sábado, 30 de janeiro de 2016

144 - ARTE e LIBERDADE na ERA PÓS-INDUSTRIAL

TRANSFORMAR a CONTRADIÇÃO em COMPLEMENTARIEDADE.

A investigação histórica admite, desde os primeiros passos, que o inquérito tenha já uma direção. De início está o espírito. Nunca, em ciência alguma, foi fecunda a observação passiva. Supondo, aliás, que seja possível”. 
                                                                                                                            Marc Bloch 1976, pp. 60/61.[1].



[1] BLOCH, Marc (1886-1944)  . Introdução à História.[3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE - .Lisboa :Europa- América  1976  179 p.

Eduardo VIEIRA da CUNHA (1956- ) Acrílico sobre tela
Fig. 01 –   A obra de Eduardo VIEIRA da CUNHA  trabalha com signos da ERA INDUSTRIAL e em acelerado processo de entropia  Eduardo os  transpõem como memória e sonho para a ERA PÒS-INDUSTRIAL abrindo  espaço poético como signos do seu TEMPO, seu LUGAR e sua SOCIEDADE.

É impossível negar uma direção da ERA INDUSTRIAL desde a sua origem. Nascida sob as luzes da Razão humana, embalada no berço das estratégias de comunicação unívoca e linear e sustentada com o leite diário das maquinas e da imprensa ela se agigantou dominou rapidamente todo o planeta Terra.
A ERA INDUSTRIAL vasculhou este planeta, coletou, acumulou, cravou um alfinete classificatório nas costas de todos e em tudo. Ordenou a todos e a tudo em função da utilidade ou do descarte comandado pela lógica de uma linha de produção de sentido linear, unidirecional com controle de qualidade preço de saída e distribuição.
WESLEY DUKE LEE. – (1931-2010)  - colecionador e gato
Fig. 02 –   O arista WESLEY DUKE LEE como colecionador mostra como sua obra coerente com seu TEMPO, seu LUGAR e sua SOCIEDADE pode ser complementada e fertilizada por obras de arte proveniente da ERA INDUSTRIAL O que flui em ambos estes tempos é a vida e a coerência das construções das obras que consolidam este diálogo e que ganha intensidade e sentido na medida em que se materializam em obras de arte  

 O domínio das máquinas e da linha de montagem permitiu que a ERA INDUSTRIAL submetessem o planeta Terra violentamente ao seu poder total e hegemônico. Hegemonia que mostra, no século XXI,  o alto preço deste projeto humano inclusive com ameaças de catástrofes irreversíveis para espécie.
Vik MUNIZ -1961-  foto
Fig. 03 –   Vik MUNIZ realiza s visitas constantes ao imenso acúmulo da arte produzida aos paradigmas consagrados e divulgados pela ERA INDUSTRIAL evidencia esta produtiva da complementaridade desta ERA com a ERA PÓS-INDUSTRIAL Uma tradição de estímulo reciproco como aquela praticado pela Academia Francesa nas interações ente ANTIGOS e MODERNOS[1] ou das constantes “RELEITURAS” da obra de Pablo Picasso.

A Arte não escapou e foi testemunho desta lógica da Era Industrial.  Esta lógica classificou as obras de arte na matriz industrial  e as acumulou em museus. Estes nasceram e se fortaleceram nesta ERA INDUSTRIAL. O artista recebeu a opção da escolha entre ser GÊNIO ou ser DESCARTE do sistema. Os centros hegemônicos impuseram a sua estética aos territórios sob o sua dominação intelectual, econômica e política.
Nada associável à Arte escapou da sanha classificatória deste alfinete.  Sob o domínio da ERA INDUSTRIAL o termo BELEZA desceu ao seu sentido mais vil e ordinário. O adjetivo “BELAS” foi forçada a se divorciar das ARTES  pois mais confundia e atrapalhava em qualquer discurso da ERA PÓS-INDUSTRIAL. Permaneceu o hábito e a mentalidade tão dominante que uma larga população não reconhece ARTE a não ser que seja delimitado e referendado pelo adjetivo “BELAS”.


Na complementaridade a ERA PÓS-INDUSTRIAL teve de recuar ao período pré-industrial no qual a VERDADE, no seu esplendor, era associada e conduzia à BELEZA.   Esplendor da VERDADE que OBRA de ARTE  materializa para os sentidos humanos.



[1] MEROT, Alain (edit.) Les conférences de l’Academie royale de peinture et esculpture  au XVIIe siècle. Paris : RNSBA, 1996. 533p.
André VENZON Consumidores de espaço
Fig. 04 –   André VENZON evidencia nas suas múltiplas  obras - entre outros tópicos - o cenário urbano e as contradições daquilo que deveria FACILITAR o trânsito e a ORIENTAÇÂO acaba provocando o contrário. As obras da ERA PÒS-INDUSTRIAL são  competentes para denunciar as barreiras, as ruínas e as catástrofes  que a lógica da ERA INDUSTRIAL alimentou e foi incoerente para transformar em COMPLEMENTARIEDADE.

Para uma ruptura epistêmica, estética e produtiva com a ERA INDUSTRIAL não é possível embarcar inicialmente nas suas táticas, estratégias e logística. A ERA das MÁQUINAS usou táticas comandadas pela OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA daquilo que foi produzido no dia anterior. Estratégia concebida e executada sob a lógica da acumulação de gente, insumos e técnicas. Logística de distribuição em mão única do CENTRO de CONSAGRAÇÃO e canalizado em direção a PERIFERIA e DESCARTE. Mão única impulsionada pela falta de contraditório e do fluxo da PERIFERIA acrítica para o CENTRO HEGEMÔNICO que se supõe cheio de razão e de sentido ortodoxo inquestionável. 
Na contradição de sua razão e de seu sentido ortodoxia inquestionável a ERA INDUSTRIAL é capaz de mudar de opinião e gosto. Nesta contradição é complacente consigo mesma ao ser dobrada pela força, pela saturação do marketing e peça propaganda dos produtos legitimados pelos centros hegemônicos.
REGINA  SILVEIRA – Projeção sobre a fachada do Museu Iberê Camargo – Porto Alegre- RS, em março de 2011,
Fig. 05 –   A intervenção de Regina Silveira na obra de Álvaro SIZA constituiu uma COMPLEMENTARIEDADE entre a Poética Visual e a Arquitetura e o Urbanismo  Esta COMPLEMENTARIEDADE - entre as diversos setores do campo artístico - que era natural e bem quisto antes da ERA INDUSTRIAL esta separou, compartimentalizou e tipificou. Estou se não lançou e guerra aberta.

Um projeto coerente com a ERA PÓS-INDUSTRIAL SABE, QUER e TOMA os meios para CONHECER, PESQUISAR e SELECIONAR tudo aquilo que a ERA INDUSTRIAL está legando inclusive as suas contradições. A ERA PÓS-INDUSTRIAL não pode embarcar nas contradições do maniqueismo da ERA INDUSTRIAL.  Maniqueismo do TUDO ou do NADA, CERTO ou do ERRADO, BOM ou do MAU, do RICO ou do POBRE e do NOVO ou do VELHO. Maniqueismo que conduziu a lógica de quebrar, desqualificar e recomeçar TUDO a partir do GOSTEI ou do NÃO GOSTEI. Maniqueismo fonte e origem das sangrentas revoluções, GUERRAS MUNDIAS e da GUERRA FRIA global. Maniqueismo dos projetos insanos do TUDO ou do NADA que devastaram o planeta Terra e colocaram em perigo o futuro da espécie humana no seu lar de origem. Maniqueismo que comandou o perigo da única escolha como “pode ser de qualquer cor: contanto que seja PRETA”, atribuído um dos príncipes da ERA INDUSTRIAL hegemônica. Hegemonia escamoteada pela  anestesia provocada pelo MANIFESTO FUTURISTA da exaltação extrema da máquina e sem pensar nos efeitos que provocaria. Porém projetada até os dias atuais pelo pensamento do pragmatismo industrial cujo teórico norte-americano Frederick Winslow TAYLOR,[1] ainda dita e comanda a ERA INDUSTRIAL. Para constatar a presença, a ação e força do pensamento taylorista basta entrar em qualquer lanchonete sob  alguma franquia originária de uma cultura hegemônica.



[1] - PRAGMATISMO de  TAYLOR, Frederick Winslow (1856-1915).  Princípios de administração científica.           7. ed.  São Paulo: Atlas, 1980, 134 p.
REGINA  SILVEIRA – Instalação no Museu Iberê Camargo – Porto Alegre- RS – março de 2011
Fig. 06 –   A apropriação da linguagens e dos  meios gráficos da ERA INDUSTRIAL realizada e dominados por Regina Silveira permite-lhe remeter  para a ERA PÒS-INDUSTRIAL para criar numa obra poética complementar entre os momentos e etapas da cultura humana.  Esta obra concebida e planejada pela artista permite a sua materialização em novo TEMPO, outro LUGAR e uma SOCIEDADE competente para lidar com este repertório

Resta para a ERA PÓS-INDUSTRIAL enveredar para o caminho de TRANSFIGURAR a CONTRADIÇÃO da ERA das MÁQUINAS em COMPLEMENTARIEDADE.
O ANONIMATO e a OBRA de ARTE  tomam lugar na ERA PÓS-INDUSTRIAL no lugar do “GÊNIO” e da “OBRA PRIMA” da ERA INDUSTRIAL. A OBRA PRIMA e o GÊNIO da ERA INDUSTRIAL perdem o seu sentido que possuíam no modelo estatizado da linha de montagem unívoca e linear. Se na ERA PÓS-INDUSTRIAL existe DIREITO AUTORAL e PROPRIEDADE INTELECTUAL eles enveredam para o mundo contratual e virtual e direto on-line com criador da obra.  Afastam-se de intermediações ou acúmulos de licenças em mãos alheias. O patrimonialismo e acumulação e obras físicas da ERA INDUSTRIAL está cedendo lugar para a digitalização e as obras virtuais da ERA PÓS-INDUSTRIAL e o seu acúmulo em “NUVENS” de dados. O “direito ao direito” é regulado por uma legislação coerente e garantido por tribunais internacionais de diversas instâncias
Evidente que este processo não abole  a REVERSIBILIDADE do virtual para o físico, para o local e para o cidadão. Neste sentido a  ERA PÓS-INDUSTRIAL garante, atualiza “just-of-time” e reforça  a lógica da  REVERSIBILIDADE  semelhante ao múltiplo industrial para o DESIGN industrial. DESIGN artesanal da criação do molde do múltiplo que era  reproduzido e multiplicado na linha de montagem da ERA INDUSTRIAL
A ERA INDUSTRIAL não constitui um ESTILO ‘stricto sensu’  apesar de suas buscas e esforços. O seu  paradigma da obsolescência programada e principio do maniqueismo entre contrários não permitem que nenhuma das suas múltiplas tendências estéticas atinjam o patamar de um estilo. Para a ERA PÓS-INDUSTRIAL, da mesma forma, é impossível atribuir o termo ECLETICISMO e generalizar este paradigma para todas as suas obras, suas tendências e concepções. Esta falta de um projeto unívoco e linear frustra qualquer tentativa semiótica, conceitual ou filosófica de inscrevê-las ou de forçar um estilo.
Para evidenciar a impossibilidade classificatória rígida, unívoca e linear da obra de arte, é necessário consultar, ler e se apropriar das ferramentas filosóficas, conceituais e semióticas de WITTGENSTEIN[1] ou HEIDEGGER[2] entre outros.

 A obra de arte continua a preceder qualquer busca de sua comunicação unívoca e linear. Esta precedência é a sua teleologia imanente e o fundamento de sua autonomia.



[1] WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus lógico-philosophicus. São Paulo: EDUSP 1993.  281p.

[2]  HEIDEGGER, Martin. (1889-1979) Conferências e escritos filosóficos. São Paulo: Abril  Cultural, 1983,  p. 420.
 ____. Origem da obra de arte. Lisboa: Edições 70,  1992.  73 p.
 ____SER e TEMPO. Tradução e organização de Fausto  Castilho (1929- ).- Campinas SP: Editora da Unicamp; Petrópolis, RJ: Edit. Vozes, 2012, 1199 p ISBN 978-85-268-0963-5

Nelson LEIRNIER - Lot(e) - 2006
Fig. 07 –  A acumulação realizada por  NELSON LERNIER se vale dos produtos das séries da ERA INDUSTRIAL. Estas ordenações dos signos e dos múltiplos industriais  remete  à  ERA PÒS-INDUSTRIAL onde ganham novo sentido poético e lúdico.

Nesta lógica - da precedência da obra de arte sobre a comunicação - se evidencia que não existe contradição, intriga ou incompatibilidade entre ERA INDUSTRIAL e PÓS-INDUSTRIAL. Mudou a mentalidade e o uso de ferramental tanto na obra de arte como na comunicação relativa à ela. Mentalidade PÓS-INDUSTRIAL que desobrigou ao acumular, libertando a obra de arte da estatização e da linha de montagem unívoca e linear da ERA das MÁQUINAS. Ferramental PÓS-INDUSTRIAL que trabalha “just-of-time” e em rotinas que abrangem  quantidades gigantescas, ínfimas ou então cópia única  sem sobras ou obsolescência programada. Cópia que aproxima tecnicamente cada vez mais o original e a sua reprodução. Esta competência técnica PÓS-INDUSTRIAL deixa um imenso espaço para uma tendência conceitual ao artista criador.  Ganha corpo a percepção de Leonardo da Vinci de que a “pintura é uma coisa mental.
JOYCE SCHLEINIGGER– Pinacoteca Ruben Berta – Porto Alegre – RS - maio 2015
Fig. 08 –   Joyce SCHLEINIGER é proveniente de uma segura e continuada pesquisa técnica e poética. Ela investiu em si mesma e domina a cerâmica e escultura o que lhe permite transitar pelo efêmero e cargas imensas de informações sem perder o rumo de si mesmas Com este domínio de si mesma e das técnicas ela alargou o transito entre a cultura sul-rio-grandense e norte-americana, entre a figuração e as concepções estéticas formais.   

No centro da questão da ERA PÓS-INDUSTRIAL pode ser colocado o ENTE no seu modo de SER. Para a Arte significa retomar a conexão viva entre o ENTE HUMANO com o seu modo de SER no seu TEMPO, no seu LUGAR e na sua SOCIEDADE.
A ERA PÓS-INDUSTRIAL assistiu - e teve de administrar - a diluição da questão maniqueista do BEM e do MAL, do CERTO e do ERRADO e do SER o NÃO SER sustentado pelo modelo e paradigma que permitiu o funcionamento e reprodução dos produtos estetizados e legitimados pela ERA das MÁQUINAS.
O RIO da VIDA corre na ERA PÓS-INDUSTRIAL e flui ENTRE as MARGENS ESQUERDA –DIREITA, entre o CERTO-ERRADO, entre o RICO-POBRE e entre o BEM –MAL.
Grupo de Artistas Visuais  -MAC-RS 10.12.2011  foto digital
Fig. 09 –   Conforme a observação de Bourdieu o artista produz para o seu concorrente, sendo que este é um poucos que é capaz de compreender as obra e o seu primeiro e mais atento observador. A ERA PÓS-INDUSTRIAL favoreceu esta aproximação interação e estímulo reciproco. Não se trata mais da concorrência da ERA INDUSTRIAL nem a busca do modelo ou estímulo único do prêmio ao melhoe e mais eficaz..
Um projeto coerente com a ERA PÓS-INDUSTRIAL fornece a ocasião para retornar à ARTE como EXPRESSÃO da VIDA e de ESTAR EM QUEM PRODUZ e NÃO no QUE PRODUZ. No dizer de  Aristóteles[1] (1973: 243 114a 10) toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”.
Tanto a ARTE da ERA das MÁQUINAS como aquela da ERA PÓS-INDUSTRIAL é autêntica na medida em que é um índice coerente de QUEM o produziu. Índice que a torna histórica como documento do seu TEMPO, seu LUGAR e da sua SOCIEDADE de origem.



[1]- ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.

ANTIGA USINA de ENERGIA ELÉTRICA em 20.05.2015 - VERANICO de MAIO
Fig. 10 –  As imensas construções da ERA INDUSTRIAL permitem a sua reciclagem  pela ERA PÒS-INDUSTRIAL Sem renunciar  à memória e ao sonho estas construções condenada à obsolescência  abrem o espaço poético como signos de novos TEMPOS, ESPAÇOS FÌSICOS  e para uma SOCIEDADE onde viceja o ócio produtivo. Com este ócio criativo retornam ao sentido original da ESCOLA que para grego era o LUGAR do ÒCIO em contraposição daqueles que cultivava a negação do ócio (NEG-ÓCIO) ou o ócio sagrado (SACERD-ÓCIO). Porém o centro deste ÓCIO era a oportunidade de “CONHECER a SI MESMO” para os helênicos ou “E-DUCERE” para os latinos.

               A Arte praticada no ambiente PÓS-INDUSTRIAL permite vislumbrar para além da propaganda, da acumulação, do valor monetário. No centro desta questão desponta novamente a GRATUIDADE da CRIAÇÃO ARTÍSTICA. GRATUIDADE que de um lado conduz para a AUTONOMIA do ARTISTA. Do outro lado a CRIAÇÃO ARTÍSTICA GRATUITA, no ambiente PÓS-INDUSTRIAL, aponta - e desafia - ao artista se se alçar ao patamar SOBRE-HUMANO. Patamar no qual atinge a liberdade e o desprendimento das questões avassaladoras da NATUREZA ENTRÓPICA e SOBERANA. É a finalidade que NIETZSCHE[1] prescreveu (2000, p.134) ao artista e ao seu agir na sua obra:

A arte não pode ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre passe a humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido mais temerário  

Devido esta autonomia e ao sobre humano, que arte exige do seu praticante, ela não permite pedir desculpas por qualquer deslize, malogro ou obra fracassada.
Antigas culturas orientais guardaram a memória da coerência entre o ENTE e o seu modo de SER no mundo. A fábula do pintor, o galo e o mandarim guarda algo desta sabedoria. Um pintor chinês recebeu a encomendo da pintura de um galo para o palácio do mandarim. O pintor aceitou a encomenda. O mandarim foi visitar o artista decorrido meio ano da encomenda. O pintor se desculpou que a pintura do galo “não estava pronta”. O mandarim, após todas as mesuras, se retirou prometendo voltar depois de três meses. Ele voltou ao estúdio do pintor passado este período. Novamente ouviu do artista que a pintura “não estava pronta”. Desapontado se retirou em silêncio. Um mês antes da inauguração do seu palácio voltou. Porém voltou acompanhado por uma guarnição militar pronta para expulsar da cidade este trapaceiro. Entrou e para seu desapontamento ouviu do pintor que a pintura do galo “não estava pronta”. Já entregava para a sua guarnição  o pintor. Este lhe suplicou que lhe desse mais cinco minutos de tempo.



[1] NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900)  Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179.      


Fig. 11 –   Na cultura oriental a Arte sempre teve uma íntima relação com a Vida.  Esta concepção é tão profunda e coerente a ponto de que a cultura ocidental não a perceber, ou admitir como  arte muitas das suas obras. Para chegar a este ponto de cegueira a cultura ocidental fragmentou, separou, classificou e submeteu a  tudo e a todos a padrões separados e irreconciliáveis. Uma  das tarefas, da ERA PÒS-INDUSTRIAL,  é reencontrar as conexões e as complementaridades entre VIDA com a ARTE rompidas pela lógica das máquinas.

Quando o mandarim concordou com este tempo, o artista estendeu uma tela de seda branca e em cinco minutos terminou a sua obra. O mandarim ficou estupefato diante da perfeição da pintura. Quando perguntou pelo preço  o artista lhe cobrou uma fortuna.
O mandarim protestou e se indignou.
-Você levou apenas cinco minutos, muito mais do que meu esforço de vir para cá e você me pede este absurdo.
O pintor conduziu o mandarim para o fundo do seu atelier e mostro pilhas e pilhas de galos e explicou
- Eu “não estava pronto” para pintar o quadro em cinco minutos e sob a ameaça de sua autoridade.
O problema não era a obra, mas a sabedoria e habilidade do artista. N mundo ocidental a sabedoria grega insistia no  “Conheça a ti mesmo” dando ênfase à inteligência. No mudo oriental existe o projeta da complementariedade entre o “YIN-YANG”[1] 陰陽  as forças obscuras e irracionais com as energias claras da razão e da lógica.



[1]  - FORÇAS COMPLEMENTARES: https://pt.wikipedia.org/wiki/Yin-yang
Cildo MEIRELLES - Missões -
Fig. 12 –   Na sua instalação  “MISSÔES” o artista Cildo MEIRELLES vale-se, da acumulação das séries industriais das moedas resultantes das máquinas da ERA INDUSTRIAL e cuja produção é comandada por uma instância separada e superior conectado com os resultados finais por um ténue fio de hóstias  A tensão entre opostos e a tênue complementaridade das hóstias geram um grande espaço para um sentido poético inesperado.  

O marxismo e capitalismo são complementares na China atual. Esta complementariedade não foi possível em nenhum país ocidental dominado pelo cognitivismo e/ou pragmatismo comandado pelo maniqueismo do SER ou NÃO SER. Enquanto isto as culturas orientais amadurecidas conseguem perceber e praticar a complementariedade entre a ERA INDUSTRIAL e PÓS-INDUSTRIAL. Se nos dispusermos ir ao fundo da questão das práticas ocidentais percebemos que a sua origem se encontra nas culturas orientais ancestrais. O zero, a imprensa, explosivos, a bússola, tecidos, o papel...  possuem a sua origem e a lógica e suas aplicações nestas culturas comandadas pela complementariedade do YIN-YANG  陰陽.
Ruth SCHNEIDER – (1943-2003) – “CASSINO da MAROCA”  1994 - Museu de Passo Fundo
Fig. 13 –   A prática e a pesquisa da arte não exige mais a migração para centros hegemônicos Ruth Schneider apropriou-se do imaginário da periferia da cidade de Passo Fundo.  A ERA PÒS-INDUSTRIAL é competente para realizar a atualização da inteligência em qualquer lugar geográfico do planeta tão bem como transportar as informações deste lugar para toda a rede mundial. Merce Cunningham anunciava que o CENTRO do MUNDO é onde estou[1].  

Não bastam as INFORMAÇÕES existir, se acumular e circular em REDE MUNDIAL. Sem a PESQUISA,a ELABORAÇÃO e TRANSFORMAÇÃO das CONTRADIÇÕES em COMPLEMENTARIEDADES estas INFORMAÇÕES se naturalizam. Não é possível ver a ERA PÓS-INDUSTRIAL como lugar de chegada e a TERRA SEM MALES. Os recursos numéricos digitais são ferramentas como quaisquer outros. Podem se apropriadas, manipuladas e corrompidas. Assim aguardam-se outros horizontes para além delas em outro TEMPO, LUGAR e SOCIEDADE.
ARTISTAS de RUA em PORTO ALEGRE no dia  20.05.2015
Fig. 14 –  O retorno do artista para a calçada e para a vida urbana não encontra mais as rígidas estrutura mentais, os paradigmas impositivos, classificatórios e esterilizantes  impostos pela linha e montagem unívoca e linear da  ERA INDUSTRIAL Na ERA PÒS-INDUSTRIAL estes artistas reconquistam a liberdade de plasmar, nas suas obras, os signos do seu TEMPO, do seu  LUGAR e sancionada pelo repertório da SOCIEDADE

O que é impossível negar para a ERA PÓS-INDUSTRIAL que ela tenha “uma direção”. Na presente postagem se tentou demonstrar que esta direção é TRANSFORMAR em COMPLEMENTARIEDADES as CONTRADIÇÕES da ERA INDUSTRIAL.
Francisco de Paula COIMBRA de ALMEIDA BRENNAND 1927 - Jardim Recife - PE
Fig. 15 –   O artista pernambucano Brennand continua a sublimar o uso da cerâmica herdada de uma tradição industrial família cultivada em Recife. A sua obra apropria e transforma a ERA INDUSTRIAL e UTILITÁRIA em complemento poética da  ERA PÒS-INDUSTRIAL. Poética evidenciada no mundo simbólico da Arte e da Vida de uma das cidades com um contínuo de uma dimensão cultural dos mais antigos e tradicionais do Brasil.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.

BLOCH, Marc (1886-1944)  . Introdução à História. [3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE - .Lisboa :Europa- América  1976  179 p.

HEIDEGGER, Martin. (1889-1979) Conferências e escritos filosóficos. São Paulo: Abril
              Cultural, 1983, 420 p..
 ____. Origem da obra de arte. Lisboa: Edições 70,  1992.  73 p.
____. SER e TEMPO. Tradução e organização de Fausto  Castilho (1929- ).- Campinas SP: Editora da Unicamp; Petrópolis, RJ: Edit. Vozes, 2012, 1199 p     ISBN 978-85-268-0963-5

MEROT, Alain (edit.) Les conférences de l’Academie royale de peinture et esculpture  au XVIIe siècle. Paris : RNSBA, 1996. 533p.

NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900)  Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179.
     
TAYLOR , Frederick Winslow (1856-1915).  Princípios de administração científica. [7ª. Ed].  São Paulo: Atlas, 1980, 134 p.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus lógico-philosophicus. São Paulo: EDUSP 1993.  281 p.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
BERHARDT, Thomas: o Sobrinho de WITTGENSTEIN

COMPLEMENTARIEDADE entre CASPAR FRIEDRICH e os COWBOYS

DUAS ENERGIAS COMPLEMENTARES.
FACE BOOK

EDUCAÇÂO à DISTÂNCIA

FORÇAS COMPLEMENTARES: YIN-YANG   陰陽

GALO: kakemono

GRAFITEIROS ANÔNIMOS

LEGADO da ERA INDUSTRIAL em PARIS


DECADÊNCIA de DETROIT

IMAGENS da Era Industrial de DETROIT




John CAGE:  4,33

Merce CUNNINGHAM.

Origem da ideia do GÊNIO na ERA INDUSTRIAL

REGINA SILVEIRA: SILENCIOSA FORÇA da SUBJETIVIDADE
Antes de ler este artigo, convém consultar:

SER e TEMPO:  HEIDEGGER

WESLEY DUKE LEE
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