PEDRO WEINGÄRTNER, a ESCOLA de ARTES e a PINACOTECA do INSTITUTO LIVRE de BELAS ARTES
do RIO GRANDE do SUL
Fig. 01 – Pedro Weingärtner
Foto - Acervo MARGS www.margs.rs.gov.br/
O artista pintor Pedro Weingärtner (1853-1929) interagiu de diversas formas na Escola de Artes do IBA-RS. Weingärtner é fundamental para a Pinacoteca do Instituto de Artes, atualmente integrado na UFRGS. Nesta atualidade é necessário examinar o sentido que representou e representa no imaginário e no espaço da formação de um artista que descobre tardiamente a sua vocação para as artes. Além disto é necessário avaliar o estatuto de artista na passagem do regime imperial para o republicano.
A Escola de Artes organizava para o Instituto de Belas Artes RS os primórdios de sua Pinacoteca, onde figurava a intenção de adquirir obras de Pedro Weingärtner. Isto é visível no Relatório de 1909-1912 realizado pelo presidente do Instituto, Olindo de Oliveira ao Presidente do Estado (p.35)[1],. Olinto registrava, neste Relatório, as ações de Libindo Ferrás nesta direção
“De accordo ainda com o mesmo professor e com o intuito de iniciar a formação da galeria de pintura desta Escola, autorisei-o no começo deste anno, por occasião da exposição do pintor brazileiro A. Parreiras, a adquirir uma das telas do mesmo. Foi escolhido o quadro intitulado Christo, cedido pelo autor pela quantia de 700$000 rs. Na mesa occasião também foi adquirido um primoroso quadro do pintor hespanhol Barbazan, Crepúsculo, pela somma de 900$000 rs. Auxiliou-nos gentilmente na escolha destas telas o Sr. Carlos Torelly, distincto artista patricio aqui residente. Seria de grande vantagem para a difusão do gosto pela verdadeira arte, e para a educação artistica do publico, que o Instituto continuasse, na medida de suas forças, a formar as suas galerias de pintura e de esculptura, adquirindo boas copias de gesso, copias de obras typicas da arte classica de pintura, e telas originaes modernas, entre as quaes algumas das de P. Weingärtner, A. Freitas (rio-grandenses) e outros artistas nacionaes”.
Libindo Ferrás desempenhava as funções de consultor das aquisições dos quadros para a Pinacoteca do ILBA-RS. Além da sua atividade diária, no magistério, ele organizava, convidava e fazia parte das bancas e as exposições anuais e as tarefas de Conservador do prédio.
Na seqüência dos relatórios de Libindo é possível acompanhar a tarefa de avalista das aquisições de obras para a Pinacoteca. Assim ele registrou em 1913 o contato com Pedro Weingärtner para adquirir, mediante compra, o quadro ‘Maricás”[2] queconsta na base da futura Pinacoteca Barão de Santo Ângelo.
[1] - . Relatórios de 1909 a 1912 do Instituto de Bellas Artes do Rio Grande Sul apresentados pelo Presidente Dr. Olinto de Oliveira. Porto Alegra : Globo, 1912. 41 p. +c/estatísticas. }
[2] - Relatório de 1913 de Libindo Ferrás ao Presidente do Instituto de Belas Artes {017Relat}
Fig. 02 – Pedro Weingärtner - “Maricás” – 1911- Óleo sobre tela 35 X 60 cm
http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/xcgal/displayimage.php?pid=697&fullsize=1
Nesse mesmo ano, de 1913, esteve na Escola o pintor italiano Miro da Gasparello e que também deixou obras no acervo do IBA-RS.
Entre estas obras da incipiente Pinacoteca do Instituto, existe, no relatório de Libindo, relativo ao ano de 1920, o registro de uma doação preciosa de Pedro Weingärtner.
As diversas visitas de Pedro Weingärtner à Escola de Artes do IBA-RS foram marcantes para o ano de 1920. Weingärtner deu sugestões, fez demonstrações ao curso superior e participou das bancas do final do ano.
Fig. 03 – Libindo FERRÁS - Relatório de 1920 ao Presidente do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul
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Para este quadro «Solidão», adquirido de Pedro Weingärtner, o Instituto desembolsou a quantia de 2.000$000 (dois contos de réis). Dois anos depois a Pinacoteca do Instituto adquiriu, pelo mesmo preço, um quadro da autoria de Libindo, como única compra do ano de 1922.
Neste mesmo ano 1922, no relatório de Antônio Marinho Chaves[1], transparece outra indicação onde se percebe a orientação de Pedro Weingärtner. O presidente do Instituto afirma, no seu relatório, que a obra “Crepúsculo” do pintor espanhol e Barbasan seja o 1º quadro adquirido pela Pinacoteca do IBA-RS. Barbasan deve ser o pintor espanhol Mariano Barbasán Laguerela (1865-1924)[2], grande amigo de Weingärtner e que trouxe obras do espanhol para serem comercializados no Brasil. Assim o IBA-RS deve ter adquirido por intermédio e indicação de Weingärtner este quadro pela quantia de 900$000.
[1] - MARINHO CHAVES, Antônio - Relatório de 1922 do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul – Porto Alegre : Livraria do Comércio, 1923 52 p. + estatísticas
[2] -TARASANTCHI, Ruth Sprung Minha descoberta de Pedro Weingärtner, in Pedro Weingärtner 1853-1929 : um artista entre o Velho e o Novo Mundo. - São Paulo : Pinacoteca do Estado de São Paulo, , 2009, p. 28
http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/wiwimod/index.php?page=LAGUERUELA,+M.+Barbesan
Fig. 04 – Mariano Barbasán Laguerela (1865-1924) “Crepúsculo” 1903 Óleo sobre tela 24 X 35 cm
http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/xcgal/displayimage.php?pid=89&fullsize=1
O pioneirismo do Instituto de Artes de instalar no Rio Grande do Sul e de manter o acervo de sua Pinacoteca, necessita destaque e a busca de sentido desta iniciativa.
O fundador e Presidente do Instituto, Olinto de Oliveira manifestava a preocupação com a pinacoteca do Instituto, no seu antológico Relatório 1909-1912. Escrevia que a “grande vantagem para a diffusão do gosto pela verdadeira arte e para a educação artística do público, que o Instituto continuasse, na medida de suas forças, a formar as suas galerias de pintura e de esculptura”.
Além do ‘gozo público’, das funções didáticas e da própria representação da identidade da instituição, os agentes também se almejava imobilizar o capital constitutivo do Instituto em valores mais perenes, representados pela obras de arte. Além do valor econômico, cultural e intrínseco da obra de arte, a pinacoteca tinha por objetivo ajudar ao artista plástico a se fixar em Porto Alegre devido às múltiplas razões pois o cidadão local não cultivara o hábito[1] de investir em arte, para usufruto pessoal. O hábito de a população não investir em obras de artistas locais, deixava apenas a opção dele transformar-se em docente na Escola de Artes do ILBA-RS, condição que poderia ser minorada pela venda ocasional de suas obras, constituindo uma forma de suplementar os vencimentos que recebiam pelas aulas dadas, e não pelo cargo na Escola[2].
No ano de 1911 o pintor Oscar Boeira começou séries intermitentes de aulas e que se prolongaram até 1922, quando Pelichek assumiu como docente fixo. Em 1916 esteve na Escola o pintor Lucílio de Albuquerque (1877-1939). Em 1919 esteve no Instituto Eugênio Latour do qual a Pinacoteca adquiriu uma série de pinturas originais. Também em 1919 o Instituto adquiriu as obras de Carlos Torelly e Oscar Pereira da Silva
O livro de atas da CC-ILBA-RS registrou no dia 20.02.1925: “A galeria do Instituto foi augmentada em 3 quadros: ‘A sereia em Paquetá’ de Helio Seling por 1:500$000; ‘Rebanho de ovelhas’ de Miskier por 600$000 – ‘Última Luz’ de Libindo Ferráz por 350$000” [3]. No mesmo ano há o registro[4] da entrada de uma obra de Ângelo Guido um dos futuros diretores do IBA-RS.
Na conclusão deste artigo há necessidade de registrar a lucidez e a solidez da centenária Escola de Artes do IBA-RS ao iniciar o seu acervo de arte com as obras de Pedro Weingärtner.
Confira os outros artistas e as suas obras que constam na Pinacoteca Barão de Santo Ângelo do Instituto de Artes da UFRGS em http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/mastop_publish/
Veja mais em:
SIMON, Círio “ORIGENS DO INSTITUTO DE ARTES DA UFRGSETAPAS ENTRE 1908-1962 E CONTRIBUIÇÕES NA CONSTITUIÇÃO DE EXPRESSÕES DE AUTONOMIA NO SISTEMA DE ARTES VISUAIS DO RIO GRANDE DO SUL” Porto Alegre : PUC-RS 2008 660 p
Disponíve, na íntegra, em : http://www.ciriosimon.pro.br/aca/aca.html
[1] - O hábito luso de não colecionar obras de arte, para posse e usufruto pessoal individual possui os seus índices nos pequenos domicílios, nos quais não podia ostentar qualquer luxo, passando pelo controle sobre retratos do cidadão, imagens de grupos individuais, até velhos hábitos arraigados, dos quais Miguel Ângelo soube através do seu ajudante português (in Holanda, 1955, p.64). Numa entrevista Miguel Ângelo comentou essa hábito de não investir em obras de arte, que enquanto na península Ibérica, mesmo aqueles que as aplaudiam, não a compravam. Francisco Holanda registrou (1955 : 66) a fala do mestre como“Assim que nesta nossa terra até os que não estimam muito a pintura a pagam muito melhor que em Espanha e Portugal, os que muito a festejam”.
HOLANDA, Francisco. Diálogos de Roma : da pintura antiga. Lisboa Sá da Costa, 1955, 158p.
[2] - Um dos artistas plásticos mais privilegiados por essa política institucional foi Libindo Ferrás. Ainda depois de suas aposentadoria , numa correspondência do dia 22.11.1938, ele oferecia a Tasso Corrêa um quadro seu a ser adquirido para a Pinacoteca do IBA-RS. Documentos do currículo de Tasso Bolívar Corrêa. Essa política praticada pelo Instituto será sumariada nas conclusões da presente tese.
[3] - Livro das atas nº I da CC-I. B. A, sessão de 20.02.1925 f. 32.
[4] - No Livro das Atas nº I da CC-ILBA-RS consta (ff. 34f/ )“tendo o pintor brasileiro Ângelo Guido proposto ao Instituto a venda de um quadro de sua exposição, nesta capital, determinou ao professor Libindo Ferraz que désse parecer sobre a proposta apresentada e que neste acto leu à Comissão Central. Sendo amplamente favorável à àquele artista, a Comissão Central concordou em que se adquirisse o quadro por um conto de réis”.
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