET, Michel. DUCHAMP DU SIGNE réunis et présentés par Michel Sanouillet Paris :Flammarrion, 1991, pp. 236-239 - + http://www.educacaopublica.rj.gov.br/cultura/artes/0026.html

WEBER, Max. Sobre a universidade. São Paulo : Cortez, 1989. 152 p.

TITIVILO - TITIVILLUS

http://pt.scribd.com/doc/30471839/O-Erro-na-Literatura-Lapsos-e-Enganos

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