TRANSFORMAR a CONTRADIÇÃO
em COMPLEMENTARIEDADE.
“A investigação histórica admite, desde os
primeiros passos, que o inquérito tenha já uma direção. De início está o
espírito. Nunca, em ciência alguma, foi fecunda a observação passiva. Supondo,
aliás, que seja possível”.
[1] BLOCH, Marc
(1886-1944) . Introdução à História.[3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE -
.Lisboa :Europa- América 1976 179 p.
Eduardo VIEIRA da CUNHA (1956- ) Acrílico sobre
tela
Fig.
01 – A obra de Eduardo VIEIRA da
CUNHA trabalha com signos da ERA
INDUSTRIAL e em acelerado processo de entropia
Eduardo os transpõem como
memória e sonho para a ERA PÒS-INDUSTRIAL abrindo espaço poético como signos do seu TEMPO, seu
LUGAR e sua SOCIEDADE.
É impossível negar uma direção da ERA INDUSTRIAL desde a sua origem.
Nascida sob as luzes da Razão humana, embalada no berço das estratégias de
comunicação unívoca e linear e sustentada com o leite diário das maquinas e da
imprensa ela se agigantou dominou rapidamente todo o planeta Terra.
A ERA INDUSTRIAL vasculhou este planeta, coletou, acumulou, cravou um
alfinete classificatório nas costas de todos e em tudo. Ordenou a todos e a tudo
em função da utilidade ou do descarte comandado pela lógica de uma linha de
produção de sentido linear, unidirecional com controle de qualidade preço de
saída e distribuição.
WESLEY DUKE LEE. – (1931-2010) - colecionador e gato
Fig.
02 – O arista WESLEY DUKE LEE como
colecionador mostra como sua obra coerente com seu TEMPO, seu LUGAR e sua
SOCIEDADE pode ser complementada e fertilizada por obras de arte proveniente da
ERA INDUSTRIAL O que flui em ambos estes tempos é a vida e a coerência das
construções das obras que consolidam este diálogo e que ganha intensidade e
sentido na medida em que se materializam em obras de arte
O domínio das máquinas e da
linha de montagem permitiu que a ERA INDUSTRIAL submetessem o planeta Terra violentamente
ao seu poder total e hegemônico. Hegemonia que mostra, no século XXI, o alto preço deste projeto humano inclusive
com ameaças de catástrofes irreversíveis para espécie.
Vik MUNIZ -1961-
foto
Fig.
03 – Vik MUNIZ realiza s visitas
constantes ao imenso acúmulo da arte produzida aos paradigmas consagrados e
divulgados pela ERA INDUSTRIAL evidencia esta produtiva da complementaridade
desta ERA com a ERA PÓS-INDUSTRIAL Uma tradição de estímulo reciproco como
aquela praticado pela Academia Francesa nas interações ente ANTIGOS e MODERNOS[1] ou das constantes
“RELEITURAS” da obra de Pablo Picasso.
A Arte não escapou e foi testemunho desta lógica da Era Industrial. Esta lógica classificou as obras de arte na
matriz industrial e as acumulou em
museus. Estes nasceram e se fortaleceram nesta ERA INDUSTRIAL. O artista
recebeu a opção da escolha entre ser GÊNIO ou ser DESCARTE do sistema. Os
centros hegemônicos impuseram a sua estética aos territórios sob o sua dominação
intelectual, econômica e política.
Nada associável à Arte escapou da sanha classificatória deste alfinete.
Sob o domínio da ERA INDUSTRIAL o termo
BELEZA desceu ao seu sentido mais vil e ordinário. O adjetivo “BELAS” foi
forçada a se divorciar das ARTES pois
mais confundia e atrapalhava em qualquer discurso da ERA PÓS-INDUSTRIAL.
Permaneceu o hábito e a mentalidade tão dominante que uma larga população não
reconhece ARTE a não ser que seja delimitado e referendado pelo adjetivo “BELAS”.
Na complementaridade a ERA PÓS-INDUSTRIAL teve de recuar ao período pré-industrial no qual a VERDADE, no seu esplendor, era associada e conduzia à BELEZA. Esplendor da VERDADE que OBRA de ARTE materializa para os sentidos humanos.
[1] MEROT, Alain (edit.) Les conférences de l’Academie royale de peinture et esculpture au XVIIe siècle. Paris : RNSBA, 1996. 533p.
André VENZON Consumidores de espaço
Fig.
04 – André VENZON evidencia nas suas
múltiplas obras - entre outros tópicos -
o cenário urbano e as contradições daquilo que deveria FACILITAR o trânsito e a
ORIENTAÇÂO acaba provocando o contrário. As obras da ERA PÒS-INDUSTRIAL
são competentes para denunciar as
barreiras, as ruínas e as catástrofes
que a lógica da ERA INDUSTRIAL alimentou e foi incoerente para
transformar em COMPLEMENTARIEDADE.
Para uma ruptura epistêmica, estética e produtiva com a ERA INDUSTRIAL
não é possível embarcar inicialmente nas suas táticas, estratégias e logística.
A ERA das MÁQUINAS usou táticas comandadas pela OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA daquilo
que foi produzido no dia anterior. Estratégia concebida e executada sob a lógica
da acumulação de gente, insumos e técnicas. Logística de distribuição em mão
única do CENTRO de CONSAGRAÇÃO e canalizado em direção a PERIFERIA e DESCARTE. Mão
única impulsionada pela falta de contraditório e do fluxo da PERIFERIA acrítica
para o CENTRO HEGEMÔNICO que se supõe cheio de razão e de sentido ortodoxo
inquestionável.
Na contradição de sua razão e de seu sentido ortodoxia inquestionável
a ERA INDUSTRIAL é capaz de mudar de opinião e gosto. Nesta contradição é
complacente consigo mesma ao ser dobrada pela força, pela saturação do
marketing e peça propaganda dos produtos legitimados pelos centros hegemônicos.
REGINA
SILVEIRA – Projeção sobre a fachada do Museu Iberê Camargo – Porto
Alegre- RS, em março de
2011,
Fig.
05 – A intervenção de Regina Silveira
na obra de Álvaro SIZA constituiu uma COMPLEMENTARIEDADE entre a Poética Visual
e a Arquitetura e o Urbanismo Esta
COMPLEMENTARIEDADE - entre as diversos setores do campo artístico - que era
natural e bem quisto antes da ERA INDUSTRIAL esta separou, compartimentalizou e
tipificou. Estou se não lançou e guerra aberta.
Um projeto coerente com a ERA PÓS-INDUSTRIAL SABE, QUER e TOMA os
meios para CONHECER, PESQUISAR e SELECIONAR tudo aquilo que a ERA INDUSTRIAL
está legando inclusive as suas contradições. A ERA PÓS-INDUSTRIAL não pode
embarcar nas contradições do maniqueismo da ERA INDUSTRIAL. Maniqueismo do TUDO ou do NADA, CERTO ou do
ERRADO, BOM ou do MAU, do RICO ou do POBRE e do NOVO ou do VELHO. Maniqueismo que conduziu a lógica de quebrar, desqualificar e recomeçar TUDO a partir do
GOSTEI ou do NÃO GOSTEI. Maniqueismo fonte e origem das sangrentas revoluções, GUERRAS
MUNDIAS e da GUERRA FRIA global. Maniqueismo dos projetos insanos do TUDO ou do
NADA que devastaram o planeta Terra e colocaram em perigo o futuro da espécie
humana no seu lar de origem. Maniqueismo que comandou o perigo da única escolha
como “pode ser de qualquer cor: contanto que seja PRETA”, atribuído um
dos príncipes da ERA INDUSTRIAL hegemônica. Hegemonia escamoteada pela anestesia provocada pelo MANIFESTO FUTURISTA
da exaltação extrema da máquina e sem pensar nos efeitos que provocaria. Porém
projetada até os dias atuais pelo pensamento do pragmatismo industrial cujo
teórico norte-americano Frederick Winslow TAYLOR,[1] ainda
dita e comanda a ERA INDUSTRIAL. Para constatar a presença, a ação e força do
pensamento taylorista basta entrar em qualquer lanchonete sob alguma franquia originária de uma cultura
hegemônica.
[1] - PRAGMATISMO de
TAYLOR, Frederick Winslow
(1856-1915). Princípios de administração
científica. 7. ed. São
Paulo: Atlas, 1980, 134 p.
REGINA
SILVEIRA – Instalação no Museu Iberê Camargo – Porto Alegre- RS – março
de 2011
Fig.
06 – A apropriação da linguagens e
dos meios gráficos da ERA INDUSTRIAL realizada
e dominados por Regina Silveira permite-lhe remeter para a ERA PÒS-INDUSTRIAL para criar numa obra
poética complementar entre os momentos e etapas da cultura humana. Esta obra concebida e planejada pela
artista permite a sua materialização em novo TEMPO, outro LUGAR e uma SOCIEDADE
competente para lidar com este repertório
Resta para a ERA PÓS-INDUSTRIAL enveredar para o caminho de TRANSFIGURAR a CONTRADIÇÃO da ERA das MÁQUINAS em COMPLEMENTARIEDADE.
O ANONIMATO e a OBRA de ARTE tomam
lugar na ERA PÓS-INDUSTRIAL no lugar do “GÊNIO” e da “OBRA PRIMA” da ERA
INDUSTRIAL. A OBRA PRIMA e o GÊNIO da ERA INDUSTRIAL perdem o seu sentido que
possuíam no modelo estatizado da linha de montagem unívoca e linear. Se na ERA
PÓS-INDUSTRIAL existe DIREITO AUTORAL e PROPRIEDADE INTELECTUAL eles enveredam
para o mundo contratual e virtual e direto on-line com criador da obra. Afastam-se de intermediações ou acúmulos de
licenças em mãos alheias. O patrimonialismo e acumulação e obras físicas da ERA
INDUSTRIAL está cedendo lugar para a digitalização e as obras virtuais da ERA
PÓS-INDUSTRIAL e o seu acúmulo em “NUVENS” de dados. O “direito ao direito” é
regulado por uma legislação coerente e garantido por tribunais internacionais
de diversas instâncias
Evidente que este processo não abole
a REVERSIBILIDADE do virtual para o físico, para o local e para o
cidadão. Neste sentido a ERA PÓS-INDUSTRIAL
garante, atualiza “just-of-time” e
reforça a lógica da REVERSIBILIDADE semelhante ao múltiplo industrial para o
DESIGN industrial. DESIGN artesanal da criação do molde do múltiplo que era reproduzido e multiplicado na linha de
montagem da ERA INDUSTRIAL
A ERA INDUSTRIAL não constitui um ESTILO ‘stricto sensu’ apesar de
suas buscas e esforços. O seu paradigma
da obsolescência programada e principio do maniqueismo entre contrários não
permitem que nenhuma das suas múltiplas tendências estéticas atinjam o patamar
de um estilo. Para a ERA PÓS-INDUSTRIAL, da mesma forma, é impossível atribuir
o termo ECLETICISMO e generalizar este paradigma para todas as suas obras, suas
tendências e concepções. Esta falta de um projeto unívoco e linear frustra
qualquer tentativa semiótica, conceitual ou filosófica de inscrevê-las ou de
forçar um estilo.
Para evidenciar a impossibilidade classificatória rígida, unívoca e
linear da obra de arte, é necessário consultar, ler e se apropriar das
ferramentas filosóficas, conceituais e semióticas de WITTGENSTEIN[1]
ou HEIDEGGER[2]
entre outros.
A obra de arte continua a
preceder qualquer busca de sua comunicação unívoca e linear. Esta precedência é
a sua teleologia imanente e o fundamento de sua autonomia.
[2] HEIDEGGER, Martin. (1889-1979)
Conferências e escritos filosóficos. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 420.
____. Origem
da obra de arte. Lisboa: Edições 70,
1992. 73 p.
____SER e TEMPO. Tradução e organização de Fausto Castilho (1929- ).- Campinas SP: Editora da
Unicamp; Petrópolis, RJ: Edit. Vozes, 2012, 1199 p ISBN 978-85-268-0963-5
Nelson LEIRNIER - Lot(e) - 2006
Fig.
07 – A acumulação realizada por
NELSON LERNIER se vale dos produtos das séries da ERA INDUSTRIAL. Estas
ordenações dos signos e dos múltiplos
industriais remete à ERA
PÒS-INDUSTRIAL onde ganham novo sentido poético e lúdico.
Nesta lógica - da precedência da obra de arte sobre a comunicação - se
evidencia que não existe contradição, intriga ou incompatibilidade entre ERA
INDUSTRIAL e PÓS-INDUSTRIAL. Mudou a mentalidade e o uso de ferramental tanto
na obra de arte como na comunicação relativa à ela. Mentalidade PÓS-INDUSTRIAL
que desobrigou ao acumular, libertando a obra de arte da estatização e da linha
de montagem unívoca e linear da ERA das MÁQUINAS. Ferramental PÓS-INDUSTRIAL que
trabalha “just-of-time” e em rotinas
que abrangem quantidades gigantescas,
ínfimas ou então cópia única sem sobras
ou obsolescência programada. Cópia que aproxima tecnicamente cada vez mais o
original e a sua reprodução. Esta competência técnica PÓS-INDUSTRIAL deixa um
imenso espaço para uma tendência conceitual ao artista criador. Ganha corpo a percepção de Leonardo da Vinci
de que a “pintura é uma coisa mental”.
JOYCE SCHLEINIGGER– Pinacoteca Ruben Berta –
Porto Alegre – RS - maio 2015
Fig.
08 – Joyce SCHLEINIGER é proveniente
de uma segura e continuada pesquisa técnica e poética. Ela investiu em si mesma
e domina a cerâmica e escultura o que lhe permite transitar pelo efêmero e
cargas imensas de informações sem perder o rumo de si mesmas Com este domínio
de si mesma e das técnicas ela alargou o transito entre a cultura
sul-rio-grandense e norte-americana, entre a figuração e as concepções
estéticas formais.
No centro da questão da ERA PÓS-INDUSTRIAL pode ser colocado o ENTE no
seu modo de SER. Para a Arte significa retomar a conexão viva entre o ENTE
HUMANO com o seu modo de SER no seu TEMPO, no seu LUGAR e na sua SOCIEDADE.
A ERA PÓS-INDUSTRIAL assistiu - e teve de administrar - a diluição da
questão maniqueista do BEM e do MAL, do CERTO e do ERRADO e do SER o NÃO SER
sustentado pelo modelo e paradigma que permitiu o funcionamento e reprodução
dos produtos estetizados e legitimados pela ERA das MÁQUINAS.
O RIO da VIDA corre na ERA PÓS-INDUSTRIAL e flui ENTRE as MARGENS
ESQUERDA –DIREITA, entre o CERTO-ERRADO, entre o RICO-POBRE e entre o BEM –MAL.
Grupo de Artistas Visuais -MAC-RS 10.12.2011 foto digital
Fig.
09 – Conforme a observação de
Bourdieu o artista produz para o seu concorrente, sendo que este é um poucos
que é capaz de compreender as obra e o seu primeiro e mais atento observador. A
ERA PÓS-INDUSTRIAL favoreceu esta aproximação interação e estímulo reciproco. Não
se trata mais da concorrência da ERA INDUSTRIAL nem a busca do modelo ou
estímulo único do prêmio ao melhoe e mais eficaz..
Um projeto coerente com a ERA PÓS-INDUSTRIAL
fornece a ocasião para retornar à ARTE como EXPRESSÃO da VIDA e de ESTAR EM QUEM
PRODUZ e NÃO no QUE PRODUZ. No dizer de Aristóteles[1] (1973:
243 114a 10) “toda a arte está no que produz, e não no que é
produzido”.
Tanto a ARTE da ERA das MÁQUINAS como aquela da ERA PÓS-INDUSTRIAL é
autêntica na medida em que é um índice coerente de QUEM o produziu. Índice que
a torna histórica como documento do seu TEMPO, seu LUGAR e da sua SOCIEDADE de
origem.
ANTIGA USINA de ENERGIA ELÉTRICA em 20.05.2015 -
VERANICO de MAIO
Fig.
10 – As imensas construções da ERA INDUSTRIAL permitem a sua reciclagem pela ERA PÒS-INDUSTRIAL Sem renunciar à memória e ao sonho estas construções
condenada à obsolescência abrem o espaço
poético como signos de novos TEMPOS, ESPAÇOS FÌSICOS e para uma SOCIEDADE onde viceja o ócio
produtivo. Com este ócio criativo retornam ao sentido original da ESCOLA que
para grego era o LUGAR do ÒCIO em contraposição daqueles que cultivava a
negação do ócio (NEG-ÓCIO) ou o ócio sagrado (SACERD-ÓCIO). Porém o centro
deste ÓCIO era a oportunidade de “CONHECER a SI MESMO” para os helênicos ou
“E-DUCERE” para os latinos.
A Arte praticada no ambiente PÓS-INDUSTRIAL permite vislumbrar para além da propaganda, da acumulação, do valor monetário. No centro desta questão desponta novamente a GRATUIDADE da CRIAÇÃO ARTÍSTICA. GRATUIDADE que de um lado conduz para a AUTONOMIA do ARTISTA. Do outro lado a CRIAÇÃO ARTÍSTICA GRATUITA, no ambiente PÓS-INDUSTRIAL, aponta - e desafia - ao artista se se alçar ao patamar SOBRE-HUMANO. Patamar no qual atinge a liberdade e o desprendimento das questões avassaladoras da NATUREZA ENTRÓPICA e SOBERANA. É a finalidade que NIETZSCHE[1] prescreveu (2000, p.134) ao artista e ao seu agir na sua obra:
“A arte não pode ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve
ser alguém mais elevado que sobre passe a humanidade. Com isso deve
satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido mais temerário”
Devido esta autonomia e ao sobre humano, que arte exige do seu
praticante, ela não permite pedir desculpas por qualquer deslize, malogro ou obra
fracassada.
Antigas culturas orientais guardaram a memória da coerência entre o
ENTE e o seu modo de SER no mundo. A fábula do pintor, o galo e o mandarim
guarda algo desta sabedoria. Um pintor chinês recebeu a encomendo da pintura de
um galo para o palácio do mandarim. O pintor aceitou a encomenda. O mandarim
foi visitar o artista decorrido meio ano da encomenda. O pintor se desculpou
que a pintura do galo “não estava pronta”.
O mandarim, após todas as mesuras, se retirou prometendo voltar depois de três
meses. Ele voltou ao estúdio do pintor passado este período. Novamente ouviu do
artista que a pintura “não estava pronta”.
Desapontado se retirou em silêncio. Um mês antes da inauguração do seu palácio
voltou. Porém voltou acompanhado por uma guarnição militar pronta para expulsar
da cidade este trapaceiro. Entrou e para seu desapontamento ouviu do pintor que
a pintura do galo “não estava pronta”.
Já entregava para a sua guarnição o
pintor. Este lhe suplicou que lhe desse mais cinco minutos de tempo.
[1] NIETZSCHE, Frederico Guillermo
(1844-1900) Sobre
el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179.
Fig.
11 – Na cultura oriental a Arte
sempre teve uma íntima relação com a Vida. Esta concepção é tão profunda e coerente a
ponto de que a cultura ocidental não a perceber, ou admitir como arte muitas das suas obras. Para chegar a
este ponto de cegueira a cultura ocidental fragmentou, separou, classificou e
submeteu a tudo e a todos a padrões
separados e irreconciliáveis. Uma das
tarefas, da ERA PÒS-INDUSTRIAL, é
reencontrar as conexões e as complementaridades entre VIDA com a ARTE rompidas
pela lógica das máquinas.
Quando o mandarim concordou com este tempo, o artista estendeu uma
tela de seda branca e em cinco minutos terminou a sua obra. O mandarim ficou
estupefato diante da perfeição da pintura. Quando perguntou pelo preço o artista lhe cobrou uma fortuna.
O mandarim protestou e se indignou.
-Você levou apenas cinco
minutos, muito mais do que meu esforço de vir para cá e você me pede este
absurdo.
O pintor conduziu o mandarim para o fundo do seu atelier e mostro
pilhas e pilhas de galos e explicou
- Eu “não estava pronto” para pintar o quadro em cinco minutos e
sob a ameaça de sua autoridade.
O problema não era a obra, mas a sabedoria e habilidade do artista. N
mundo ocidental a sabedoria grega insistia no
“Conheça a ti mesmo” dando
ênfase à inteligência. No mudo oriental existe o projeta da complementariedade
entre o “YIN-YANG”[1]
陰陽 as
forças obscuras e irracionais com as energias claras da razão e da lógica.
Cildo
MEIRELLES - Missões -
Fig.
12 – Na sua instalação “MISSÔES” o artista Cildo MEIRELLES vale-se,
da acumulação das séries industriais das moedas resultantes das máquinas da ERA
INDUSTRIAL e cuja produção é comandada por uma instância separada e superior
conectado com os resultados finais por um ténue fio de hóstias A tensão entre opostos e a tênue
complementaridade das hóstias geram um grande espaço para um sentido poético
inesperado.
O marxismo e capitalismo são complementares na China atual. Esta
complementariedade não foi possível em nenhum país ocidental dominado pelo
cognitivismo e/ou pragmatismo comandado pelo maniqueismo do SER ou NÃO SER. Enquanto
isto as culturas orientais amadurecidas conseguem perceber e praticar a
complementariedade entre a ERA INDUSTRIAL e PÓS-INDUSTRIAL. Se nos dispusermos
ir ao fundo da questão das práticas ocidentais percebemos que a sua origem se
encontra nas culturas orientais ancestrais. O zero, a imprensa, explosivos, a
bússola, tecidos, o papel... possuem a
sua origem e a lógica e suas aplicações nestas culturas comandadas pela
complementariedade do YIN-YANG 陰陽.
Ruth SCHNEIDER – (1943-2003) – “CASSINO da
MAROCA” 1994 - Museu de Passo Fundo
Fig.
13 – A prática e a pesquisa da arte não
exige mais a migração para centros hegemônicos Ruth Schneider apropriou-se do
imaginário da periferia da cidade de Passo Fundo. A ERA PÒS-INDUSTRIAL é competente para
realizar a atualização da inteligência em qualquer lugar geográfico do planeta
tão bem como transportar as informações deste lugar para toda a rede mundial. Merce
Cunningham anunciava que o CENTRO do MUNDO é onde estou[1].
Não bastam as INFORMAÇÕES existir, se acumular e circular em REDE
MUNDIAL. Sem a PESQUISA,a ELABORAÇÃO e TRANSFORMAÇÃO das CONTRADIÇÕES em
COMPLEMENTARIEDADES estas INFORMAÇÕES se naturalizam. Não é possível ver a ERA PÓS-INDUSTRIAL
como lugar de chegada e a TERRA SEM MALES. Os recursos numéricos digitais são
ferramentas como quaisquer outros. Podem se apropriadas, manipuladas e
corrompidas. Assim aguardam-se outros horizontes para além delas em outro
TEMPO, LUGAR e SOCIEDADE.
ARTISTAS de RUA em PORTO ALEGRE no dia 20.05.2015
Fig.
14 – O retorno do artista para a calçada e para a vida urbana não encontra
mais as rígidas estrutura mentais, os paradigmas impositivos, classificatórios
e esterilizantes impostos pela linha e
montagem unívoca e linear da ERA
INDUSTRIAL Na ERA PÒS-INDUSTRIAL estes artistas reconquistam a liberdade de
plasmar, nas suas obras, os signos do seu TEMPO, do seu LUGAR e sancionada pelo repertório da SOCIEDADE
O que é impossível negar para a ERA PÓS-INDUSTRIAL que ela tenha “uma
direção”. Na presente postagem se tentou demonstrar que esta direção é TRANSFORMAR
em COMPLEMENTARIEDADES as CONTRADIÇÕES da ERA INDUSTRIAL.
Francisco de Paula COIMBRA de ALMEIDA BRENNAND
1927 - Jardim Recife - PE
Fig.
15 – O artista pernambucano Brennand continua
a sublimar o uso da cerâmica herdada de uma tradição industrial família
cultivada em Recife. A sua obra apropria e transforma a ERA INDUSTRIAL e
UTILITÁRIA em complemento poética da ERA
PÒS-INDUSTRIAL. Poética evidenciada no mundo simbólico da Arte e da Vida de uma
das cidades com um contínuo de uma dimensão cultural dos mais antigos e
tradicionais do Brasil.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES (384-322).
Ética a Nicômano. São Paulo:
Abril Cultural1973. 329p.
BLOCH, Marc (1886-1944) . Introdução à História.
[3ª ed] Conclusão
de Lucian FEBVRE - .Lisboa :Europa- América
1976 179 p.
HEIDEGGER, Martin. (1889-1979) Conferências e escritos
filosóficos. São Paulo: Abril
Cultural, 1983, 420 p..
____. Origem
da obra de arte. Lisboa: Edições 70,
1992. 73 p.
____. SER e TEMPO. Tradução e organização de Fausto Castilho (1929- ).- Campinas SP: Editora da
Unicamp; Petrópolis, RJ: Edit. Vozes, 2012, 1199 p ISBN 978-85-268-0963-5
MEROT, Alain (edit.) Les conférences de l’Academie royale de peinture
et esculpture au XVIIe
siècle.
Paris : RNSBA, 1996. 533p.
NIETZSCHE, Frederico
Guillermo (1844-1900) Sobre
el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179.
TAYLOR , Frederick Winslow
(1856-1915). Princípios de administração científica. [7ª. Ed]. São Paulo: Atlas, 1980, 134 p.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus lógico-philosophicus. São Paulo: EDUSP 1993. 281 p.
FONTES
NUMÉRICAS DIGITAIS
BERHARDT, Thomas: o Sobrinho de WITTGENSTEIN
COMPLEMENTARIEDADE entre CASPAR FRIEDRICH e os
COWBOYS
DUAS ENERGIAS COMPLEMENTARES.
FACE BOOK
EDUCAÇÂO à DISTÂNCIA
FORÇAS COMPLEMENTARES: YIN-YANG 陰陽
GALO: kakemono
GRAFITEIROS ANÔNIMOS
LEGADO da ERA INDUSTRIAL em PARIS
DECADÊNCIA de DETROIT
IMAGENS
da Era Industrial de DETROIT
John CAGE: 4,33
Merce
CUNNINGHAM.
Origem da ideia do GÊNIO na ERA INDUSTRIAL
REGINA SILVEIRA: SILENCIOSA FORÇA da
SUBJETIVIDADE
Antes de ler este artigo, convém consultar:
SER e TEMPO: HEIDEGGER
WESLEY DUKE LEE
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