quinta-feira, 30 de maio de 2013

004 – EXPRESSÕES de AUTONOMIA na ARTE


AUTONOMIA do ARTISTA e o seu PERTENCIMENTO.

 É necessário alternar e dosar a solidão e a comunicação. A solidão  fará com que a criatura humana deseje  a comunicação. Assim uma será um remédio da outra. A solidão curará o mal-estar  da multidão e esta multidão da solidão e do tédio”.   SÊNECA – Da tranquilidade do ânimo. Cap. XVII,  p. 52  http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bk000487.pdf

Acervo de Ruy Miranda Falcão (1922-1978) aos cuidados de Ana Cecilia Falcão
Fig. 01 – Integrantes da Associação Araújo Porto Alegre em viagem pelo Brasil visitam um prédio histórico em Salvado na Bahia. Os professores Fernando Corona (calça escura) e o arquiteto urbanista Ernani ( terno branco), faziam parte da comitiva. O prof. Corona escreveu um nitrido diário do roteiro da AAPA pela Bahia e Minas Gerais. O professor Ernani Dias Corrêa ( 1900-1982) foi fundador de Curso de Arquitetura do IBA-RS e da Seccional Regional do IAB- RS


O artista visual concebe as sua obra no meio da contradição entre a solidão e a multidão. De um lado está o trabalho necessário no seu atelier solitário. No oposto a necessária socialização de sua produção no meio da multidão. Academias, eventos e associações buscam formas para transformar esta contradição em complementaridade e recomendado ao artista por Marcel Duchamp. No atelier produz a sua obra solitária primordial. Esta necessita do seu observador, para se completar. O sentido da obra irá se potencializar na mediada dos seus observadores.

Acervo de  Plínio Cesar  Livi BERNHARDT (1927 – 2004)
Fig. 02 – Plínio Cesar Livi BERNHARDT (1927 – 2004) continuou, após a sua formatura no Curso Superior de Artes Plásticas do IBA-RS, como assíduo participante e animador de associações, de grupos e núcleos de artistas visuais. Nestas condições foi diretor do MARGS na sua transferência para a sua sede atual e onde mantinha um grupo assíduo de estudantes em aulas de pintura e desenho.
Na imagem o estudante Plínio César trabalha nas férias de inverno e se inspira no portal da Igreja de São Miguel das Missões Jesuíticas do Rio Grande do Sul.

Na Música, no Teatro e no Cinema a associação é indispensável tanto na produção como na socialização.  Em Porto Alegre o escritor e poeta Athos Damasceno Ferreira (1902-1975) estudou grupos nas Letras, no Teatro e nas Artes Plásticas desde a origem desta cidade. Na Música os pequenos grupos sempre existiram e muitas vezes presentes e reforçando os espetáculos dramáticos como na Ópera. Em Porto Alegre estes grupos foram estudados com seu vínculo com o ensino formal por Claudia Maria Leal RODRIGUES e por sua orientadora Maria Elizabeth LUCAS na sua vinculação com a classe dominante. No Cinema este estudo pode ser conferido, por tabela, na autobiografia de José Di Francesco e nas revistas além da história dos Clubes de Cinema de Porto Alegre. O mesmo pode ser objeto de estudo dos clubes de Fotografia. Evidente que necessário percorrer numerosos outros estudiosos e estudos par ter um mínimo de visão das personalidades nas artes e suas relações de pertencimento ao seu meio.

Acervo de  Plínio Cesar  Livi BERNHARDT (1927 – 2004)
Fig. 03 A Associação Araújo Porto Alegre em viagem para as a Missões nas férias de inverno de 1947. Sob o estímulo do veterano Professor Benito CASTAÑEDA, (1885-1955) – primeiro a esquerda do observador-  também visitaram e trabalharam nas ruinas das Missões que estão no atual território da Argentina, grupos e núcleos de artistas visuais do Brasil Desta excursão resultou a publicação:
Centro Acadêmico Tasso Corrêa – Viagem aos Sete Povos das Missões. Porto Alegre: Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul -1947

A forma destas associações de artistas e a complementariedade dos seus observadores possui ora vínculos oficiais ou este lhe é indiferente ou até dominante. Há necessidade de concordar com Maria Amélia Bulhões (1992: 58) de que a cada projeto político também existe um projeto estético. Assim os Grêmios Republicanos eram contra o regime imperial e pleiteavam mudanças neste centralismo. Estes grêmios, depois de empolgaram o poder político, estabeleceram as competências e os limites destas associações e sem subordinação ao trono imperial ou centralismo do poder estatal. Isto aconteceu no texto legal[1] de 10.09.1893.

Em Porto Alegre reuniu se, em novembro 1913, uma efêmera associação, na forma de um “Centro Artístico”, ao redor de uma exposição de Pedro Weingärtner, conforme registro de Doberstein (1999: 91). Vários deles eram membros integrantes do CC-ILBA-RS.

Salão de Outono - Porto Alegre: Revista Máscara, ano VII, no 7, jun. 1925
Fig. 04 – A ideia do Salão de Outono de Porto Alegre tomou corpo ao longo da preparação dos cenários para um baile de carnaval realizado no início do ano de 1925.  Este Salão se realizou sob o estímulo de Hélios SEELINGER (1878-1965) nas suas reiteradas visitas, aos amigos de Porto Alegre. Ele trazia ideias de Europa e dos círculos de artistas da capital federal. O mesmo número 7 da Revista Máscara traz uma imagem colorida de obra “Rio Grande de Pé pelo Brasil” de Seelinger cuja tela definitiva se encontra no Museu de Piratini-RS. A revista Máscara era de propriedade do Dr Mário Totta, um dos líderes do baile de Carnaval e um dos membros da Sociedade que promoveu o Salão de Outono.

O Salão de Outono de 1925 também foi fruto de uma associação efêmera, que nasceu dos preparativos do baile de  carnaval da Sociedade de Filosofia (Scarinci, 1982: 35) e que se tentou institucionalizar (Revista Máscara, ano VII, no 7, junho de 1925). Nesta associação estavam vários membros do ILBA-RS como Fábio Barros (com o pseudônimo de Vitoriano Serra) (1881-1942) e Manuel André da Rocha (1860-1942), além de professores da época do Instituto, como Francis Pelichek (1896-1937), ou de futuros, como Fernando Corona.


Fig. 05 – O público presente e de costas para a obra do artista Sotero Cosme (1905 -1978)
em Porto Alegre.  Na primeira fila,  de bengala e chapéu, Manuel André do Rocha, vice presidente do IBA-RS e  primeiro reitor da Universidade de Porto Alegre.  Sotero também era músico como seu irmão Luís Cosme que se dedicou profissionalmente à esta arte. Sotero, depois de trabalhar na indústria gráfica em porto Alegre, como quando criou a capa nº 1 da Revista do Globo, foi contrato pelo IBC para a publicidade brasileira do café. Nesta condição trabalhou em Paris. Ali também fazia cartazes para de filmes de Hollywood a serem distribuídos na França. Depois estabeleceu o seu atelier em Florença ondo foi visitado, em 1952, por Fernando Corona.


A Associação Francisco Lisboa nasceu em agosto de 1938 e foi a de maior continuidade[1]. Fundada nove meses após a proclamação do Estado Novo[2], os seus integrantes procuravam fazer do seu ofício, como trabalhadores especializados, a razão de sua união.


[1] - SCARINCI, Carlos «Da Francisco Lisboa ao Pseudo-Salão Moderno de 1942» in Correio do Povo, Caderno de Sábado, Volume CVI, Ano VIII,  no 606, 08.03.1980,   pp 8/9.

[2] - Carlos  Scarinci escreveu (1980, p.8, col.1)  Os objetivos da nova entidade não podem ser definidos como uma  tomada de posição de classe, mas sua criação coincide quase com a transformação da Associação Paulista de Belas Artes em Sindicato dos artistas políticos(1937) que coincide  também com as orientações sindicalistas do Estado Novo recentemente implantado”.



Fig. 06 – A imagem de Antônio Francisco Lisboa (c.1730 – 1814) concebida por João Faria Viana  um dos fundadores da Associação que possui por patrono este artista. A biografia de Aleijadinho foi resgatada, a partir de 1858, a pedido de Manuel Araújo Porto-alegre ao deputado Rodrigo José Ferreira Bretas (1815-1866) de Minas Gerais. Este encontrou os dados, conhecidos hoje, na memória oral enfraquecida de alguns que diziam terem convido com o escultor e arquiteto como a sua nora. Nas suas obras não existem assinaturas nem documentos que as identifiquem e atribuam de uma forma unívoca e científica. Este processo de assinatura, de contrato como garantia da autenticidade  foi introduzido no Brasil a partir de 1816 pela Missão Artística Francesa.

Essa intenção foi registrada por Kern que escreveu (1981, f. 113) que “a Associação Francisco Lisboa foi fundada com o objetivo de reunir os artistas que se encontram isolados e que tem dificuldades para se fazer conhecer seus trabalhos”. Ao acompanhar a nominata dos seus fundadores constata-se a presença significativa de integrantes do IBA-RS. A sua primeira formação era constituída por:

“um grupo de jovens artistas: João Faria Vianna, Carlos Scliar, Mário Mônaco, Edla Silva, Nelson Boeira Faedrich e Gaston Hofstetter. Nesse mesmo ano ingressam Guido Mondin, João Fontana, Arnildo Kuwe Kindler, João Fahrion. Judith Fortes, José Rasgado Filho, Gustav Epstein, Mário Berhauser, Júlia Felizardo e Romano Reif.” (KERN. 1981 ff. 112 e 113).

Nessa lista verifica-se que todas as artistas frequentaram a Escola de Artes do ILBA e ali concluíram o seu curso superior da época.

Fig. 07 – A Judith Fortes, com formação Superior na Escola de Artes do IBA-RS, enfrentou a profissionalização como artista visual em Porto Alegre. Como uma das fundadoras da Associação Francisco Lisboa demonstrou tanto a necessidade de formação superior do artista como a busca da socialização por meio de associações, grupos e núcleos de artistas visuais. Uma das suas obras – é a “Cabeça” com a técnica de pastel seco -  62 x 50 cm - que consta na Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre.
PETTINI Ana Luz e KRAWCZYK, Flávio Pinacotecas ALDO LOCATELLI e RUBEN BERTA:  acervo artístico da Prefeitura de Porto Alegre - Porto Alegre : Pallotti, 2008, 216 p.il color
 Assim, Judite Fortes o concluiu o Curso Superior da Escoa de Artes do IBA-RS em 1922[1], tendo ingressado em 1916[2]. Exerceu o papel de professora substituta em várias ocasiões  e de membro das bancas de final de ano. Em dezembro de 1938 ela deve ter enfrentado um sério problema profissional no IBA-RS, pois o seu nome foi preterido na cadeira de Anatomia Artística[3]  face ao de Luiz Maristany de Trias[4]. Mas o fato parece que não a indispôs contra o IBA-RS, pois em 1942 estava contribuindo com uma obra sua[5] para construir o prédio do Instituto. Ela mantinha um curso de desenho na frente a sede do Instituto para a preparação do vestibular[6].  Júlia Netto Felizardo ingressou na Escola de Artes em 1922. Ela foi da turma e da série dos pintores Francisco Brilhante e José de Francesco. Júlia concluiu a Escola em 1927. Na exposição do ano de 1928 conquistou distinção[7]. Edla Hofstätter da Silva iniciou, em 1930, os seus estudos na Escola de Artes e formando-se no Curso Superior em 1934.


[1] - Relatório do ano de 1916 de Libindo Ferrás
[2] - Relatório do ano de 1916 de Libindo Ferrás
[3] - Judite Fortes se inscreveu no dia 10 de dezembro de 1938 para concorrer para docente da cadeira de Anatomia Artística.   Livro-Caixa (borrador) do Instituto . Dia 10.12.1938.
[4] -  Luiz Maristany de Trias  (1885 -1964) também se inscreveu no mesmo concurso para a mesma cadeira. Não há registro da realização do concurso. Contudo Trias ocupava a cadeira de Anatomia Artística, desde o dia  06 de junho de 1938, conforme  Offício nº 353, acompanhado de 2ª via do contrato” que lhe foi remetido com essa data. Livro nº 1 do protocolo do I.B.A iniciado em 28.4.1936, p. 24. . O certo é que Maristany de Trias continuou a lecionar a disciplina de Anatomia Artística,  enquanto o nome de Judith Fortes não consta mais, depois disso, na relação de docentes do Instituto.
[5] - Catálogo da Grande Exposição de Belas Artes – Março de 1942.
[6] - Depoimento oral da ex-aluna do Curso de Artes Plásticas do IBA-RS,  Cecília Zingano Amaral, ao pesquisador .
[7] - Na lista dos formando do Instituto entre os anos de 1916 até 1961 ao lado do  nome de Júlia Netto Felizardo está anotado: ‘Aprovada c/distinção. Foi-lhe conferido o Prêmio  de uma medalha de prata pelos seus trabalhos apresentados em 1928 (Composição Decorativa)


Fig. 08 – Nas relações associativas pode-se afirmar que João Fahrion ilustra bem o fato de que uma classe se forma, e se mantém unida, pelo trabalho em comum dos seus membros.
O autorretrato de João Fahrion é um índice de suas predileções pelo grafismo e uso desta linguagem para demonstrar a sua capacidade para expressar estados psicológicos. Estas suas predileções e competências lhe foram proveitosas para a indústria gráfica. Evoluiu do ensino  e das técnicas gráficas do antigo Instituto Parobé no qual Giuseppe Gaudenzi conseguiu instalar os mais modernos equipamentos da época, para depois seguir para a editora Globo na qual esta capacidade deixou marcas em ilustrações de livros e periódicos. Em 1937, com o desaparecimento de Francis Pelichek, foi o seu sucessor natural nas aulas de Desenho da Escola de Artes depois Curso Superior de Artes Plásticas do IBA-RS.


Não há registro disponível se essas ex-alunas exerceram um papel diferenciado no grupo. A Associação não gerou uma linha de pesquisa, nem se definiu por uma estética identificadora do grupo. O grupo não manteve uma estrutura burocrática administrativa,  e muito menos investiu em bens ou sede[1] do grupo. Isso seria impossível pelo tipo de associação proposta e as possibilidades materiais do grupo. Esse fato dificulta uma recuperação e documental continuada, além de jornais, eventuais catálogos de exposições ou visões pessoais em entrevistas com membros  de diversas épocas dessa associação.


[1] -  Conforme Scarinci, (1982, p. 111) em 1945 houve a promessa do governo do Estado de uma sede, o que não se concretizou.

GIUSEPPE GAUDENZI (1875-1966) -  in Boletim do Instituto CES n. 027  - em 15.02.201
Fig. 09 – Pela mediação de Pedro Weingärtner foi possível, para a Escola de Engenharia selecionar e contratar o italiano Giuseppe Gaudenzi  para o seu Instituto Técnico Parobé. Esta se radicou em Porto Alegre, em 1909, ao longo do proveitoso governo de Carlos Barbosa Gonçalves (1851-1933) e de Cândido José de Godoy (1858-1946),  seu Secretário de Obras e Fazenda e professor na Escola de Engenharia. O Instituto Parobé foi pensado, nas suas origens, como verdadeiro Liceu de Artes e Ofícios. A capital do Estado, no projeto presidencial do Estado de 1908 até 1913, foi pensada como metrópole digna deste nome. A vinda de técnicos superiores e a formação de mão de obra qualificada necessária para  estes projetos nas mais variadas áreas superiores. Esta vinda e formação propiciavam as bases para a formação de núcleos, grupos e associações de artistas visuais a altura deste projeto civilizatório mantido pelo médico Carlos Barbosa e o Engenheiro Godói, formado, com louvor, pela “École nationale des ponts e chaussées” de Paris” atualÉcole des Ponts ParisTech -ver site - http://www.enpc.fr/ -

Na Associação Francisco Lisboa havia dois discípulos de Giuseppe Gaudenzi (1875–1966) do Instituto Parobé, sendo um João Fahrion (1898-1970) e o outro João Faria Vianna (1905-1975). Fahrion já era professor do Instituto, para o qual ele fora chamado no dia 24 de agosto de 1937[1], substituindo Francis Pelichek falecido em 01.08.1937[2]. Romano Reif era professor e toreuta estabelecido no bairro operário Navegantes de Porto Alegre[3].


[1] - ‘Officio nº 182 remetendo proposta de contrato Prof. João Fahrion” encaminhado a Reitoria da UPA em 24.08.193  Livro nº 1 do protocolo do I.B.A iniciado em 28.4.1936 p.11
[2] - “OffÍcio nº 175 communicando fallecimento do Prof. Pelichek’ remetido à Reitoria da UPA em    04.08.1937  Livro nº 1 do protocolo do I.B.A. iniciado em 28.04.1937, p. 11
[3] - Romano Reif, como toreuta foi responsável inúmeros quadros de formatura em diversos estabelecimentos de ensino da época, identificados com a assinatura ‘ROMANO’ que escolas tradicionais da época ostentam em Porto Alegre. Ele é  nome de Biblioteca Pública na Vila do IAPI de Porto Alegre. A inovação de Romano que permanece no final do século XX é uma firma (Madelâmina –Bairro Navegantes) que comercializa chapas aglomeradas sintéticas, como prolongamento de sua oficina de marcenaria Sua filha Margarida Reif, foi aluna do Instituto, formou-se em escultura com o prof. Fernando Corona.

Fig. 10 – Guido Fernando Mondin (1921–2000)  foi uma das lideranças provenientes do ambiente do 4º Distrito de Porto Alegre e com intensa vinculação social, política e estética do Poder Originário deste industrioso bairro de Porto Alegre. Um dos fundadores da  Associação Francisco Lisboa, praticou a arte da Pintura ao longo de toda a sua existência. Na condição de Senador e de Ministro do Governo, aproveitou para compor, em Brasília, com os seus conterrâneos, uma instituição destinada a recolher, estudar e divulgar a cultura sul-rio-grandense em todas as suas dimensões e identidades.

Do mesmo bairro vinham Gastão Hofstätter (1917-1986) e Guido Fernando Mondin. Gastão era da equipe de Ernest Zeuner (1895-1967) da Editora do Globo. Mondin tornou-se político, eleito senador da republica e ministro de Estado, sem renegar a pintura e o seu bairro de origem[1]. José Rasgado Filho ilustrou a Revista Máscara em 1925 com o pseudônimo ‘Stellius’ e expos desenhos no Salão de Outono de 1925 de Porto Alegre[2]. Gustav Epstein enviou, ao salão do IBA-RS de março de 1942, uma aquarela intitulada ‘Vista do Quintal–Copacabana’ contribuindo com os artistas do Rio de Janeiro na construção do prédio do IBA-RS[3].


[1] - MONDIN, Guido Fernando. Bairro sem água: reminiscências do 4o  distrito. Porto Alegre : FEPLAN, 1987, p. 188.   Mondin presidiu o Instituto Histórico Geográfico de Brasília – DF -   onde veio a  falecer no dia 18 de maio de 2000.
[2] - Nesse Salão de Outono de  1925 estavam expostos os trabalhos de Judith Fortes e de João Fahrion, A referência a José Rasgado Filho é : “ José Rasgado Filho, o ‘Stellius’ que os leitores de ´Mascara´ admiram, expõe seus expressivos desenhos  Revista Máscara, Porto Alegre, ano VII, nº 7 , jun. 1925 s/p.
[3] Na lista dos fundadores da Associação Francisco Lisboa, que praticam o mesmo gesto altruísta de enviar obras ao Salão do IBA-RS, estão Carlos Scliar, Guido Mondin Filho, João Faria Vianna, Judith Fortes e Júlia Felizardo.

Acervo de Ruy Miranda Falcão 1922-1978 aos cuidados de Ana Cecilia Falcão
Fig. 11 – Sob a liderança de Ruy Miranda Falcão os integrantes da Associação Araújo Porto Alegre, em viagem pelo Brasil, visitam Minas Gerais e, com o apoio do governo, conhecem as obras da Pampulha em Belo Horizonte e inspiram, as suas obras, nas cidades históricas. 

A AAPA mostrava que nessa época a profissionalização em arte era considerada como possível. A resolução do jovem Iberê Camargo, concluinte do Curso Técnico de Arquitetura no IBA-RS, foi tomada, em 1941, ao proclamar ‘vencer ou morrer pela arte[1]. Ele expressava o contexto de confrontos extremos de uma guerra real em andamento. O indivíduo isolado deveria fazer opções reais e definitivas entre forças antagônicas que se materializavam em figuras da fachada  sorridentes, benevolentes e triunfantes. O Estado totalitário apontava o rumo, onde ele incluía a arte. No Brasil, essa política tomou o nome de Gustavo Capanema que na análise de Williams (2000: 251/69) acumulava simultaneamente as funções de administrador, de ideólogo e de mecenas das artes. A reprodução da arte era possível, no rumo que o Estado apontava[2].


[1] - Depoimento informal ao autor de Carlos Petrucci sobre o gesto do seu colega na Secretaria de Obras Públicas do Estado. Petrucci foi enfático em relação a intensidade e a veracidade da  expressão “vida ou morte” que acompanhou  a escolha pela arte realizada por Iberê Camargo.
[2] - Esse rumo, apontado pelo Estado Novo, às vezes trazia consequências dramáticas. Foi o caso da Editora do Globo que quase naufragou devido a um gesto de Gustavo Capanema.  Bertasso escreveu (1993, p. 29) que “em 1942, quando a seção da Livraria do Globo havia chegado ao auge de sua capacidade de publicação de livros nas suas diversas linhas editoriais a empresa foi brutalmente atingida pela reforma de ensino orquestrada pelo ministro da Educação, Gustavo Capanema [ ...] ministro da ditadura Getúlio Vargas, com a melhor das intenções para o ensino brasileiro, por pouco não fez soçobrar a seção da Livraria do Globo encarregada dos livros didáticos”. O ministro, ao mudar  o programa de ensino sem avisar a ninguém, tornou obsoletos praticamente todos os livros didáticos já impressos na Globo, e que tiveram de ser transformados em papel velho, com enormes prejuízos para a empresa.

Acervo de Ruy Miranda Falcão 1922-1978 aos cuidados de Ana Cecilia Falcão
Fig. 12 – Os integrantes da Associação Araújo Porto Alegre trabalharam intensamente contrariando os hábitos do simples turista e da passividade do viajante receptivo. As obras produzidas foram mostradas em Salvador, Belo Horizonte e depois em Porto Alegre.  Um pequeno grupo repetiu este projeto,  em anos sucessivos, e chegaram até Recife onde trabalharam e expuseram (Diário de Pernambuco em 21.02.1952) .

A Associação Francisco Lisboa continuou a sua ação como uma das forças do sistema de artes do Rio Grande do Sul, descobrindo-se nela projeções da teleologia imanente do IBA-RS, na medida em que  esteve sob a orientação de vários dos seus docentes e ex-alunos. A ex-aluna e docente do IA-UFRGS, Marilene Pieta, acompanhou e registrou (1995: 74/5) a ação desses membros do Instituto na Associação Francisco Lisboa onde ela integrou uma das suas diretorias. Num outro estudo (1998) Pieta acompanhou os desdobramentos da e das obras do Grupo de Bagé e cuja ação teve por cenário e repercutiu a partir da capital Porto Alegre. De outra parte não é possível ignorara a ação destemida do “Grupo Bode Preto” tendo a frente o pintor Waldeni Elias (1931-2010) e cujos membros for, objeto de estudo de Pieta (1995) e Scarinci (1982). Na raiz destas expressões de autonomia não é possível ignorar a organização estudantil do Centro Acadêmico Tasso Corrêa (CATC) cuja memória era renovada desde o dia de sua criação no dia 03 de junho de 1932.

Acervo de Ruy Miranda Falcão 1922-1978 aos cuidados de Ana Cecilia Falcão

Fig. 13 – Sob a liderança de Ruy Miranda Falcão os integrantes da Associação Araújo Porto Alegre em viagem pelo Brasil. Rui nasceu em Porto Alegre. Educou-se em Portugal. Dedicou-se profissionalmente ao Design e á sua Casa de Moveis. Veio a falecer em São Paulo num acidente automobilístico
A Associação Araújo Porto Alegre deve-lhe os trâmites oficiais tanto dos seus estatutos, publicação como o seu  registro.  Com este instrumento público em mãos,  pleiteou ajuda oficial dos Estados do Rio Grande do Sul,  Bahia como de Minas Gerais e que recebeu efetivamente. Ao mesmo tempo preparava e divulgava as exposições através de visitas e release dos projetos e obras produzidas na AAPA.  

Surgiram outros grupamentos de artistas plásticos, mais ou menos vinculados ao IBA-RS. Kern estudou (1981: 208-214) a ‘Associação Araújo Porte Alegre’ (AAPA), formada, entre 1948 e 1952, por estudantes de Artes Plásticas, Música e de Arquitetura do IBA-RS[1] e entre 1954 e 1955 a ‘Sociedade de Amigos da Arte’. Scarinci registra (1982: 106) a experiência da Sociedade de Cultura do IBA  (SOCIBA), constituída no aniversário do Instituto em 1953 que  nos documentos do AGIA-UFRGS[2] descobre-se como uma interface entre a instituição e a sociedade civil, aos  moldes de uma “fundação”. A SOCIBA  foi  desativada em 1958, dando  lugar à ‘Associação Cultural dos Ex-Alunos do IBA-RS” [3], que foi responsável pela experiência da Escolinha de Artes do Instituto[4].


[1] - Conferir «Associação Araújo Porto Alegre» in Correio do Povo. Caderno de Sábado. Volume XCVI, ano VIII no 596,  29.12.1979,  pp. 8/10.
Conforme pesquisa de Sérgio Sakikabara a  Associação Araújo Porto Alegre foi inscrita no Registro Civil de Pessoas Jurídicas de Porto Alegre na folha 19 sob o número de ordem 900 no livro A número 3 no Registro de Documentos com Protocolo 50022 no livro nº 4 em 02 de abril de 1948 com assinatura de Othelo Rosa

[2] -  Atas da SOCIBA Sociedade de Cultura do Instituto de Belas Artes  (22/04/1953 – 1958)  SOCIBA: Programas e estatutos   - 1953 - 1958 -  
[3] - Entrevista informal com o autor, em 17.12. 2001, com Iara de Mattos Rodrigues que estagiou na Escolinha de Artes do Rio de Janeiro de Augusto Rodrigues, financiada pela Associação de Ex Alunos do IBA-RS.

[4] - Além dos diversos textos pedagógicos produzidos por  Iara Mattos Rodrigues, para conhecer os vínculos institucionais da Escolinha de Arte, mantida pela Associação Cultural dos Ex-Alunos do Instituto de Artes da UFRGS, pode-se compulsar o processo  dirigido ao Reitor Tuiskon Dick e que recebeu o n.o 23078.028061/91-44 no Protocolo Geral da UFRGS no dia 24.06.1991 as 11h24min.


Acervo de Ruy Miranda Falcão 1922-1978 aos cuidados de Ana Cecilia Falcão
Fig. 14 – Os integrantes da Associação Araújo Porto Alegre almoçam em Salvador na Bahia. Com a fidalga acolhida pessoal do governador Mangabeira e coerentes com o projeto do seu secretario Anísio Teixeira, tiveram tempo para uma imersão no patrimônio material e imaterial  da Primeira Capital do Brasil. Esta outra realidade e distinta da sua cultura também mostrou contrastes que Vitório Gueno um dos integrantes da AAPA publicou jocosa e respeitosamente na  Revista do Globo, ano XIX, nº439,  22.05.1948, pp.49-51 .


Ninguém pode separar a cultura erudita ou intuitiva do Rio Grande do Sul da cultura artística associativa Brasileira. Estes grupos projetaram, para o seu tempo e seu lugar, a energia que unia os artistas da corte de Napoleão Bonaparte e que se juntaram na Missão Artística Francesa que chegou ao Brasil em 1816. Estas ações possuem valiosas valorosas associações brasileiras. No Império  a Sociedade Propagadora de Belas Artes, criada em 2 de novembro de 1856, deu origem a Liceu de Artes e Ofícios. Este ideal de Francisco Joaquim Bithencourt da Silva (1831-1911) gerou um movimento associativo que persiste até os dias atuais. Também no Império São Paulo teve o LICEU de ARTES e OFICIOS em 1873 e que contínua.

ENO Vitório BAHIA - Porto Alegre: Revista do Globo, ano XIX, nº439,  22.05.1948, p.49
Fig. 15 – O artista Vitório Ghenno integrou a caravana da AAPA para a Bahia e Minas Gerais no verão de 1948. No retorno publicou uma reportagem gráfica, na Revista do Globo, relativa aos hábitos do povo baiano. Destacou o contraste ente o mundo da alta burguesia e a forma como a classe popular interagia e enfrentava esta barreira. Estas imagens são uma ilustração gráfica atualizada e localizada das ideias de Gilberto Freire e Sérgio Buarque em relação á cultura e a forma de a criatura humana brasileira transformar suas contradições em complementariedades

Estes grupos de artista brasileiros prosperaram na esteira aberta pelos Grêmios políticos republicanos. Multiplicaram-se pelo país graças aos novos meio de comunicação mundial e no paradigma das associações de outros continentes agora mais acessíveis. A formação e manutenção destas associações brasileiras de artistas se intensificaram e tomaram vigorar especial com a efetiva instalação do regime republicano.

A SOCIEDADE BRASILEIRA de BELAS ARTES tomou corpo em 1910 na então capital politica. Ali também surgiu, em 12 de junho de 1931, o Núcleo Bernardelli, logo após a Revolução de 1930.

Fig. 16 – A progressiva verticalização e estreitamento da ambiente do poder na Escola Nacional de Belas Artes - cuja Congregação defenestrou o jovem diretor Lúcio Costa - levou os estudantes a buscar terreno, limites e poder próprio por meio da associação que levou o nome de Núcleo Bernardelli.  Núcleo mais coerente com as condições econômicas, mais próximas das origens destes jovens candidatos á artistas visuais no Brasil fazia pela sua arte o que a Revolução de 1930 tinha feito pelas armas e coerentes com a politica educacional e cultural que ela implantou na universidade brasileira para todo território nacional. O Rio Grande do Sul recebeu, deste Núcleo,  o paulista Ado Malagoli que, além da Pintura 'Stricto Senso' no INBA-RS, desenvolveu a política do Museu de Arte do Rio Grande do Sul que leva o seu nome 

Um grupo de jovens começou a se reunir no edifício Santa Helena, no centro de São Paulo,  logo após a Revolução de 1930. Este grupo tomou o nome do prédio e muitos deles era descendentes de imigrantes italianos. O escritor, músico e esteta Mario de Andrade chamou a atenção para estes jovens, suas obras e propostas.

Fig. 17 – As associações, grupos e núcleos de artistas visuais proliferaram no Brasil inteiro. Muitas vezes, premidos pela pressa e pela compulsão - do fazer pelo fazer - não calculam as circunstâncias e principalmente as contradições econômicas, políticas e sociais paranecessitam energia para transformá-las em complementariedade, É o que parece ter acontecido com a Associação Rio-grandense de Belas Artes (ARBA) presidida por Ângelo Guido. Não se localizou muito da ARBA criada em 1936, antes do Estado Novo  (1937-1945). Uma das contradições talvez mais plausíveis seja o fato de o Presidente da ARBA ter sido um dos agentes da DIP do Estado Novo e trabalhar profissionalmente no como crítico e cronista de Arte no Diário de Notícias de Assis Chateaubriand.


Em Porto Alegre a Associação Rio-grandense de Belas Artes estava ativa em 1936 e sob a presidência de Ângelo  GUIDO GNOCHI, (1893 -1969) com a participação e logo desenhado por de Francisco BELLANCA, (1895–1974) primeiro estudante de Curso Superior da Escola de Artes do IBA-RS, seu professor autor dos escudos heráldicos dos município de Porto  Alegre e de Passo Fundo.

Com a retomada da autonomia do IBA-RS da Universidade de Porto Alegre as ações grupais se estenderam sociedade adentro. Um destes instrumentos foi a organização de Salões de Belas Artes.

Fig. 18 – Por mais contradições, limitação de circulação de poder, de inteligência e de logística adequada, os salões bienais das academias provocaram reações iguais e contrárias. Com este estímulo despertavam sentimentos, ações e obras que as questionavam direta ou indiretamente. Com o IBA-RS -  na autonomia da Universidade de Porto Alegre - retomou esta tradição europeia que iniciou na Itália, ganhou forma na França e se irradiou com a Era Industrial nas suas feiras locais, nacionais e internacionais. Muitas vezes a origem da Associação Francisco Lisboa busca a sua raiz contra o IBA-RS e os seus salões. Porém se aproximando e deixando de lado qualquer centelha de intriga, é possível perceber que este cartaz, de 1939, é da autoria de João Fahrion, um dos fundadores, em 1938, da Chico Lisboa.


A partir de 1947 a ideia da UNIVERSIDADE das ARTES a concepção de um Museu de Artes ganhou corpo. Esta ideia se concretizou em 1954 a partir da  contratação pelo IBA-RS  de Ado Malagoli (1908 -1994) antigo membro de Gripo Bernardelli. Em 1958 o 1º Congresso de Brasileiro de Artes e a realização do 1º Salão Pan-Americano de Artes reforço a ideia e foi aprovado a moção em direção à constituição do Ministério das Artes.

Nos limites também é necessário ressaltar que para as competências das associações, clubes e núcleos de artistas sul-rio-grandenses pouco significa a sua projeção para culturas de outros estados e muito menos para fora do país. O mesmo pode ser dito do inverso. As projeções, de fora para dentro, de culturas, mesmo as hegemônicas são pouco proporcionais, correntes e fecundos. As ruínas das missões jesuíticas talvez sejam uma das numerosas e melhores ilustrações da inutilidade e frustração trazida por estes projetos exógenos, implantados por um voluntarismo incoerente e a revela do Poder Originário local.

Para as associações, grupos e núcleos de artistas visuais são tão danosos a mitificação de uma autonomia caricata, como a sua naturalização primária pela procrastinação da solução do problema da coerência entre competências e limites. A autonomia, reduzida ao maniqueísmo entre os extremos da solidão e da multidão, provoca a mesma esterilidade desde a origem de associações, de grupos e de núcleos de artistas visuais.

Existem infinitas divisões no contínuo da prática da autonomia.  A autonomia do artista não constitui a busca do solipsismo, pelo que viu acima. De outra parte a autonomia - conceituada como competências e limites – potencializa o contínuo da sua energia interna que se expande nos limites de um grupo. A autonomia potencializa as suas competências na medida em que elas são comuns para múltiplos agentes deste grupo de dentro. Este “ser comum” também não significa mesmice na arte. Ao contrário: “o artista produz para o seu concorrente” na concepção de Pierre Bourdieu. Serve a metáfora da torcida num jogo no qual o torcedor é alguém que gostaria de estar em campo, jogando para o seu time.

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Entrevista por e-mail e matérias iconográficos com:

Ana Cecilia Falcão 3ª filha de Ruy Miranda Falcão.



FONTES  NUMÉRICAS DIGITAIS das IMAGENS e TEXTOS  CITADOS.



ACADEMIA BRASILEIRA de BELAS ARTES




ARAÚJO PORTO-ALEGRE, Manuel -  1808-1879




ASSOCIAÇÕES REPUBLICANAS




Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa

CHICO  LISBOA





ASSOCIAÇÂO ARAÚJO PORTO -ALEGRE - AAPA




AUTONOMIA




AUTONOMIA distinta de SOBERANIA




CLUBE de GRAVURA de PORTO ALEGRE




Francisco Joaquim Bithencourt da Silva




GRUPO SANTA HELENA


http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=marcos_texto&cd_verbete=338




GRUPO VÉRTICE




GUIDO MONDIN e o 4º DISTRITO de PORTO ALEGRE




LICEU de ARTES e OFÍCIOS de São Paulo




LICEU de ARTES e OFICIOS do Rio de Janeiro




NÚCLEO BERNARDELLI





ORIGENS do INSTITUTO de ARTES da UFRGS




SÊNECA: SOLIDÃO e MULTIDÃO





SOCIEDADE BRASILEIRA de BELAS ARTES RJ - 1910-




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